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domingo, 24 de julho de 2022

Os Maias

José Maria de Eça de Queirós (1845-1900), foi um escritor e diplomata português. É considerado um dos mais importantes escritores portugueses. Foi autor de romances internacionalmente reconhecidos tais como Os Maias, O crime do Padre Amaro e Primo Basílio (Wikipédia). A obra aqui resenhada, intitulada "Os Maias" pertence à fase realista do escritor. O leitor deve lembrar de uma adaptação de tal obra produzida e veiculada pela TV Globo. Este escriba à época não assistiu a produção que contou com 45 episódios, portanto nada pode dizer sobre a mesma.

            Devo confessar que o fato de ser um calhamaço fez com que por várias vezes adiasse o início da leitura de tal livro, a exceção disso, tinha grande expectativa sobre a mesma, afinal, trata-se de uma obra de Eça de Queirós. O livro de Eça narra a história de três gerações da abastada família Maia durante o século XIX. A trama perpassa os principais acontecimentos históricos tais como a fuga da família real portuguesa para o Brasil (1808) e a Comuna de Paris (1871). A história se inicia com Afonso da Maia, o avô de Carlos, personagem principal da obra. Eça retrata o cotidiano, os costumes, o pensamento de uma típica família da elite lisboeta daquele século. O livro tem ênfase na terceira geração da família, a do neto Carlos que tem como seu principal amigo João da Ega, personagem esta que é alter ego do próprio Eça de Queirós. Carlos é filho de Pedro da Maia que se casou com Maria Monforte uma brasileira, filha de um comerciante de escravos. Tal união se deu sem a aprovação do avô Afonso. Pedro fugiu com a moça, porém, o casal sempre fez planos para retornar à casa paterna e obter o perdão do pai e a aceitação da união tendo como trunfo o casal de filhos que tiveram.

            Maria Monforte, no entanto, abandona o marido e leva a filha pequena consigo. Procurada por agentes do ex-marido, avisa que a filha havia morrido. Pedro retorna com o menino Carlos e pede desculpas ao pai. Ele estava certo. Não deveria ter se unido à brasileira. Um fato interessante na obra é o de que as personagens brasileiras (homens ou mulheres) não são consideradas confiáveis. Pedro não supera a desilusão e se suicida. O menino Carlos é criado pelo avô Afonso. João da Ega (também de família rica) voltando de viagem internacional se estabelece na casa da mãe e resolve visitar o amigo Carlos que também havia chegado a pouco de uma longa viagem. Os dois rapazes levam uma vida vazia, despreocupada e, bastante agitada no âmbito dos relacionamentos com o sexo oposto, nada, porém a sério. Isso muda quando Carlos conhece uma linda mulher (brasileira) que possuía um passado que não estava à altura da família Maia, afinal, já fora casada, possuía uma filha (Rosa) e já havia sido sustentada como amante por um brasileiro rico.

            Carlos instala secretamente a jovem Maria Eduarda em uma propriedade da família, a fim de que possa com ela conviver enquanto pensa como contar ao avô, porém, preocupado com a decepção que ele teria, é aconselhado por João a manter o relacionamento em segredo, afinal o avô (doente) tem poucos anos de vida pela frente e não deveria desapontá-lo. Dâmaso Salcede, amigo de Carlos, por despeito, faz publicar uma nota difamatória num jornal da imprensa marrom expondo o relacionamento de Carlos com Maria Eduarda. Carlos resolve chamar Dâmaso para um duelo, como este se recusa, João da Ega redige e faz com que Dâmaso copie de próprio punho uma carta de retratação em favor de Carlos. Tal carta expõe ao ridículo o autor da difamação, que, em verdade nada tinha de falsidade. A obra tem ao final uma revelação surpreendentemente trágica.

            A honestidade me cobra, portanto, afirmo que a leitura dessa obra ficou aquém do que esperava. No entanto, procurarei ler outras obras do autor. Ninguém lê o mesmo livro, portanto indico com a ressalva!

