O genial escritor irlandês
Oscar Wilde (1854-1900) afirmava que sempre que alguém tenta esgotar um
assunto, esgota também a paciência do leitor. Ciente disso, peço desculpas por
uma vez mais trazer a temática retratada no título. Peço que considere o fato
de ser este humilde escriba sofredor de distúrbios psicológicos que o cobrariam
pela omissão de aspectos relevantes. Prometo também que na próxima edição mudarei
o tema de nossa conversa. Como aqui já disse, "em uma guerra, a primeira
vítima é a verdade". A guerra entre Rússia e Ucrânia segue o script, ou
seja, é uma guerra de narrativas. Denúncias de crimes de guerra contra a Rússia
foram feitas e, com uma agilidade imprudente, pelo Ocidente foram chanceladas como
verdadeiras, apesar de carecerem de investigação. A Rússia, por sua vez, acusa
a Ucrânia de montar cenários e produzir provas falsas com o intuito de posar
como vítima e conseguir apoio internacional. Afirma ainda que a Ucrânia utiliza
a população civil como escudo de proteção de alvos militares daquele país.
A Rússia acusou os EUA de
colaborar com a Ucrânia em experimentos de armas biológicas conforme
vestígios encontrados nesta última. A Rússia também acusa a Ucrânia pela forte
presença de grupos nazistas no aparato estatal, especialmente no setor militar
após o golpe de 2014. O que chama atenção é como as denúncias ucranianas sobre
crimes de guerra da Rússia são logo acatadas como verdade incontestável pelo
Ocidente. Engana-se quem pensa que essa guerra de narrativas tem como origem
apenas os países beligerantes. A mídia ocidental está engajada como sempre na
disputa da hegemonia do discurso, algo que faz eficientemente. A Rússia reclama
de uma campanha ocidental na semeadura da russofobia nas mentes da humanidade.
É impossível se chegar à verdade sem ouvir os dois lados de uma contenda. Não
por acaso, a mídia russa foi banida das redes sociais do mundo ocidental.
Nunca um país sofreu tantas sanções econômicas como a
Rússia. O que estranha é que outros países que promoveram conflitos (internos
ou externos) e comprovadamente cometeram crimes de guerra passaram incólumes. A
OTAN, em especial, os Estados Unidos da América são exemplos disso, porém,
acusam a Rússia de atos que também praticaram nos conflitos onde se envolveram.
Como popularmente se fala: "é o sujo falando do mal lavado". Os EUA
tem uma longa lista de crimes de guerra, podemos citar como exemplos, o
bombardeio de inocentes com as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki (ato
impiedoso ímpar na história da humanidade), o bombardeio com armas químicas no
Vietnã, o apoio e colaboração com ditaduras sanguinárias na América Latina
durante a Guerra Fria e, recentemente, as torturas praticadas contra
prisioneiros em Abu Ghraib (Iraque) e em Guantánamo (possessão estadunidense em
Cuba). Os Estados Unidos jamais foram punidos por seus crimes de guerra, da
mesma forma, nações imperialistas europeias que promoveram genocídios na
colonização do continente americano, africano e asiático. Se poderá falar que à
época da colonização, não havia tribunais internacionais, no entanto, nem
depois da sua criação após a Segunda Guerra Mundial isso acontece. É verdadeira
a frase do escritor inglês George Orwell (1903-1950) quando disse: "a lei é para todos, mas, alguns são mais
iguais que os outros".
Qualquer pessoa minimamente esclarecida, já percebeu que
a contenda entre Ucrânia e Rússia é de grande interesse para os EUA e a OTAN.
Ela propiciou às potências ocidentais uma oportunidade de ouro para promover o
estrangulamento econômico da Rússia e, assim enfraquecer tal país e consequentemente
atingir a aliança com a China. Como já disse, o pano de fundo do conflito na
Ucrânia é a disputa pela hegemonia mundial. O Ocidente a quer manter no
Atlântico ante os indícios de que ela tende a migrar para o Pacífico (China -
Rússia). Fala-se até na possibilidade de que o BRICS que constitui até o
presente momento um grupo informal de discussão e cooperação entre Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul possa a vir formar uma aliança militar nos
moldes da OTAN. A se efetivar tal intento, o Brasil teria que optar em
estreitar laços com estes países, o que desagradaria os Estados Unidos da
América e a Europa. Estreitar ainda mais os laços econômicos com o grupo seria
muito bom, porém, no campo militar a situação se complica, pois, teria que
romper com sua histórica política de neutralidade. A iniciativa esbarra ainda
no histórico de conflitos territoriais entre China e Índia, embora, esta última
tenha criticado as sanções impostas à Rússia e tenha afirmado que poderá
realizar compras da Rússia em rublos se esta assim solicitar.
Encerro dizendo, que os direitos humanos são universais
e, as penalidades da lei internacional deveriam ser aplicadas a todos. Líderes
nazistas alemães foram corretamente levados a julgamento em tribunais
internacionais, o presidente estadunidense Harry Trumann (1884-1972) que
autorizou o lançamento de bombas atômicas sobre o Japão, não. É óbvio que
poderoso como é, os Estados Unidos não permitiria. É utópico pensar que nações
poderosas e seus líderes paguem por seus crimes contra a humanidade. Mas é um
objetivo que deve ser perseguido. O mecanismo de funcionamento da ONU, em
especial, do Conselho de Segurança precisa ser revisto. O combate à desinformação
e à manipulação ideológica midiática é necessária e urgente. Um mundo melhor se
faz com pessoas esclarecidas e críticas!
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