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sábado, 15 de janeiro de 2022

Torto arado

 


            O livro Torto arado do escritor Itamar Vieira Junior (ganhador em 2018 do Prêmio Leya e, em 2020 dos Prêmios Jabuti e Oceanos) foi uma grata surpresa no ano de sua publicação (2019). Seu sucesso foi tanto que suas vendas o colocam na lista dos mais vendidos ainda hoje. Não são poucos os críticos literários que afirmaram que vimos nascer um clássico da literatura nacional. Um clássico (como bem sabe o leitor) é uma obra que sobrevive ao tempo e continua a ser lida pelas novas gerações dada a importância do seu conteúdo (que não se esgota).

            A obra é dividida em três partes: Fio de Corte, Torto Arado e Rio de Sangue. Os acontecimentos da trama são apresentados por três diferentes narradoras. É um livro de conteúdo profundo, nem por isso pesado. A leitura é prazerosa e discorre sobre temas brasileiros, alguns "invisibilizados", mas que constituem grandes cicatrizes no tecido social. Temas como a disputa pela terra, o processo escravagista, a desigualdade social, a concentração da terra, o analfabetismo, a fome, a pobreza e, os aspectos positivos como a grande riqueza cultural dessa nação miscigenada a partir das diferentes matrizes (africana, indígena e europeia). O livro pertence ao gênero do realismo mágico tão popularizado na obra de Gabriel García Márquez. Isso se evidencia quando o autor discorre sobre as entidades da religiosidade africana e indígena unidas aos santos da religião católica, configurando aquilo que todos sabemos, o sincretismo religioso, que mais do que uma adaptação, foi uma forma de resistência à opressão reinante.

            A trama tem como personagens principais as irmãs Bibiana e Belonísia que sofrerão um trauma que mudará para sempre suas vidas. Personagens de destaque também são Zeca Chapéu Grande, o líder religioso (uma espécie de Xamã) que se comunica com as entidades. Severo, por sua vez é o líder sindical dos camponeses quilombolas, cujo trabalho consiste no esclarecimento e na organização da comunidade quilombola na busca pela demarcação de sua terra, o que contraria os interesses do latifúndio. A obra trata ainda da escravidão ainda hoje existente em nosso país, na forma de condições degradantes do trabalho, ou seja, análogas a escravidão. Notícias como estas, não raramente aparecem nos noticiários e geralmente envolvem latifúndios das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

            O leitor deve ter percebido que estou me esforçando em não dar spoilers, faço isso porque considero que deve ler esta obra e, não quero estragar o prazer que terá. Sabemos que ninguém lê o mesmo livro. Cada leitor encontrará nuances diferentes, porém, uma coisa é certa, a obra permite uma ampla discussão sobre o nosso país, pois, apresenta o Brasil profundo, não ficando nas camadas superficiais de uma máscara da pátria e de seu povo, que já não convencem ninguém, aqui ou no exterior.

            Recomendo fortemente a leitura! Oportunidade única de ler um clássico ainda quente, pois, recém saído do forno!

           

Sugestão de boa leitura:

Título: Torto arado.

Autor: Itamar Vieira Junior.

Editora: Todavia, 2019, 1ª edição, 264 pág.

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