A obra "Um certo Capitão
Rodrigo" faz parte da trilogia "O tempo e o vento" do escritor
gaúcho Érico Veríssimo (1905-1975). Publicada separadamente, no entanto, é
encontrada no volume 1 (O Continente). Caso o leitor tenha lido a trilogia ou o
volume citado, trata-se da mesma trama lá encontrada. A obra "O tempo e o
vento" ganhou duas apresentações audiovisuais: a série de 1985 com
Tarcísio Meira (1935-2021) no papel de Capitão Rodrigo e o filme de 2013 cujo
referido papel foi protagonizado pelo ator Thiago Lacerda. Particularmente,
prefiro a versão de 1985. A trama tem inspiração nos fatos históricos do tempo
nela retratado, dentre estes a Guerra da Cisplatina (1825-1828) e a Revolução
Farroupilha (1835-1845), mas não é de forma alguma uma obra histórica.
Em "Um certo Capitão Rodrigo", a trama se
inicia com a chegada do Capitão Rodrigo ao fictício povoado de Santa Fé no ano
de 1828. A referida personagem tem uma personalidade bastante caricata,
fanfarrão, mulherengo, aventureiro, porém generoso. Rodrigo é festeiro e alegre
e busca a felicidade nas coisas simples do dia a dia. O povoado de Santa Fé tem
poucos habitantes, é um lugar pacato e, Rodrigo ao nele chegar não é bem recebido.
Sua farda e fanfarronice causa ojeriza aos locais. Logo na chegada arranja
confusão com Juvenal Terra que o chama para briga, Rodrigo então pede desculpas
e diz que não está a fim de briga. Juvenal diz para ele que não deve esquentar
assento em Santa Fé, pois, ali o povo é ordeiro, pacífico e não gosta de sujeitos
que tirem o sossego do lugar. Afirma para ele que ali nada há para o seu estilo
de vida, pois, as mulheres ou são casadas ou para se casar, sendo todas sérias. Rodrigo fala que gostou
das paisagens do local, que pode ficar um pouco ou quem sabe o resto da vida. E
diz que quando enjoar ele pega seu cavalo e como chegou, vai embora.
O Capitão Rodrigo se aloja em um quarto na venda do
Nicolau. Rodrigo, mulherengo, logo começa a dormir com Paula (a esposa deste)
quando ele não se encontra em casa. A personalidade de Rodrigo quebra o sossego
do local, as moças por sua vez se encantam por sua beleza. A família Amaral é a
mais poderosa da localidade e, em Santa Fé eles ditam as regras. Era dia de
Finados, quando Rodrigo chegou a Santa Fé e, no cemitério conhece Bibiana, a
filha do melancólico e racional Pedro Terra. Bibiana é irmã de Juvenal. O
Capitão Rodrigo encanta-se com a moça de 22 anos, que resiste há anos as
investidas de Bento Amaral, filho do Coronel Amaral, poderoso mandatário do
povoado. Conforme ficou sabendo da chegada de Rodrigo, o Coronel Amaral
solicitou ao Padre Lara que avisasse-o que devia seguir seu caminho, pois não
era do interesse da comunidade a sua permanência. Rodrigo pede ao Padre Lara
para que consiga um encontro com este. O Padre Lara é um religioso que embora seja
benquisto pelo povo não ousa contrariar a elite local. Rodrigo vai à casa do
coronel com o intuito de conseguir o consentimento para a sua permanência, pois
não deseja confusão e ir embora está fora de cogitação dada atração que sente
pela filha de Pedro Terra. Ele que jamais levou moça alguma a sério, passa a
afirmar que a terá como mulher, mesmo que para isso precise com ela se casar.
No povoado todos, inclusive sua própria família, atestam
que Bibiana muito se parece com sua avó Ana Terra, pois tem o mesmo gênio. O
pai não gosta de Bento Amaral, por isso, jamais fez pressão para que ela com
este se casasse, porém, via em Rodrigo o oposto do que desejava para a sua
filha. Ver sua filha casada com Rodrigo era ainda pior do que vê-la casada com
o rico herdeiro do Coronel Amaral, pelo menos com este ela teria conforto e um
marido presente. Em seu ver, Rodrigo era um aventureiro e mulherengo
incorrigível que após encher ela de filhos, em um dia qualquer a
abandonaria sem lhe dar satisfações e
seguiria sua vida errante. Bibiana, no entanto, que jamais almejou se casar,
apaixonara-se por Rodrigo. Não demorou e a discórdia se instalou entre os dois
pretendentes à mão de Bibiana. Bento Amaral desafia Rodrigo para um duelo. Rodrigo
prontamente aceita. Com local e hora marcado, bem como escolhidos as armas e os
padrinhos de cada lado. Rodrigo faz seu testamento oral (para o caso de vir a
falecer) e diz que em sua família (os Cambarás) nenhum Cambará macho levou
desaforo para casa. Disse ainda que nenhum Cambará macho morreu na cama, todos
morreram jovens, seja nas batalhas ou em duelos e, que também ele não almeja
chegar à velhice. Paro aqui para não dar spoiler, muito havia o que falar da
referida obra, porém não quero estragar o prazer da descoberta na leitura.
Sugestão
de boa leitura:
Título: Um certo Capitão
Rodrigo.
Autor: Érico Veríssimo.
Editora: Companhia das Letras, 2005, 1ª edição, 192 pág.
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