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sábado, 26 de agosto de 2023

Deixa que digam que pensem que falem...

 


Impossível ler o título deste artigo e não lembrar imediatamente do “vovô garotão” Jair Rodrigues (1939-2014). Jair, que de tanto cantar e encantar a todos por onde passava, encantou a si mesmo e não pode mais chorar. Condenado a sempre sorrir, sorrindo viveu. Desfilou pela vida e quando pensávamos que seu sorriso era eterno, repentinamente se foi.

            Por mais que sua obra e seu talento sejam considerados completos, Jair foi um daqueles gênios da música que ouvir cantar nunca era o bastante e, lamentavelmente a cortina do espetáculo baixou e por mais que peçamos bis com aplausos ininterruptos ele não voltará para dar uma palinha, nos deixando a impressão que alguma coisa faltou e também que em termos de música de boa qualidade estamos ficando cada vez mais sós. O andar de cima está cada dia mais reforçado e, muitos dos grandes ícones da música de boa qualidade já estão vivendo o quarto final de suas vidas, penso que não devemos perder oportunidades de assistir seus shows, pois, embora o show deva continuar, o artista inevitavelmente um dia deixa o palco vazio.

            Emociono-me quando assisto a apresentação de Jair Rodrigues no festival de 1966 interpretando “disparada”, genial letra de Geraldo Vandré, o autor da não menos genial “Prá não dizer que não falei das flores”. Ambas as letras tornaram-se hinos cantados pelas multidões, assaltadas que foram, do direito de expressar sua opinião pelos usurpadores da democracia que se instalaram no poder num certo dia 1º de Abril e que fizeram do terrorismo de Estado a ordem do dia. Contra toda a dor e desencanto que um grupo de lunáticos estabelecidos no Poder estavam causando, Jair seguiu cantando, sorrindo e amenizando o sofrimento presente em todo lugar.

            É tarefa difícil escolher uma estrofe de “disparada” para citar neste artigo, pois, “disparada” é toda genialidade e ganhou a eternidade na interpretação inigualável de Jair Rodrigues, pois, embora outros cantores a interpretassem maravilhosamente após 1966, ninguém colocou tanto a alma e o coração nessa letra quanto ele. A música começa pedindo para prepararmos o coração, justamente o coração que levou Jair embora: “Prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar / Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão / Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar / Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar / E a morte, o destino, tudo, a morte e o destino, tudo / Estava fora do lugar, eu vivo prá consertar” e em outra estrofe: “Então não pude seguir valente em lugar tenente / E dono de gado e gente, porque gado a gente marca / Tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente / Se você não concordar não posso me desculpar / Não canto prá enganar, vou pegar minha viola / Vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar”.

            Jair, não teve vida fácil, ralou muito, foi engraxate, mecânico e pedreiro, serviu também o Exército, foi cantor de boate e artista completo desfilou nos palcos da MPB, do samba e até da música sertaneja em que interpretou brilhantemente a música “A Majestade, o Sabiá” cuja composição é de Roberta Miranda.

            Vivemos num tempo em que não são poucas as pessoas que se ocupam mais da vida alheia do que de seus próprios interesses, o que faz com que as pessoas que menos apreciam-nos serem as que mais prestam atenção a tudo o que fazemos, escrevemos e dizemos. É uma triste época, ninguém escapa aos rótulos, se faz algo bom, tem algum interesse embutido nessa boa ação ou quer se aparecer, pois, na mentalidade mercenária que domina a cabeça de muitos, não se concebe que outras pessoas possam pensar diferentemente e agir visando algo que não a satisfação própria. Se defender vigorosamente os fundamentos que balizam o seu pensamento é um radical, e se pensa diferente é um revoltado, mesmo quando aqueles que criticam ingerem senso comum e vomitam reacionarismos fascistoides.

            Para todas as pessoas que sofrem com os rótulos deixo como dica a estrofe inicial de “Deixa isso prá lá” interpretada por Jair Rodrigues. “Deixa que digam / Que pensem que falem / Deixa isso prá lá / Vem pra cá / O que é que tem? / Eu não tô fazendo nada / Nem você também / Faz mal bater um papo / Assim gostoso com alguém?”

