Joaquim Maria
Machado de Assis (1839 - 1908) foi um escritor brasileiro, considerado por
muitos críticos, estudiosos, escritores e leitores, o maior nome da literatura
brasileira. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta,
romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista e crítico
literário. Testemunhou a abolição da escravatura e a mudança política no país
quando a República substituiu o Império, além das mais diversas reviravoltas
pelo mundo em finais do século XIX e início do século XX, tendo sido grande
comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época. (WIKIPEDIA).
Traiu ou não traiu? Essa é uma
brincadeira costumeiramente feita a pessoas que apreciam a literatura em nosso
país. Afinal, é brasileiro, gosta de literatura e não leu Dom Casmurro de
Machado de Assis, certamente há algo errado. Dom Casmurro, a obra aqui
resenhada, foi publicada originalmente em 1899. Trata-se de uma obra magistral
do autor, infelizmente marcada negativamente nas memórias de muitos estudantes
que, devido a sua imaturidade devido a idade e a pouca experiência literária,
se viram ante uma obra clássica, mais indicada para pessoas mais experientes na
vida e na literatura. Dom Casmurro não tem nada de enfadonho, aliás este
escriba, não encontrou até o momento, um livro de Machado (dentre os poucos que
leu) que não apreciasse.
A trama central da obra em questão
discorre sobre a paixão de Bento Santiago e Capitolina narradas pelo
protagonista por meio de um diário. Bento Santiago, afirma ser nascido numa
família rica, detentora de grande número de escravos, grande parte deles
dedicados a atividades "de ganho", ou seja, prestavam serviços à sua
família e também eram arrendados a quem deles precisasse. Dona Glória, a mãe de
Bentinho, teve vários abortos espontâneos e, ansiava ter um filho, dessa forma
prometeu a Deus que caso um filho seu vingasse, faria dele um padre. Eis que
nasce Bento Santiago, um menino com grande saúde. Bentinho ainda era criança
quando seu pai morre. A esposa muda para a cidade e passa a residir ao lado da
casa da família Pádua, cujo patriarca é funcionário público de baixo escalão. O
senhor Pádua é casado com Dona Fortunata e tem com ela uma filha de nome Maria
Capitolina de Pádua.
As duas crianças, vizinhas que são,
passam os dias felizes da infância, brincando juntas. Até que se vêm
adolescentes, momento em que um agregado da família de nome José Dias, chama a
atenção de Dona Glória quanto à proximidade dos dois jovens, tendo em vista que
Capitu está feita moça, aliás uma linda moça e, que ele suspeita que Bentinho é
apaixonado por ela. Bentinho ouve a conversa e, passa a se questionar se está
mesmo apaixonado por Capitu. José Dias, lembra Dona Glória da promessa feita
por ela e, que precisa enviar o filho, o mais rapidamente possível para o
seminário. Bentinho e Capitu se descobrem apaixonados, os pais de Capitu gostam
da ideia da união dos jovens, pois, vêm nela a possibilidade de ascensão social
para a filha. O jovem casal, não demora e troca o primeiro beijo. Bentinho
afirma que Capitu era à época muito mais mulher do que ele era homem. O
obstáculo para a união do casal passa a ser a firme decisão de Dona Glória em
enviar o filho para o seminário. Capitu planeja mil artimanhas para evitar isso,
mas, Bentinho, sem conseguir se opor à mãe, vai para o seminário, mas, com a
firme decisão de que não será padre e em um ano estará de volta.
No seminário, Bentinho conhece
Escobar que passa a ser seu melhor amigo. Escobar concebe a ideia para o livramento
de Bentinho. Sugere que sua mãe adote um órfão e faça dele padre, assim
Bentinho pode se tornar advogado (como gostaria) e se casar com Capitu. A mãe,
convencida da falta de vocação do filho, executa à risca o plano e faz do filho
adotivo, padre. Bentinho e Capitu se casam. Escobar se casa com Sancha, a
melhor amiga de Capitu. A mãe de Sancha, apesar de não ser parente, descontada
a diferença de idade, tem uma incrível semelhança com Capitu. Escobar e Sancha
têm filhos, mas, o filho tão aguardado por Bentinho e Capitu não vem. O amigo
de Bentinho prospera e compra uma casa nas proximidades. As visitas entre os
casais são costumeiras dado que as casas são próximas. Muito tempo se passa até
que Capitu engravida e nasce um menino que recebe o nome de Ezequiel. Em certa
ocasião, Bento vai para casa (fora de horário) e encontra Escobar que o
procurava. O menino cresce, é muito alegre, e tem como uma de suas
brincadeiras, imitar a fala, os gestos e o andar das pessoas. Ao imitar o
principal amigo de seu pai, este se assusta, o menino é uma cópia perfeita de
Escobar. Passa a ver nos traços do rosto, o rosto de seu amigo refletido.
Escobar acostumado a nadar no mar,
ignora os perigos do mar bravio naquele dia e morre afogado. Bento organiza o
funeral, mas, fica enciumado pela tristeza estampada no rosto de sua esposa
ante o corpo do morto no caixão. Sancha se muda para o Paraná com o objetivo de
residir com sua família. Bento faz insinuações acerca de uma possível traição e
de que Ezequiel não é seu filho. Capitu fica indignada com tal afirmação. Bento
envia seu filho para estudar na Suíça juntamente com a mãe para dele cuidar.
Viaja ocasionalmente para a Europa, fingindo visitar a família, algo que não
faz. Capitu escreve cartas apaixonadas para Bento e nunca recebe respostas.
Capitu morre na Suíça, o filho adulto vem ao Brasil e visita o pai. O pai o
recebe e lhe dá dinheiro para uma viagem à Palestina, onde Ezequiel morre e tem
o funeral realizado por seus companheiros de viagem. Seus amigos comunicam a
morte de Ezequiel ao pai.
Dom Casmurro, jamais se casa
novamente, nem por isso, lhe faltaram aventuras amorosas totalmente
descompromissadas. O diário por ele escrito, traz a explicação do apelido que
recebeu, obstinado, teimoso, ranzinza, mau humorado, fechado em si mesmo. O
leitor sabe, que jamais se chega a verdade, lendo/ouvindo uma versão contada
por apenas uma pessoa. É necessário ouvir o outro lado. Mas, a versão de Capitu
não é contada na obra e, Capitu (morta por Machado) não pode falar a partir do
túmulo. A narrativa de Bento é verdadeira? Os fatos assim ocorreram? Ou são
frutos da personalidade doentia de Dom Casmurro? Ele quer convencer
(conscientemente) ou se convencer (inconscientemente)?
A obra de Machado de Assis, não se
resume ao questionamento se Capitu traiu ou não traiu, mas, ninguém passa
incólume a ele. Não há consenso possível entre os leitores da obra, até porque
eles são afetados pela sua experiência literária e também pela sua experiência
com a obra. Além disso, a experiência de vida de cada pessoa também influencia
o julgamento da questão. Soube que, alguns cursos de direito, anualmente fazem
o julgamento de Capitu e, os acadêmicos chegam a resultados diferentes a cada
ano. Houve casos em que a inocência de Capitu foi provada e outros anos em que
a traição o foi. Quanto a mim, chego a conclusão que não sou isento o
suficiente para julgar, seja por minha experiência literária, doutrinária e de
vida e, também pela falta de provas dos autos,
dessa forma concedo à Capitu, o
"In dúbio pro reo".
Sugestão de boa leitura:
Título: Dom
Casmurro.
Autor:
Machado de Assis.
Editora:
Penguin Companhia, 2016, 1ª ed., 400 p.
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