Há alguns dias, assisti o
filme "Ainda estou aqui" de Walter Salles, baseado no livro de título
homônimo de autoria de Marcelo Rubens Paiva e entendi os motivos de sua
indicação para três categorias do Oscar 2025. Fernanda Torres passa a impressão
de viver a personagem de Eunice Paiva e, não de apenas interpretá-la. Ao final
da exibição, havia muitas pessoas chorando. Eu costumo dizer que sou uma pessoa
com coração de pedra, mas não passei incólume, senti fortemente um nó na
garganta.
A cultura sofreu muito no governo Bolsonaro (2019-2022) e
ressurgiu das cinzas como uma fênix. O filme é um primor e um orgulho, pois é
um produto cultural nacional, cuja excelente qualidade tem levado milhões aos
cinemas no Brasil e no exterior. O tema retratado é pesado, mas a obra
cinematográfica não carrega na dramaticidade, não apela, trata de uma forma
inteligente e sutil. Ao final, um breve texto informa os espectadores que,
embora os criminosos responsáveis pela tortura e morte do ex-deputado federal
Rubens Paiva tenham sido identificados, jamais foram punidos.
O caso Rubens
Paiva, tal como o assassinato de Vladimir Herzog, não puderam ser varridos para
debaixo do tapete, apesar dos esforços dos militares, porém, muitas são as famílias
que, sem ter notoriedade, perderam entes queridos. Defender a ditadura em pleno
século XXI, é algo que somente pode ser feito por mentes/almas degeneradas que
perderam ou nunca tiveram o espírito de humanidade.
Sabemos que a Lei de Anistia (1979) foi invocada toda vez
que se pensou em levar os militares criminosos a julgamento e as Forças Armadas
mostraram seu descontentamento com a Comissão Nacional da Verdade. Lembro que
uma vez conversei com um ex-soldado que afirmou ter ajudado a desmontar um local
utilizado pelo Exército para torturas. A verdade não podia aparecer à luz do
dia, o Brasil e o mundo não podiam tomar conhecimento dos pesadelos que a longa
noite (1964-1985) trouxe aos brasileiros.
A Constituição Federal e o Direito Internacional determinam
que crimes de tortura são imprescritíveis, dessa forma, o Poder Judiciário fez
um desserviço ao país em não levar tais criminosos a julgamento. Os erros do
passado, traduzidos na impunidade relatada, por uma aplicação equivocada da Lei
de Anistia, encorajaram militares e civis em levar à cabo uma tentativa de
golpe em 8 de janeiro de 2023. A Constituição Federal estabelece que ataques ao
Estado Democrático de Direito constitui crime inafiançável e imprescritível. Cumpra-se!
Pelo bem do Brasil: SEM ANISTIA!