 

domingo, 20 de agosto de 2023

Einstein: Sua vida, seu Universo


 Alguns leitores gostam das sugestões de livros que faço neste espaço, então, como acabo de fazer uma leitura muito aprazível, indico a obra “Einstein: Sua vida, seu universo” de Walter Isaacson. Trata-se de uma leitura agradável que conduz a um passeio entre a vida particular e a carreira científica daquele que é considerado o maior gênio da história. Isaacson consegue com grande sensibilidade retratar um Einstein humano com seus problemas de ordem pessoal (familiar e financeira), suas dificuldades para ingressar no meio acadêmico e desenvolver ciência, descreve sua carreira, os acertos e erros e os erros que se converteram em acertos, pois, mesmo quando esteve equivocado Einstein contribuiu para o avanço da Ciência. Com a leitura da obra é possível avistar uma tênue luz no fim do túnel que leva ao entendimento dessa revolução na história da Ciência chamada Teoria da Relatividade.

            O gênio que assombrou o mundo nasceu a 14 de Março de 1879 em Ulm, alemão de nascimento, porém de ascendência judaica, quando criança demorou a falar, foi considerado um garoto idiota por algumas pessoas próximas, mas, quando iniciou seus estudos esteve sempre entre os melhores da turma (ao contrário do que muito se fala a seu respeito). Sempre teve ojeriza à autoridade e dessa forma muitas vezes seu comportamento como acadêmico não era exatamente adequado, por conta disso, adquiriu a antipatia de alguns mestres que dificultaram sua inserção no meio acadêmico como professor universitário.

            Einstein mergulhava cada vez mais na ciência conforme os problemas de ordem pessoal se avolumavam, e apesar de seus esforços desenvolvendo artigos científicos teve que se contentar com o emprego de examinador de patentes do Escritório Federal de Propriedade Intelectual de Berna (Suíça), trabalho no qual, durante as horas vagas em 1905 desenvolveu quatro artigos que se complementavam e davam a certidão de nascimento à teoria da Relatividade Especial afirmando que o tempo e o espaço não eram absolutos colocou a ciência de cabeça para baixo.

            Mudou-se para Berlim, e em 1915 desenvolveu a Teoria da Relatividade Geral, com a confirmação da veracidade de suas teorias em experiências desenvolvidas por outros cientistas tornou-se celebridade mundial, e, realizou palestras itinerantes por vários países cujos ingressos eram disputados e contados aos milhares. Em 1933, o Nazismo ascendeu ao poder na Alemanha e o gênio resolveu aceitar o convite para trabalhar nos Estados Unidos, país no qual viveu o resto de seus dias, foi muito investigado pela CIA, por ser simpatizante do socialismo em plena época da “caça às bruxas” do Macarthismo. Era contra qualquer tipo de opressão e não aceitava o cerceamento da liberdade de expressão e por isso não poupava críticas referente ações dos EUA neste sentido e nem mesmo ao stalinismo soviético, líder pacifista, pregava a desobediência civil quando da convocação para as Forças Armadas, por tudo isso foi muito criticado, sendo considerado um asno por políticos e populares, sendo assim, falou: “Grandes espíritos sempre encontram forte oposição de mentes medíocres”.

            O receio que os nazistas desenvolvessem a bomba levou-o a escrever uma carta para o Governo Estadunidense sobre a necessidade de fabricar a bomba atômica que a ciência por ele desenvolvida tornava possível, porém, nunca participou diretamente do desenvolvimento da arma, por não ser considerado confiável pelas autoridades militares. Após a explosão das bombas em Hiroshima e Nagazaki, fato que considerou lamentável foi questionado por um repórter sobre como seria a Terceira Guerra Mundial, afirmou que “sabia apenas como seria a Quarta Guerra Mundial: com pedras”.

            Até o último dia de sua vida esteve às voltas com as equações buscando entender o Universo e tentando resolver o problema que a criação da bomba atômica ocasionou, defendia a criação de um Governo Mundial para evitar as guerras (o único a ter posse das armas atômicas). O “passageiro do raio de luz” finalizou sua viagem por esta dimensão espaço-tempo de forma absoluta em 18 de Abril de 1955 aos 76 anos, no entanto, sua partida será sempre relativa, imortalizado em sua ciência, seu corpo foi cremado e suas cinzas liberadas no Rio Delaware conforme seu pedido, pois não queria que seu túmulo fosse local de peregrinação. Embora o gênio tivesse algumas vezes falado que não gostava de sua popularidade, isso não correspondia ao seu comportamento, ele adorava repórteres e os repórteres o adoravam. Einstein era pop e gostava disso!

