O filósofo holandês Baruch
Spinoza (1632-1677) afirmou que "A paz não é mera ausência de guerra. É
uma virtude, um estado mental, uma disposição para a benevolência, confiança e
justiça". Essa frase resume o que faltou aos líderes europeus e
estadunidenses após o fim da Guerra Fria, afinal, a beligerância dos discursos
foi sempre na contramão do que o bom senso e a inteligência recomendavam para
aquele momento. Também não se pode ser ingênuo, afinal, como disse o estrategista
Carl Von Clausewitz "a guerra é a continuidade da política por outros
meios". E a política que sempre
norteou e norteia o pensamento europeu e estadunidense é o imperialismo.
Vivemos um tempo surreal, a narrativa (opinião) vale mais
do que o fato (real) em si. É preciso dizer também o óbvio. Digo então, (por
mais ridículo que pareça precisar dizê-lo), que sou pacifista e concordo com o
general estadunidense Norman Schwarzkopf, comandante da Operação Tempestade no
Deserto quando disse: "Nenhuma pessoa sendo verdadeiramente inteligente
pode ser a favor da guerra". Digo isso, porque em várias oportunidades ao
explicar as razões que levaram à Rússia a tomar a trágica decisão
beligerante demonstrando as minhas
críticas ao papel desempenhado pelos EUA e pela OTAN, pessoas pensaram que eu
tinha um posicionamento favorável à Guerra, o que não corresponde a verdade.
Lembremos que "numa guerra, a primeira vítima é a
verdade" (autoria desconhecida). A
Guerra na Ucrânia está sendo uma guerra de narrativas, sendo que a mídia russa
está sendo censurada e proibida de circular nos países ocidentais. Importantes
meios de comunicação russos foram proibidos no Facebook e no You Tube e isso é péssimo para a
informação e para a democracia, afinal jamais se chega a verdade sem ouvir os
dois lados conflitantes. Trata-se de uma agressão ao público que ouve apenas um
lado (mídia ocidental), o qual não por acaso coincide com os interesses das
potências ocidentais. Sobre isso o linguista, filósofo, escritor e ativista político
estadunidense Noam Chomsky professorou: "O propósito da mídia não é o de
informar o que acontece, mas sim de moldar a opinião pública de acordo com a
vontade do poder dominante".
Em uma guerra
sabemos, o poder da narrativa é tão importante quanto o poderio militar. A
Alemanha nazista tinha como um de seus grandes trunfos, a publicidade do regime
conduzida pelo eficientíssimo ministro da Propaganda Joseph Goebbels, que
talentoso e comunicativo, conseguiu o apoio da população alemã a um governo que
conduziu aquele país e o mundo à catástrofe da Segunda Guerra Mundial.
Ditadores, disso também não descuidam, Getúlio Vargas teve seu Departamento de
Imprensa e Propaganda (DIP) para promover a publicidade do regime e a censura à
notícias críticas. A mídia ocidental faz uma cobertura parcial e manipuladora
da guerra na Ucrânia e contribui para a desinformação enquanto doutrina as
pessoas alimentando a russofobia.
Em geopolítica,
aprende-se que não há nada mais ilógico do que o maniqueísmo. Nunca ou quase nunca
é a luta do bem x mal, do mocinho x bandido. Cada nação beligerante tem a sua
porção vítima e a sua porção agressora. Ingênua é a pessoa, que escolhe um lado
como sendo o do bem. Não há boas intenções na guerra. Os EUA e a OTAN ganharam
a oportunidade de sancionar a ascendente economia russa causando-lhe enormes
danos e fornecem armamentos para a Ucrânia (possibilitando fabulosos lucros
para a sua indústria bélica) a fim de estender a guerra pelo maior tempo
possível com o objetivo de desgastar a principal aliada da China. O que está
acontecendo é uma contestação a atual Ordem Mundial que tem o Atlântico como
centro (EUA/Europa) para outra em que o poder militar e econômico (hegemonia) poderá estar no Pacífico
(China/Rússia). E isso é algo que os Estados Unidos e a Europa no papel de
coadjuvante tentam impedir.
O físico Isaac Newton afirmou: "toda ação
corresponde a uma reação de igual intensidade, mas que atua no sentido
oposto". Obviamente, Newton se referia à física, mas, isso também vale
para as relações internacionais e como exemplo, imaginemos que o Brasil tivesse
mantido o projeto de construir a bomba atômica, como reflexo, a Argentina
também teria mantido o seu e, ambos estariam acumulando armas nucleares
apontadas para o país vizinho. A ideia da Ucrânia de solicitar a entrada na
OTAN (previsto na Constituição Nacional) foi insensata, um país dependente de
recursos energéticos e do comércio com a Rússia deveria manter a neutralidade,
até porque a Rússia reagiria em defesa de sua segurança, porém, mais imprudente
é a política da OTAN em expandir para o leste europeu, afinal, a busca da paz
deve estar nas atitudes e não apenas nos discursos. A diplomacia deve superar o
poder militar, sempre!
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