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sábado, 22 de fevereiro de 2025

Ainda estou aqui e a Lei de Anistia

 

                Há alguns dias, assisti o filme "Ainda estou aqui" de Walter Salles, baseado no livro de título homônimo de autoria de Marcelo Rubens Paiva e entendi os motivos de sua indicação para três categorias do Oscar 2025. Fernanda Torres passa a impressão de viver a personagem de Eunice Paiva e, não de apenas interpretá-la. Ao final da exibição, havia muitas pessoas chorando. Eu costumo dizer que sou uma pessoa com coração de pedra, mas não passei incólume, senti fortemente um nó na garganta.

            A cultura sofreu muito no governo Bolsonaro (2019-2022) e ressurgiu das cinzas como uma fênix. O filme é um primor e um orgulho, pois é um produto cultural nacional, cuja excelente qualidade tem levado milhões aos cinemas no Brasil e no exterior. O tema retratado é pesado, mas a obra cinematográfica não carrega na dramaticidade, não apela, trata de uma forma inteligente e sutil. Ao final, um breve texto informa os espectadores que, embora os criminosos responsáveis pela tortura e morte do ex-deputado federal Rubens Paiva tenham sido identificados, jamais foram punidos.

             O caso Rubens Paiva, tal como o assassinato de Vladimir Herzog, não puderam ser varridos para debaixo do tapete, apesar dos esforços dos militares, porém, muitas são as famílias que, sem ter notoriedade, perderam entes queridos. Defender a ditadura em pleno século XXI, é algo que somente pode ser feito por mentes/almas degeneradas que perderam ou nunca tiveram o espírito de humanidade.

            Sabemos que a Lei de Anistia (1979) foi invocada toda vez que se pensou em levar os militares criminosos a julgamento e as Forças Armadas mostraram seu descontentamento com a Comissão Nacional da Verdade. Lembro que uma vez conversei com um ex-soldado que afirmou ter ajudado a desmontar um local utilizado pelo Exército para torturas. A verdade não podia aparecer à luz do dia, o Brasil e o mundo não podiam tomar conhecimento dos pesadelos que a longa noite (1964-1985) trouxe aos brasileiros.

            A Constituição Federal e o Direito Internacional determinam que crimes de tortura são imprescritíveis, dessa forma, o Poder Judiciário fez um desserviço ao país em não levar tais criminosos a julgamento. Os erros do passado, traduzidos na impunidade relatada, por uma aplicação equivocada da Lei de Anistia, encorajaram militares e civis em levar à cabo uma tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023. A Constituição Federal estabelece que ataques ao Estado Democrático de Direito constitui crime inafiançável e imprescritível. Cumpra-se! Pelo bem do Brasil: SEM ANISTIA!

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Qual tipo de governador tem o seu Estado?

 

            Lembro que em um dia qualquer, nos meus primeiros anos como professor, cerca de uma década após o fim da longa noite em que se constituiu a ditadura militar (1964-1985), no exato momento em que lecionava sobre o tema da democracia, eis que em uma demonstração de democracia e cidadania, manifestantes passaram em marcha, na rua da escola, cantando palavras de ordem. Imediatamente convidei os estudantes a irem até as janelas da sala, com o fim de observarem o movimento e, frisei que na ditadura, o povo não tinha voz, era silenciado, líderes sindicais e de movimentos sociais eram presos, torturados e, até mesmo, mortos.

            O início da Nova República foi um tempo em que a sociedade buscava saciar sua ânsia por liberdade, direito de expressão e, desejava a todo o custo, salvaguardar a democracia e viver dias melhores. Hoje temos políticos, influencers, jornalistas e artistas que defendem uma democracia com nova roupagem, que, apresenta, no entanto, um design bem antigo. É o design do autoritarismo, da plutocracia, da aristocracia, das oligarquias, travestido de democracia. Seu discurso, hipócrita e manipulador, convence os incautos, pois, é pretensamente arvorado em valores morais para seduzir as camadas populares. 