Sugestão de boa leitura:

Título: Os Maias.

Autor: Eça de Queirós.

Editora: Garnier, 2021, 529 pág.

 

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Clube da luta

 

Chuck Palahniuk (1962) é um escritor estadunidense de ascendência ucraniana. O seu trabalho mais popular é "Clube da Luta", que foi posteriormente adaptada para o cinema (Wikipédia). Devo dizer que várias vezes peguei o livro nas mãos, mas acabava deixando para outro momento. Não tinha grandes expectativas quanto ao mesmo. E devo dizer que mesmo após sua leitura, não o considero uma peça brilhante da literatura estrangeira, mas, as premissas acerca das quais a obra se desenvolve trazem grande significado filosófico. Como já disse em outras oportunidades, "ninguém lê o mesmo livro". O envolvimento com uma dada obra é sempre algo particular. O nível de interpretação da mesma, idem. Assisti também o filme e devo dizer que ele é uma das poucas exceções à regra de que "os livros são sempre melhores do que as adaptações para o cinema". O próprio autor afirmou que o filme dirigido por David Fincher  e estrelado por Brad Pitt é um aprimoramento de sua obra escrita. Compartilho dessa opinião. O filme é ainda melhor que a obra escrita.

            Como disse, "ninguém lê o mesmo livro", portanto não tenho a pretensão de fazer uma análise definitiva deste, meus parcos conhecimentos filosóficos e a modéstia resultante disso me impedem de tal empreitada. O filme foi indicado apenas para o Oscar de Melhor Edição de Som (2000) o qual acabou levando. A película foi muito criticada e a bilheteria ficou aquém do esperado, mas, particularmente gostei da adaptação, pois elevou a obra escrita a um patamar acima. A personagem principal não tem nome, chamarei apenas de narrador. A intenção do autor foi a de identificá-lo com qualquer pessoa comum da sociedade de consumo de massa estadunidense. Ele tem um emprego entediante no setor administrativo em uma montadora de automóveis. O narrador compensa seu vazio existencial gastando seu dinheiro em móveis de grife para seu apartamento. Não tem namorada e nem amigos. Considera descartáveis todos os relacionamentos, seja com os colegas de trabalho ou com as pessoas que conhece. Tinha como hábito fazer compras de artigos supérfluos e também a faxina de seu apartamento com o intuito de liberar o estresse diário. Ao consultar um médico sobre a insônia que sofria, este se recusa a dar-lhe drogas para dormir e aconselha-o a visitar grupos de apoio à pessoas que sofrem verdadeiramente tais como os de câncer, etc. Este se torna um hábito e um vício, frequenta-os como se doente fosse, porém, passa a se sentir um farsante quando reconhece a personagem Marla Singer que também faz o mesmo (ambos utilizam identidades falsas nestes grupos). Conversa com ela e combinam de não frequentar os mesmos grupos de apoio. Ambos são pessoas que não se ajustam à sociedade e pensam na morte como válvula de escape, porém, Marla está um passo a frente neste quesito.

            Em uma viagem de avião conhece Tyler Durden, a personagem que é o seu exato oposto. Tyler desafia as regras e as leis. É um contestador do sistema capitalista e sabotador contumaz, nem por isso ele é socialista. Trata-se de uma pessoa que deseja se vingar da escravidão do corpo e da mente imposta pela sociedade por meio de atos de rebeldia, de violência e de sabotagem. O narrador que era uma pessoa bastante introvertida torna-se amigo de Tyler e vai morar com ele quando o apartamento em que morava explode. Tyler monta o Clube da Luta (bem somo as regras deste) no qual cidadãos das mais variadas profissões vão e têm como objetivo esmurrar-se uns aos outros, porém de forma organizada, um contra um e uma luta por vez. Durante o dia tais homens exercem suas profissões sem comentar como adquiriram os hematomas e cicatrizes. O Clube da Luta cresce e se espalha por todo os Estados Unidos da América. A obra traz forte crítica à sociedade de consumo de massa (capitalismo), às relações descartáveis da sociedade atual (trabalho, amizades, etc.), também traz uma referência a que o Clube da Luta colocava seus membros em contato com sua verdadeira essência masculina, prejudicada pela educação dos meninos que era levada a cabo por mulheres. Paro aqui para evitar spoilers. Fica a dica da leitura e do filme disponível em vários canais de streamings.