Sugestão de boa leitura:

Título: Einstein: sua vida, seu universo.

Autor: ISAACSON, Walter.

Editora: Companhia das Letras, 2007, 696 pág.

sábado, 12 de agosto de 2023

Na natureza selvagem

 

O livro "Na natureza selvagem: a dramática história de um jovem aventureiro" de Jon Krakauer (1954) deu origem ao filme de título homônimo. Eu, inversamente ao costume, assisti primeiro o filme, gostei tanto que acabei por adquirir também o livro. A obra cinematográfica é muito boa e quem desejar pode adquirir o livro também, pois, vale a pena cada centavo do investimento, isto, se o leitor for admirador de obras que fazem o relato de pessoas que ousam aventurar-se pelo mundo abrindo mão da vida confortável e da segurança que o lar onde moram lhes proporciona.

            Trata-se da história real de Christopher Johnson McCandless (1968-1992), que tendo nascido em berço confortável, nunca lhe faltou nada, para garantir isso, seus pais mergulharam no trabalho de forma incansável dando a ele e sua irmã o conforto material que eles mesmos afirmaram não ter na idade destes, muito embora o tempo escasso fizesse com que nem sempre tivessem tempo para os filhos. Chris era um excelente aluno e atleta de elite, crescera em um subúrbio rico de Washington D.C., formou-se com distinção na Universidade e tinha grande gosto pela leitura e entre seus autores favoritos estavam Tolstoi e Thoureau, os quais muito o influenciaram na sua forma de pensar. Tinha espírito aventureiro, uma vontade muito grande de viajar, conhecer outros lugares, os quais lhe possibilitassem entrar em contato consigo próprio.

            Ainda durante o curso acadêmico fizera algumas pequenas viagens solo, as quais terminavam somente quando do último dia de férias. Como bom filho, procurava não decepcionar os pais e buscava sair-se bem na Universidade, uma obrigação que se impunha diante dos esforços destes. Mas, Chris tinha um grande inconformismo com o mundo, suas leituras reforçaram o seu espírito de simplicidade, julgava errado o modelo consumista que fazia a cabeça da maioria das pessoas, e, suas aventuras tinham também por objetivo fugir da loucura que julgava ser a sociedade e encontrar-se consigo próprio, uma pessoa simples, despojada e principalmente livre.

            Após se formar na Universidade em 1990, Chris doa uma considerável quantia em dinheiro que dispunha para uma instituição de caridade, deixa na casa em que morava um bilhete para a família e desaparece, com seu velho carro, o qual, sempre recusou trocar por outro novo apesar da insistência do pai, pois, em suas palavras este lhe servia muito bem, então, não havia necessidade de trocá-lo, perambula por toda a América do Norte. A família a princípio julgou que a sede de McCandless por aventura logo passaria e ele voltaria para casa como das outras vezes, porém, o tempo foi passando e a família começou a ficar muito preocupada e passou a procurá-lo. Como se desfez de grande parte do seu dinheiro teve que procurar empregos os mais diversos, assim, trabalhou em lojas de fast food e também realizou trabalhos pesados em fazendas para conseguir a subsistência.

            Depois de mais de um ano e meio perambulando pelos Estados Unidos decide viver a mãe das aventuras, aproveitando que seu carro estragou, abandona-o, queima o dinheiro que lhe resta e chega ao Alaska pegando caronas com caminhoneiros e viajantes e de posse de 10 kg de arroz, um livro sobre plantas comestíveis e medicinais, uma espingarda e munição lança-se em território selvagem à espera de sobreviver sem absolutamente nenhum conforto material e longe da sociedade moderna, numa trilha deserta encontra um velho ônibus abandonado e faz dele sua casa, vive ali cerca de três meses, subnutrido e doente, tenta sair para buscar ajuda, mas, o período de degelo não lhe permite atravessar um rio e sem saber que, não muito longe, rio acima, havia uma passagem resolve voltar ao ônibus, onde, lúcido espera seus momentos finais.

