Ao tomar conhecimento dos
grandes avanços na área da Inteligência Artificial (IA), não fui das pessoas
mais entusiastas. Obviamente que entendi a potencialidade dessa tecnologia para
o futuro da humanidade. Talvez eu tenha um resquício traumático da adolescência,
época em que assisti o filme "2001: uma odisseia no espaço", que
tinha como vilão o supercomputador HAL 9000, o qual era dotado de inteligência
artificial tão avançada que lhe tornou capaz de possuir sentimentos e, acabou
desenvolvendo paranóia, colocando em risco a missão dos astronautas e suas
próprias vidas, precisando ser sacrificado (desligado), não sem grande
relutância e imposição de obstáculos.
O imaginário popular, os livros e filmes de ficção
científica, sempre tiveram como um ingrediente muito frequente, o avanço da
tecnologia até o ponto em que ela se volta contra a humanidade. Essa
preocupação não é algo apenas da população leiga, importantes cientistas também
se preocupam com os rumos que essa revolução tecnológica pode tomar. A classe
trabalhadora vem perdendo empregos para o avanço tecnológico a séculos. Na
segunda década do século XIX, o movimento Luddista invadia fábricas e quebrava
máquinas alegando que estas causavam desemprego. Até aqui, os postos de
trabalho mais ameaçados eram os trabalhos menos qualificados (braçais),
substituídos por robôs e máquinas semi-autônomas.
A IA avança agora
sobre os postos de trabalho qualificados, pois são gigantescas as
possibilidades de sua utilização. A verdade é que os trabalhadores
especializados que não forem num futuro próximo diretamente afetados com a
perda de emprego para a IA, terão que aprender a trabalhar com ela, afinal, o
mundo não será mais o mesmo. Nos escritórios de contabilidade, de advocacia ou
de engenharia, nas salas de aula, nas cabines de aviões, caminhões e
automóveis, nos sistemas de controle de tráfego aéreo, etc., enfim, é difícil
pensar em algo que não possa ter o emprego direto ou indireto da Inteligência
Artificial.
E essa revolução está em curso, as empresas já estão
adotando essa tecnologia e, milhões de trabalhadores pelo mundo estão se
capacitando nesse nicho promissor, mas que traz preocupações, afinal, o que
será da classe trabalhadora? Como poderá o capitalismo sobreviver sem uma
grande classe trabalhadora, portanto, consumidora dos produtos que ela própria
produz? Essas são perguntas que acompanham a humanidade a cada novo salto
tecnológico. Neste momento histórico, outra questão vem se juntar: o que será da
classe média, detentora tão somente do capital intelectual?