Sugestão de boa leitura:

Título: Clube da luta.

Autor: Chuck Palahniuk.

Editora: Leya, 2012, 272 pág.


segunda-feira, 11 de julho de 2022

On the road: O manuscrito original

 

Largar tudo e sair sem rumo certo, nem data marcada para voltar, é um desejo que povoa a mente de milhões de pessoas, mas, a verdade é que raros são aqueles que levam a termo tal desafio. Muitas são as músicas que falam desse tema e em número ainda maior os livros que sobre esse tema discorrem. São vários os compositores que influenciados por tais obras literárias escreveram letras de músicas concernentes ao tema. Algumas produções cinematográficas uniram obra literária adaptada e tais músicas.

            On the road (na estrada) do escritor estadunidense Jack Kerouac (1922-1969) é a bíblia da geração Beat. A geração Beat segundo a Revista Mundo Estranho tinha como características: a intensidade em tudo, seja no estilo narrativo, nos temas, nos personagens; a escrita compulsiva e o fluxo de pensamento desordenado, caótico¹. A geração Beat foi o embrião do movimento hippie e surgiu do cansaço de tais artistas e intelectuais perante um mundo todo regrado surgido no período da Segunda Guerra Mundial. Tratava-se de um movimento de contracultura. Vários elementos remanescentes do movimento hippie se denominavam Beatniks, dentre eles o maior nome sem dúvida é o de John Lennon (1940-1980) que se inspirou no movimento Beat para dar nome à sua banda Beatles².

            On the road foi originalmente traduzido para o português (brasileiro) por Eduardo Bueno (Peninha). Peninha afirma que o livro mudou sua vida e que chegou a refazer a viagem feita pelas personagens Sal Paradise, Dean Moriarty, Marylou, etc. É importante que se diga que Sal, possivelmente é o alter ego do próprio Jack Kerouac. Afinal, o engajamento profundo e a vivência das experiências levado ao extremo para depois contá-las em obras literárias são as características principais do movimento a que Kerouac fazia parte.

            Sal (Jack) viajou de leste para oeste dos Estados Unidos da América, com uma mochila nas costas e quase nenhum dinheiro. Pedia e ganhava caronas na carroceria de caminhões e também em carros de passeio. Algumas vezes tinha que contribuir no rateio do combustível. O objetivo de tal viagem era conhecer a si próprio, largando a vida convencional para ter uma experiência "mística" e assim tentar entender o significado da existência humana. No caminho, o objetivo era fazer tudo aquilo que desse vontade, sem ligar para moralismos e muitas vezes nem mesmo para a lei. Dessa forma pequenos furtos, direção perigosa no trânsito, álcool, drogas e sexo livre e desprotegido faziam parte da rotina de tais viajantes. A obra de Kerouac ganhou adaptação para o cinema de Walter Salles em 2012, a qual considerei boa, pois já havia lido o livro e sabia o que esperar. Talvez não funcione tão bem para quem não leu.

P.S. Tendo lido demasiados elogios para a obra literária, minha expectativa ficou muito alta, tanto que comprei a obra física para a minha biblioteca e digital para a leitura. Após a leitura, considero que se trata de um bom livro, mas, aquém do que esperava. Talvez eu apanhe por falar isso (risos)!

Sugestão de boa leitura:

Título: On the road: O manuscrito original.