            O livro e a obra cinematográfica contam toda a aventura de Chris através de investigações e dos seus próprios registros. McCandless deixou para trás até o próprio nome, pois, sempre se identificava com o pseudônimo Alexander Supertramp, o que dificultou sua localização por parte de sua família que somente ocorre, após mais de dois anos de sua partida, quando enfim seu corpo é encontrado. Uma obra sem dúvida emocionante e que possibilita a reflexão sobre muitos aspectos da sociedade e principalmente de nossas vidas.

Sugestão de boa leitura e de vídeo:

Título: Na natureza selvagem: a dramática história de um jovem aventureiro.

Autor: Jon Krakauer.

Editora: Companhia das Letras, 2018, 216 p.

Vídeo: Na natureza selvagem (EUA - 2007) dirigido por Sean Penn.

 


sábado, 5 de agosto de 2023

Dom Casmurro

 

Joaquim Maria Machado de Assis (1839 - 1908) foi um escritor brasileiro, considerado por muitos críticos, estudiosos, escritores e leitores, o maior nome da literatura brasileira. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista e crítico literário. Testemunhou a abolição da escravatura e a mudança política no país quando a República substituiu o Império, além das mais diversas reviravoltas pelo mundo em finais do século XIX e início do século XX, tendo sido grande comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época. (WIKIPEDIA).

            Traiu ou não traiu? Essa é uma brincadeira costumeiramente feita a pessoas que apreciam a literatura em nosso país. Afinal, é brasileiro, gosta de literatura e não leu Dom Casmurro de Machado de Assis, certamente há algo errado. Dom Casmurro, a obra aqui resenhada, foi publicada originalmente em 1899. Trata-se de uma obra magistral do autor, infelizmente marcada negativamente nas memórias de muitos estudantes que, devido a sua imaturidade devido a idade e a pouca experiência literária, se viram ante uma obra clássica, mais indicada para pessoas mais experientes na vida e na literatura. Dom Casmurro não tem nada de enfadonho, aliás este escriba, não encontrou até o momento, um livro de Machado (dentre os poucos que leu) que não apreciasse.

            A trama central da obra em questão discorre sobre a paixão de Bento Santiago e Capitolina narradas pelo protagonista por meio de um diário. Bento Santiago, afirma ser nascido numa família rica, detentora de grande número de escravos, grande parte deles dedicados a atividades "de ganho", ou seja, prestavam serviços à sua família e também eram arrendados a quem deles precisasse. Dona Glória, a mãe de Bentinho, teve vários abortos espontâneos e, ansiava ter um filho, dessa forma prometeu a Deus que caso um filho seu vingasse, faria dele um padre. Eis que nasce Bento Santiago, um menino com grande saúde. Bentinho ainda era criança quando seu pai morre. A esposa muda para a cidade e passa a residir ao lado da casa da família Pádua, cujo patriarca é funcionário público de baixo escalão. O senhor Pádua é casado com Dona Fortunata e tem com ela uma filha de nome Maria Capitolina de Pádua.

            As duas crianças, vizinhas que são, passam os dias felizes da infância, brincando juntas. Até que se vêm adolescentes, momento em que um agregado da família de nome José Dias, chama a atenção de Dona Glória quanto à proximidade dos dois jovens, tendo em vista que Capitu está feita moça, aliás uma linda moça e, que ele suspeita que Bentinho é apaixonado por ela. Bentinho ouve a conversa e, passa a se questionar se está mesmo apaixonado por Capitu. José Dias, lembra Dona Glória da promessa feita por ela e, que precisa enviar o filho, o mais rapidamente possível para o seminário. Bentinho e Capitu se descobrem apaixonados, os pais de Capitu gostam da ideia da união dos jovens, pois, vêm nela a possibilidade de ascensão social para a filha. O jovem casal, não demora e troca o primeiro beijo. Bentinho afirma que Capitu era à época muito mais mulher do que ele era homem. O obstáculo para a união do casal passa a ser a firme decisão de Dona Glória em enviar o filho para o seminário. Capitu planeja mil artimanhas para evitar isso, mas, Bentinho, sem conseguir se opor à mãe, vai para o seminário, mas, com a firme decisão de que não será padre e em um ano estará de volta.

