Lembro que em um dia
qualquer, nos meus primeiros anos como professor, cerca de uma década após o
fim da longa noite em que se constituiu a ditadura militar (1964-1985), no
exato momento em que lecionava sobre o tema da democracia, eis que em uma
demonstração de democracia e cidadania, manifestantes passaram em marcha, na
rua da escola, cantando palavras de ordem. Imediatamente convidei os estudantes
a irem até as janelas da sala, com o fim de observarem o movimento e, frisei
que na ditadura, o povo não tinha voz, era silenciado, líderes sindicais e de
movimentos sociais eram presos, torturados e, até mesmo, mortos.
O início da Nova República foi um tempo em que a
sociedade buscava saciar sua ânsia por liberdade, direito de expressão e,
desejava a todo o custo, salvaguardar a democracia e viver dias melhores. Hoje
temos políticos, influencers, jornalistas e artistas que defendem uma
democracia com nova roupagem, que, apresenta, no entanto, um design bem antigo.
É o design do autoritarismo, da plutocracia, da aristocracia, das oligarquias,
travestido de democracia. Seu discurso, hipócrita e manipulador, convence os
incautos, pois, é pretensamente arvorado em valores morais para seduzir as
camadas populares.
O falecido (aqui não cabe saudoso, para não soar falso de
minha parte) ex-governador Jaime Lerner, durante seu governo (1995-2003)
construiu uma cerca na praça Nossa Senhora de Salete, no Centro Cívico, em
frente ao Palácio Iguaçu, em Curitiba, a fim de evitar que manifestantes ocupassem
a área, para fazer suas reivindicações. Ao sucedê-lo, o ex-governador Roberto
Requião, mandou retirar as cercas, afirmando que o povo não deve ser impedido
de se manifestar.
Essa é a diferença entre políticos que ocupam o cargo
para bem representar o povo, defendendo a democracia e estimulando a cidadania,
e aqueles que ocupam o cargo por projetos de poder pessoal e/ou de grupos. Os
primeiros derrubam cercas, constroem pontes e pavimentam o caminho da democracia
com os paralelepípedos da cidadania. Os últimos, conscientes que muitas vezes
agem contrariamente aos interesses da sociedade, temem a reação desta, por isso
constroem cercas e barricadas, e, adquirem até mesmo, blindados com canhões
d'água (aqueles popularizados pelas ditaduras), para afastar os manifestantes.
Semeiam o medo, precisam ser temidos, não admirados.
Qual tipo de governador tem o seu Estado? Ele retira cercas ou compra blindados com canhões
d'água?
Nenhum comentário:
Postar um comentário