A obra é dividida em três partes: Fio de Corte, Torto
Arado e Rio de Sangue. Os acontecimentos da trama são apresentados por três
diferentes narradoras. É um livro de conteúdo profundo, nem por isso pesado. A
leitura é prazerosa e discorre sobre temas brasileiros, alguns
"invisibilizados", mas que constituem grandes cicatrizes no tecido
social. Temas como a disputa pela terra, o processo escravagista, a
desigualdade social, a concentração da terra, o analfabetismo, a fome, a
pobreza e, os aspectos positivos como a grande riqueza cultural dessa nação
miscigenada a partir das diferentes matrizes (africana, indígena e europeia). O
livro pertence ao gênero do realismo mágico tão popularizado na obra de Gabriel
García Márquez. Isso se evidencia quando o autor discorre sobre as entidades da
religiosidade africana e indígena unidas aos santos da religião católica,
configurando aquilo que todos sabemos, o sincretismo religioso, que mais do que
uma adaptação, foi uma forma de resistência à opressão reinante.
A trama tem como personagens principais as irmãs Bibiana
e Belonísia que sofrerão um trauma que mudará para sempre suas vidas.
Personagens de destaque também são Zeca Chapéu Grande, o líder religioso (uma
espécie de Xamã) que se comunica com as entidades. Severo, por sua vez é o
líder sindical dos camponeses quilombolas, cujo trabalho consiste no
esclarecimento e na organização da comunidade quilombola na busca pela
demarcação de sua terra, o que contraria os interesses do latifúndio. A obra
trata ainda da escravidão ainda hoje existente em nosso país, na forma de
condições degradantes do trabalho, ou seja, análogas a escravidão. Notícias
como estas, não raramente aparecem nos noticiários e geralmente envolvem latifúndios
das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
O leitor deve ter percebido que estou me esforçando em
não dar spoilers, faço isso porque considero que deve ler esta obra e, não
quero estragar o prazer que terá. Sabemos que ninguém lê o mesmo livro. Cada
leitor encontrará nuances diferentes, porém, uma coisa é certa, a obra permite
uma ampla discussão sobre o nosso país, pois, apresenta o Brasil profundo, não
ficando nas camadas superficiais de uma máscara da pátria e de seu povo, que já
não convencem ninguém, aqui ou no exterior.
Recomendo fortemente a leitura! Oportunidade única de ler
um clássico ainda quente, pois, recém saído do forno!
Sugestão
de boa leitura:
Título: Torto arado.
Autor: Itamar Vieira Junior.
Editora: Todavia, 2019, 1ª edição, 264 pág.
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