            No seminário, Bentinho conhece Escobar que passa a ser seu melhor amigo. Escobar concebe a ideia para o livramento de Bentinho. Sugere que sua mãe adote um órfão e faça dele padre, assim Bentinho pode se tornar advogado (como gostaria) e se casar com Capitu. A mãe, convencida da falta de vocação do filho, executa à risca o plano e faz do filho adotivo, padre. Bentinho e Capitu se casam. Escobar se casa com Sancha, a melhor amiga de Capitu. A mãe de Sancha, apesar de não ser parente, descontada a diferença de idade, tem uma incrível semelhança com Capitu. Escobar e Sancha têm filhos, mas, o filho tão aguardado por Bentinho e Capitu não vem. O amigo de Bentinho prospera e compra uma casa nas proximidades. As visitas entre os casais são costumeiras dado que as casas são próximas. Muito tempo se passa até que Capitu engravida e nasce um menino que recebe o nome de Ezequiel. Em certa ocasião, Bento vai para casa (fora de horário) e encontra Escobar que o procurava. O menino cresce, é muito alegre, e tem como uma de suas brincadeiras, imitar a fala, os gestos e o andar das pessoas. Ao imitar o principal amigo de seu pai, este se assusta, o menino é uma cópia perfeita de Escobar. Passa a ver nos traços do rosto, o rosto de seu amigo refletido.

            Escobar acostumado a nadar no mar, ignora os perigos do mar bravio naquele dia e morre afogado. Bento organiza o funeral, mas, fica enciumado pela tristeza estampada no rosto de sua esposa ante o corpo do morto no caixão. Sancha se muda para o Paraná com o objetivo de residir com sua família. Bento faz insinuações acerca de uma possível traição e de que Ezequiel não é seu filho. Capitu fica indignada com tal afirmação. Bento envia seu filho para estudar na Suíça juntamente com a mãe para dele cuidar. Viaja ocasionalmente para a Europa, fingindo visitar a família, algo que não faz. Capitu escreve cartas apaixonadas para Bento e nunca recebe respostas. Capitu morre na Suíça, o filho adulto vem ao Brasil e visita o pai. O pai o recebe e lhe dá dinheiro para uma viagem à Palestina, onde Ezequiel morre e tem o funeral realizado por seus companheiros de viagem. Seus amigos comunicam a morte de Ezequiel ao pai.

            Dom Casmurro, jamais se casa novamente, nem por isso, lhe faltaram aventuras amorosas totalmente descompromissadas. O diário por ele escrito, traz a explicação do apelido que recebeu, obstinado, teimoso, ranzinza, mau humorado, fechado em si mesmo. O leitor sabe, que jamais se chega a verdade, lendo/ouvindo uma versão contada por apenas uma pessoa. É necessário ouvir o outro lado. Mas, a versão de Capitu não é contada na obra e, Capitu (morta por Machado) não pode falar a partir do túmulo. A narrativa de Bento é verdadeira? Os fatos assim ocorreram? Ou são frutos da personalidade doentia de Dom Casmurro? Ele quer convencer (conscientemente) ou se convencer (inconscientemente)?

            A obra de Machado de Assis, não se resume ao questionamento se Capitu traiu ou não traiu, mas, ninguém passa incólume a ele. Não há consenso possível entre os leitores da obra, até porque eles são afetados pela sua experiência literária e também pela sua experiência com a obra. Além disso, a experiência de vida de cada pessoa também influencia o julgamento da questão. Soube que, alguns cursos de direito, anualmente fazem o julgamento de Capitu e, os acadêmicos chegam a resultados diferentes a cada ano. Houve casos em que a inocência de Capitu foi provada e outros anos em que a traição o foi. Quanto a mim, chego a conclusão que não sou isento o suficiente para julgar, seja por minha experiência literária, doutrinária e de vida e, também pela falta de provas dos autos,  dessa forma concedo à Capitu, o "In dúbio pro reo".

Sugestão de boa leitura:

Título: Dom Casmurro.

Autor: Machado de Assis.

Editora: Penguin Companhia, 2016, 1ª ed., 400 p.