Charlotte Perkins Gilman
(1860-1935) foi uma romancista, contista, poetisa e escritora estadunidense.
Charlotte era uma mulher a frente de seu tempo e, já no século XIX empunhava
bandeiras feministas, obviamente, que seu ativismo não pode ser comparado ao do
século XXI, fato que pode deixar algumas ou muitas leitoras de sua obra
desapontadas. É sempre preciso situar a obra e o autor ao tempo de sua vivência
e à sociedade em que está inserido e conceder os devidos descontos. Também quero
lembrar o leitor deste espaço e, que na semana passada leu a resenha sobre o
livro "Terra dos Homens" de Antoine de Saint-Exupéry que a resenha
que agora faço sobre o livro "Terra das Mulheres" constitui mera
coincidência pois, quando já estava com a leitura avançada é que observei tal
fato.
A obra "Terra das Mulheres" de Charlotte
Perkins Gilman enquadra-se no gênero da ficção científica, mais precisamente
como utopia. Utopia diz respeito a uma sociedade perfeita, porém, inalcançável,
por sua vez, a distopia é o inverso, uma sociedade do pesadelo, onde o pior
cenário se materializa. Na trama de "Terra das Mulheres",
surrealmente, o narrador é masculino e vai relatar a expedição que ele (Vandick
Jennings) fez juntamente com seus amigos Terry O. Nicholson e Jeff Margraves a
uma terra onde somente haviam mulheres. As personagens foram a uma região na
qual tomaram conhecimento da lenda acerca de tal terra. Souberam que as pessoas
que foram a tal país das mulheres jamais retornaram. Imbuídos de curiosidade,
municiados com o dinheiro do abastado Terry, porém, descrentes de que uma terra
só de mulheres pudesse existir, dado o fato de que sem homens não haveria
reprodução e, que uma sociedade organizada somente por mulheres jamais seria
algo funcional, os rapazes se alçaram a tal aventura navegando e sobrevoando
com um avião uma terra habitada que resolveram ver de perto, pousando a
aeronave num campo não muito distante.
Inicialmente encontraram três moças lindas e altas, a
curiosidade tomou conta dos dois grupos (visitantes e nativas), porém, elas não
deixaram eles se aproximarem e fugiram. Indo no rumo em que viram a cidade,
acabaram sendo presos por mulheres que estavam em número muito superior. O
cativeiro era, no entanto, bastante confortável, e logo perceberam, que eram
tratados como visitantes, embora sempre vigiados por guardas na faixa dos
quarenta anos, a quem chamavam coronéis. Desde cedo começaram a ter aulas da
língua local ao mesmo tempo em que ensinavam a própria. Não viram e, souberam
pelas mulheres de que não havia homens na sociedade. As mulheres desempenhavam
todas as funções da sociedade, assim, haviam as agricultoras (não haviam
pecuaristas, pois eram veganas), as sacerdotisas, as políticas, as juízas, as
guardas, as educadoras, etc. No país não havia desigualdade social (nem riqueza
ou pobreza) e o sistema socioeconômico baseava-se no cooperativismo. Souberam
que no passado havia homens, mas, que eles morreram nas constantes guerras com
povos vizinhos. O país de mulheres ficou isolado do resto do mundo devido a um
terremoto e as mulheres conseguiam se reproduzir por partenogênese e, dessa
forma só era possível o nascimento de meninas. A maternidade era o momento
máximo das mulheres e todas queriam ser mães (tenha calma leitora, a obra é de
1915). Embora conhecessem pela observação no reino animal o acasalamento sexual
de outras espécies com a finalidade da reprodução, não praticavam sexo, pois,
para elas não havia sentido, afinal eram capazes de se reproduzir sem ele.
Talvez essa forma encontrada pela autora não agrade as leitoras feministas,
mas, propor sexo ou amor entre mulheres no ano de publicação do livro (1915)
era comprar uma briga homérica, que talvez a autora não julgou vantajosa.
Também sabemos, que para a maioria das feministas, um mundo só de mulheres não
é o ideal desejado e, sim a igualdade.
As personagens contam às suas anfitriãs como é a
sociedade de onde vieram, mas sempre evitando dar muitos detalhes, pois se
sentem envergonhados perante mulheres cujo país tudo é limpo, harmônico, organizado
e funcional. Os rapazes se apaixonam pelas moças que encontraram no primeiro
dia e com elas se casam, porém, há um abismo cultural entre eles e elas. As
moças não entendem os motivos para haver relações sexuais entre duas pessoas
que se amam, afinal, não precisam disso para ter filhos. Cada um dos rapazes
tem uma personalidade diferente e, consequentemente age de forma diferente com
sua parceira. As mulheres da sociedade descrita são inteligentes, fortes e
empoderadas e, se você, sabe que um relato foi produzido sobre tal país das
mulheres, concluiu portanto, que na obra o narrador voltou para o seu país. De
que forma isso se deu e muito mais, você poderá saber lendo o livro! Fica a
dica!
P.S. Essa obra inspirou a
criação da personagem Mulher Maravilha das HQ's e das telas de cinema.
Sugestão de boa leitura:
Título:
Terra das Mulheres.
Autor:
Charlotte Perkins Gilman.
Editora:
Rosa dos Tempos, 2018, 256 p.
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