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segunda-feira, 9 de setembro de 2024

O mundo pós-americano

 


O cientista político Fareed Zakaria nasceu em 1964 na Índia, estudou em Yale e doutorou-se em Ciência Política em Harvard. Na orelha de sua obra “O mundo pós-americano” consta que é editor da Newsweek International e que nesta revista mantém uma coluna semanal sobre assuntos internacionais, além de ter um programa da Rede CNN de Televisão. Zakaria seguiu os passos de vários de seus conterrâneos, pois, na Índia como em vários países do mundo subdesenvolvido, a “fuga de cérebros”, ou seja, a ida de jovens promissores dos países pobres para estudar em importantes instituições do mundo desenvolvido, especialmente nos Estados Unidos, e dentre estes, os mais talentosos acabam recrutados a permanecer e desta forma contribuir para o engrandecimento daquela nação que chama a atenção mundial, por vezes, pelo que há de mais odioso e repugnante, noutras, pelo brilhantismo inovador.

             Zakaria nasceu no país, cuja população à exceção da estadunidense é que mais admira o país iankee. Em nenhum outro país os ideais estadunidenses impostos pelo Big Brother Sam foram tão bem recebidos e assimilados. O sonho de grande parte dos jovens indianos é conseguir uma bolsa de estudos numa grande e famosa instituição estadunidense de Ensino Superior para fazer a graduação ou a pós-graduação. A maior parcela destes jovens retorna à Índia e aplica os conhecimentos adquiridos em benefício do país que juntamente com o Brasil, a Rússia, a China e a África do Sul formam o grupo de países emergentes conhecidos como BRICS. Apesar do título “O mundo pós-americano”, Zakaria, logo na primeira linha à página 11, esclarece: “este livro não é sobre o declínio dos Estados Unidos da América, mas, sobre a ascensão de todos os outros países”.

            E em toda a obra o autor, apesar de indiano de nascimento demonstra grande assimilação da cultura e modo de pensar estadunidense e, por vezes, tem-se a impressão de que pensa e escreve como um indiano, noutras, como um estadunidense de nascimento. Como exemplo, e fortemente discordando de sua opinião, Fareed menospreza o poder bélico da China, talvez, pela dupla influência cultural indo-estadunidense ao afirmar que a China não teria poder suficiente para bombardear com artefatos nucleares mais do que a costa estadunidense e que o país asiático teria apenas cerca de 50 mísseis nucleares, esquecendo-se que a China já colocou um astronauta no espaço e que possui submarinos nucleares nas proximidades daquela potência que dispensam os mísseis de longo alcance, porém, mesmo estes, são estimados pelos especialistas em geopolítica em um número entre mil e dois mil mísseis armados com ogivas nucleares de alto poder, quantidade suficiente para riscar a vida humana do planeta.

            Zakaria também possui uma interpretação nitidamente estadunidense dos fatos acerca da Venezuela e do Irã e coloca ambos os países no status de pária, no entanto, quem conhece a história e a estudou com distanciamento científico entende a razão destas nações nos seus posicionamentos e concorda com a maioria das opções por elas adotadas, mas, isso é algo que não está acessível na Grande Mídia, que nada mais é do que um forte instrumento a serviço do Imperialismo. Fareed evidencia o grande crescimento econômico de várias nações do planeta nas duas últimas décadas e dá especial atenção aos países emergentes que constituem o grupo de países subdesenvolvidos cujo resgate do anonimato e ascensão ao protagonismo no palco dos debates da governança global se deu pela crescente importância econômica e política, pois, já não é mais possível gerir o planeta sem consultá-los.

             O autor em sua obra relata feitos grandiosos de tais países na área da educação, da inclusão social, do avanço tecnológico e na construção de uma infraestrutura interna mais elaborada e funcional. Afirma que a história humana é marcada por três mudanças: A ocidentalização do mundo; a ascensão dos Estados Unidos; e, a ascensão do resto. O livro discorre sobre o que esperar deste mundo em gestação e o que esperar dos Estados Unidos e ao se referir à história, aponta que os Estados Unidos podem agir como a Inglaterra que tentou minar o desenvolvimento de novas potências na Europa e reinar absoluta, iniciativa em que fracassou, ou agir como o chanceler alemão Bismarck e fazer alianças e estreitar laços de cooperação. O autor aponta caminhos para a governança estadunidense nesse novo tempo. Penso que somente o tempo dirá, mas, a impressão até aqui é que os governantes daquele país têm bastante sangue inglês nas veias.

Sugestão de boa leitura:

Título: O mundo pós-americano.

Autor: Fareed Zakaria.

Editora: Companhia das Letras, 2008, 312 p.


 

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Dicunt me divitem esse, pauperem autem

 

            Há muito tenho observado a estupefação dos estudantes quando afirmo ser pobre, eles discordam, afinal em sua limitada visão da estratificação de classes e da distribuição da renda no Brasil, consideram que a pessoa que tem uma casa e um carro, mesmo que financiados em longas prestações, é rica. Explico-lhes que sou pobre, pois não sou possuidor dos meios de produção (terras, indústria, comércio, etc.), e nem tenho aplicações financeiras que me permitam viver de renda. Digo-lhes que desde a juventude e por todos os dias, até que alcance a hoje longínqua aposentadoria, terei que obrigatoriamente vender minha mão de obra para conseguir ganhar a sobrevivência, pois todo ser humano, assim que chega ao mundo, os boletos a pagar lhe acompanham, inicialmente são pagos por seus pais, porém um dia, todos têm que tomar a direção de suas vidas.

            Lembro que em uma escola particular na qual trabalhei, algumas alunas de famílias abastadas não gostavam quando questionado sobre minha condição socioeconômica respondia ser pobre. Na época tive a percepção que desagradava-lhes a ideia de seu professor ser pobre, pois os colegas bolsistas (pobres) eram por elas discriminados. Elas me corrigiam e afirmavam que eu era da classe média. Nunca gostei de ser chamado de integrante da classe média. Assino embaixo a afirmação da filósofa Marilena Chauí (1941) quando disse: "A classe média é uma abominação política porque é fascista; é uma abominação ética porque é violenta; e é uma abominação cognitiva porque é ignorante". Karl Marx (1818-1883) afirmou que o capitalismo possui apenas duas classes, a classe burguesa (detentora dos meios de produção) e a classe proletária (que vende sua mão de obra), qualquer outra classificação é mera cortina de fumaça.

            Tenho uma camiseta que adoro usar e cuja frase é "Era tão pobre, mas tão pobre, que só tinha dinheiro". Quando vou à escola com ela, muitos são os estudantes que não entendem seu significado. Tenho que lhes explicar que há várias formas de ser pobre. A pessoa pode ser pobre de conhecimento científico, de cultura, de educação, de solidariedade, de respeito, de generosidade, de espiritualidade, etc.

            Tergiversações à parte, fiquei curioso em saber qual renda uma pessoa deve ter para ser considerada rica. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV) a renda mensal deve ser de R$ 27 mil. A pesquisa constatou que apenas 1% da população alcança tal renda. Ainda de acordo com a pesquisa, os super ricos possuem renda mensal de R$ 95 mil. Dois milhões de brasileiros são ricos e 203 mil são super ricos.

P.S. Se você ficou curioso quanto ao título deste artigo, trata-se de uma afirmação em latim sobre este escriba cuja tradução é "dizem que sou rico, porém sou pobre".