            O falecido (aqui não cabe saudoso, para não soar falso de minha parte) ex-governador Jaime Lerner, durante seu governo (1995-2003) construiu uma cerca na praça Nossa Senhora de Salete, no Centro Cívico, em frente ao Palácio Iguaçu, em Curitiba, a fim de evitar que manifestantes ocupassem a área, para fazer suas reivindicações. Ao sucedê-lo, o ex-governador Roberto Requião, mandou retirar as cercas, afirmando que o povo não deve ser impedido de se manifestar.

            Essa é a diferença entre políticos que ocupam o cargo para bem representar o povo, defendendo a democracia e estimulando a cidadania, e aqueles que ocupam o cargo por projetos de poder pessoal e/ou de grupos. Os primeiros derrubam cercas, constroem pontes e pavimentam o caminho da democracia com os paralelepípedos da cidadania. Os últimos, conscientes que muitas vezes agem contrariamente aos interesses da sociedade, temem a reação desta, por isso constroem cercas e barricadas, e, adquirem até mesmo, blindados com canhões d'água (aqueles popularizados pelas ditaduras), para afastar os manifestantes. Semeiam o medo, precisam ser temidos, não admirados.

            Qual tipo de governador tem o seu Estado?  Ele retira cercas ou compra blindados com canhões d'água?

           

 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

O voo da vespa

 


        O leitor assíduo dessa coluna já foi apresentado a Ken Follett (1949) por meio da resenha do livro "O buraco da agulha", sua obra de estreia e que foi adaptada para o cinema com o mesmo título. Este é o segundo livro que leio do autor, que é para mim, grata satisfação. Não sei dizer, qual das duas obras citadas é a melhor, nem me atrevo, ambas são excelentes. Follett tem um grande conhecimento sobre a história da Segunda Guerra Mundial e possui um talento narrativo que prende o leitor à trama de seus livros. A sensação é a de estar vendo um filme projetado diretamente em sua mente.

            Em "O voo da vespa", Follett discorre sobre os bombardeios noturnos realizados pela Inglaterra contra as posições alemãs na Europa Ocidental ocupada, os quais ocorrem com grande perda de pilotos e aeronaves. Um piloto sobrevivente relata a Digby Hoare, conselheiro do premiê Winston Churchill que os alemães pareciam saber onde eles estavam, aguardando-os para abatê-los. Os países aliados estavam desenvolvendo o radar, não sabiam se a Alemanha tinha essa tecnologia e, precisavam descobrir um meio de sofrer menos perdas.

            Na Ilha de Sande (Dinamarca) as famílias Olufsen e Flemming tiveram uma desavença, por conta de uma denúncia do patriarca Olufsen contra o patriarca da família Fleming. Seus filhos, que haviam crescido juntos, não mais conviviam. Arne Olufsen, filho mais velho, era piloto de avião e namorava Hermia Mount, uma espiã inglesa. Peter Flemming com quem compartilhou a infância, se tornou um policial inescrupuloso, violento e ávido por escalar celeremente degraus na carreira. Arne é tranquilo, correto e sensato. Hermia é uma moça linda disposta a correr qualquer risco para ajudar seu país a derrotar o nazismo.

            Harald Olufsen, o filho mais novo (18 anos), é um prodígio, estuda pilotagem, quer combater os alemães, porém, a Dinamarca, ocupada, coopera com o regime nazista. Harald se junta à resistência. Faz um desenho de uma instalação secreta que viu em sua terra natal, a Ilha de Sande, que se supõe ser uma base de radar. Hermia pede que Arne fotografe a base alemã. Harald, se prontifica a fazer a missão, vai à noite e fotografa as instalações. Peter Flemming encontra vestígios e começa a seguir os irmãos. Harald encontra um avião Hornet Moth guardado, sem funcionar a muito tempo. Harald é um excelente mecânico e com sua namorada Karen que sabe pilotar, planejam cruzar o Mar do Norte e entregar as fotografias na Inglaterra, antes que os policiais cheguem.

Sugestão de boa leitura:

 

Título: O voo da vespa.

Autor: Ken Follett.

Editora: Arqueiro, 2017, 416 p.