Li o livro Feliz Ano Velho
do jornalista, escritor, e dramaturgo Marcelo Rubens Paiva (1959), no ano de
seu lançamento (1982), quando tinha recém entrado na adolescência. A obra teve
grande impacto na minha vida. Eu costumava ganhar apostas (uma coca-cola) na
natação e, alguns de meus adversários diziam, "isso não é um piá, é um
peixe". Um dos hábitos que abandonei, foi o "pontaço" em rios e
piscinas rasas. Havia desenvolvido uma técnica de pular e no momento que o corpo
tocava a água, curvava-o retornando à superfície, evitando o choque com o fundo
raso.
A obra, trata dentre outros temas, do acidente sofrido
pelo autor aos vinte anos de idade, quando ao mergulhar em um lago de águas
rasas e com pedras no fundo, bateu sua cabeça, quebrando a quinta vértebra
cervical e ficando inicialmente tetraplégico. Lembro que dizia ter aprendido um
monte de palavrões e gírias com a leitura do livro, porém, ao reler, vejo que
não há nele, nada que eu não ouça dos estudantes, e concluo que eu era mesmo muito
juvenil. Também descobri a origem de uma frase que costumo dizer à pessoas
próximas, em seus momentos de atribulações, "não esquenta, senão caspa
vira mandiopã", quando então me perguntam: o que é mandiopã? Mandiopã é um
salgado frito semelhante a batata chips "Pringles", mas cuja matéria
prima principal é fécula de mandioca. E, claro, a batata "Pringles" é
melhor!
O autor discorre, como disse, sobre o acidente que
transformou-se num marco temporal da sua vida (antes/depois). Comenta fatos e
momentos pitorescos vividos, seja com amigos ou com as garotas que paquerou,
namorou, ficou, e também sobre seu pai, o deputado Rubens Paiva (1929-1971)
preso, torturado e morto nos porões da ditadura militar (1964-1985). Fala sobre
esperança contra todos os prognósticos em contraponto com os assaltos de angústia
e desesperança momentânea. O escritor, à época saudado por seus amigos pela
coragem ante o demorado, caro e sofrido tratamento, afirma que não se vê como
modelo para ninguém, muitos estão na mesma situação, todos vítimas do
infortúnio. Com o tempo, aprendeu a não ligar para os olhares curiosos ou de
compaixão, que buscava evitar, não saindo em locais públicos. Marcelo Rubens
Paiva se conscientizou, que sua vida será diferente daquela vivida até então,
sobre isso, não há o que fazer, mas que havia muito a conquistar na busca do
maior grau possível de independência pessoal, essa é a sua permanente luta e
objetivo.
Sugestão
de boa leitura:
Título: Feliz
Ano Velho.
Autor: Marcelo
Rubens Paiva.
Editora: Alfaguara,
2015, 272 p.