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quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Dicunt me divitem esse, pauperem autem

 

            Há muito tenho observado a estupefação dos estudantes quando afirmo ser pobre, eles discordam, afinal em sua limitada visão da estratificação de classes e da distribuição da renda no Brasil, consideram que a pessoa que tem uma casa e um carro, mesmo que financiados em longas prestações, é rica. Explico-lhes que sou pobre, pois não sou possuidor dos meios de produção (terras, indústria, comércio, etc.), e nem tenho aplicações financeiras que me permitam viver de renda. Digo-lhes que desde a juventude e por todos os dias, até que alcance a hoje longínqua aposentadoria, terei que obrigatoriamente vender minha mão de obra para conseguir ganhar a sobrevivência, pois todo ser humano, assim que chega ao mundo, os boletos a pagar lhe acompanham, inicialmente são pagos por seus pais, porém um dia, todos têm que tomar a direção de suas vidas.

            Lembro que em uma escola particular na qual trabalhei, algumas alunas de famílias abastadas não gostavam quando questionado sobre minha condição socioeconômica respondia ser pobre. Na época tive a percepção que desagradava-lhes a ideia de seu professor ser pobre, pois os colegas bolsistas (pobres) eram por elas discriminados. Elas me corrigiam e afirmavam que eu era da classe média. Nunca gostei de ser chamado de integrante da classe média. Assino embaixo a afirmação da filósofa Marilena Chauí (1941) quando disse: "A classe média é uma abominação política porque é fascista; é uma abominação ética porque é violenta; e é uma abominação cognitiva porque é ignorante". Karl Marx (1818-1883) afirmou que o capitalismo possui apenas duas classes, a classe burguesa (detentora dos meios de produção) e a classe proletária (que vende sua mão de obra), qualquer outra classificação é mera cortina de fumaça.

            Tenho uma camiseta que adoro usar e cuja frase é "Era tão pobre, mas tão pobre, que só tinha dinheiro". Quando vou à escola com ela, muitos são os estudantes que não entendem seu significado. Tenho que lhes explicar que há várias formas de ser pobre. A pessoa pode ser pobre de conhecimento científico, de cultura, de educação, de solidariedade, de respeito, de generosidade, de espiritualidade, etc.

            Tergiversações à parte, fiquei curioso em saber qual renda uma pessoa deve ter para ser considerada rica. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV) a renda mensal deve ser de R$ 27 mil. A pesquisa constatou que apenas 1% da população alcança tal renda. Ainda de acordo com a pesquisa, os super ricos possuem renda mensal de R$ 95 mil. Dois milhões de brasileiros são ricos e 203 mil são super ricos.

P.S. Se você ficou curioso quanto ao título deste artigo, trata-se de uma afirmação em latim sobre este escriba cuja tradução é "dizem que sou rico, porém sou pobre".

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