Autor: Jack Kerouac.

Editora: L&PM, 2011, 464 pág.

 

Referências:

1. https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-foi-a-geracao-beat/ - acesso em 04 de Julho de 2022.

2. https://pt.wikipedia.org/wiki/Gera%C3%A7%C3%A3o_beat - acesso em 04 de Julho de 2022.

 

 


segunda-feira, 4 de julho de 2022

Declínio de um homem

 Osamu Dazai (1909-1948) é considerado um dos maiores escritores da literatura japonesa do século XX. Ele é conhecido por seu estilo de escrita irônica e pessimista. É também um expoente na literatura do estilo Watakushi shosetsu, que se trata de romances escritos na primeira pessoa do singular e nos quais são incorporados elementos autobiográficos. O autor também ficou conhecido por sua obsessão com o suicídio, traço marcante em seus livros e também em sua vida, visto que tentou o suicídio por diversas vezes até que no dia 13 de junho de 1948, juntamente com sua última mulher (Tomie Yamazaki) propositadamente lançou-se ao canal Tamagawa no qual ambos vieram a morrer afogados (Wikipédia).

            Antes de qualquer observação acerca da obra se faz necessário dizer que a leitura do livro "Declínio de um homem" possui gatilhos emocionais e que não é aconselhável para pessoas sensíveis ao tema (suicídio). A obra é um clássico da literatura japonesa, contendo elementos autobiográficos. A personagem principal é um jovem chamado Yozo que é na verdade alter ego de Osamu Dazai.

            Na obra, a personagem Yozo lê os registros que fez em três cadernos sobre sua vida e as dificuldades que encontrou no trato com as demais pessoas. Por meio da personagem Yozo, o autor expõe muitas das fraquezas e medos que o acompanharam em sua curta vida. Yozo (tal como Dazai) é um sujeito muito reflexivo sobre o sentido da vida. Desastrado, depressivo e com um sentimento de inadequação para a convivência em sociedade, porém com necessidade de aceitação, Yozo (então na escola) incorpora uma personagem na qual finge ser extrovertido e brincalhão sendo portanto o palhaço da turma, quando sua alma é apenas tristeza.

            O jovem Yozo rompeu com sua família, passou por dificuldades extremas, virou mendigo e passou a pedir esmolas. Algumas pessoas lhe ajudaram pagando o aluguel para que saísse das ruas. No trabalho, não consegue se relacionar bem com seus colegas. Yozo não possui nenhuma autoconfiança, especialmente com as mulheres das quais tem verdadeiro temor quando com elas precisa entabular conversas. Apesar disso, Yozo é considerado por estas um rapaz de uma beleza diferente, frágil, mas que não passa despercebida. Mesmo com seu pouco jeito com as mulheres, estas nunca lhe faltaram, talvez pelo contexto do país no qual grande parte da população masculina estava mobilizada para as atividades militares japonesas. No entanto, as mulheres buscam em Yozo a mera satisfação de seus desejos carnais momentâneos.

            A vida de Yozo tem a marca da degradação. Ele se entrega aos vícios cuja manutenção seu trabalho não é capaz de manter se valendo de recursos amealhados junto a algumas mulheres com quem se relaciona. O vício do alcoolismo destrói a sua saúde e a compulsão sexual que sacia sendo um assíduo frequentador de bordéis drena seus parcos recursos. A degradação da vida de Yozo é tamanha que ele acaba sendo internado numa instituição de doentes mentais, quando então ele descreve a situação de alguns destes e considera que não deveria estar lá. Yozo tem alguns poucos momentos iluminados, no entanto, sua vida é vazia de significado, como se ele tivesse sido enviado ao mundo por engano, pois, sente que este mundo não é o seu lugar. Fica a dica!

 Sugestão de boa leitura:

Título: Declínio de um homem.

Autor: Osamu Dazai.

Editora: Estação Liberdade, 2021, 152 pág.