Há uma discussão em voga na
Alemanha, a questão da devastação ambiental em território brasileiro para a
expansão da fronteira agrícola e as consequências dela resultantes. Há
movimentos atuantes no seio da sociedade alemã que propagam a ideia de que
aquela nação precisa parar de comprar soja brasileira e estimular receitas
caseiras para a produção de ração animal. Em uma reportagem afirmavam que esta
ração caseira ainda é mais cara do que a importação da soja, mas, que tende a
ficar mais barata e, que mesmo que isso não ocorra, o fato de não contribuir
para a concentração da terra no Brasil resultante da expropriação das terras de
indígenas e pequenos agricultores e, principalmente, para a devastação de
frágeis ecossistemas como o Cerrado e a Amazônia já torna válido o aumento do
custo da ração.¹
Nos Estados Unidos da América tramita um projeto de lei
que certamente será aprovado, pois, está em consonância com a política externa
de seu atual governo². O projeto pretende impedir a aquisição de produtos que
tenham como origem áreas devastadas ilegalmente ou que deveriam ser
preservadas, mas, sempre há a possibilidade de haver rescaldo e prejudicar quem
trabalha em terras legalizadas. Entende isso quem vacina o seu gado bovino e é
prejudicado pelo foco de febre aftosa (em algum canto distante do Brasil) por quem
compra a vacina, mas, não aplica em seu rebanho, mesmo sendo o Brasil, um país
continental. Sobre a questão, o general Hamilton Mourão, atual vice-presidente
do país afirmou: "A maioria das pessoas que têm uma consciência ambiental
maior, são de esquerda" e concluiu dizendo que "o governo federal é
de direita e que os produtos exportados não são de áreas de preservação que
teriam sido desmatadas". Que a esquerda tem no seu escopo ideário, maior
preocupação com o meio ambiente, é inegável, porém, esse discurso típico do
século XX não cola mais. O mundo mudou e o governo Bolsonaro age de forma
anacrônica, pois se vivemos uma nova guerra fria, essa disputa não se faz pela
contraposição capitalismo x socialismo / Ocidente x Oriente. Apenas mentes
doentes como as que povoam o governo Bolsonaro pararam no tempo e, isso porque
são vazias de conteúdo e de entendimento geopolítico. Bolsonaro faz grande mal
ao país. O agronegócio brasileiro ainda vai pagar a conta por seus desvarios ou
de seus comandados ao dirigir críticas ideológicas e fake news à China, o maior
comprador de produtos brasileiros e, isso não é difícil de entender, afinal, um dono de loja pode não gostar de seu
principal cliente, mas, não o critica publicamente para não perdê-lo.
Há alguns dias assisti à entrevista de um representante
do agronegócio, que afirmou, com razão de que o país conta com uma das melhores
e mais completas legislações ambientais do mundo. Disse ainda que o problema
está na falta de fiscalização e de punição ao devastadores ambientais.
Argumentou que o mundo inteiro vigia atentamente o que acontece com a Floresta
Amazônica, mas, que nada fala sobre a Amazônia Azul, pois, não pode falar,
afinal o mundo inteiro maltrata os oceanos e mares, os verdadeiros responsáveis
pela liberação de oxigênio para a atmosfera. Tive que concordar com ele, os
oceanos estão doentes por conta de toda a poluição gerada pela humanidade na
forma de lixo sólido ou efluentes. O resultado, corais morrendo, espécies
marinhas entrando em extinção devido a superexploração. Mas, não podemos negar
que o Governo Bolsonaro tem grande culpa, pois ao promover uma fiscalização ambiental
pífia e, com punições pouco rigorosas ou nulas, visando com isso agradar o
agronegócio (e agrada), acabará por prejudicá-lo.
Os capitalistas, independentemente de sua origem praticam
um jogo pesado e sujo, pois, todos afirmam defender o livre-mercado e a
eliminação/redução de barreiras que impeçam a livre circulação de mercadorias e
serviços. Na prática, não é bem assim, os países mais capitalistas do mundo
ficam o tempo todo vasculhando as ações alheias para encontrar meios de sabotar/eliminar
vantagens específicas de outras nações aplicando barreiras sanitárias (nem
sempre justas), subsídios, tarifas, cotas ou sanções. O governo federal e o
setor do agronegócio precisam entender que discursar com base em fake news não
cola, afinal, a ONU e os países têm acesso a imagens de satélite de alta
resolução. Os capitalistas em geral (não apenas o agronegócio), precisam compreender
que é cada vez maior a parcela da população (principalmente no mundo
desenvolvido) que ao comprar produtos, procura saber como a empresa produtora
trata o meio ambiente e se age com responsabilidade social. O Brasil terá que
mostrar ações efetivas quanto à preservação ambiental, à fiscalização e ao
rigor das punições, pois as nações não irão aceitar apenas discursos, ainda
mais, de um governo cuja imagem no exterior é a pior possível!
FONTES:
1. Até quando a Alemanha
continuará comprando soja do Brasil? - Disponível em
https://www.dw.com/pt-br/at%C3%A9-quando-alemanha-continuar%C3%A1-importando-soja-do-brasil/a-59112846
- Acesso em 02 de Novembro de 2021.
2. EUA podem barrar
importação de produtos oriundos do desmatamento ilegal -
https://www.ecodebate.com.br/2021/10/07/eua-podem-barrar-importacao-de-produtos-oriundos-do-desmatamento-ilegal/
- Acesso em 02 de Novembro de 2021.
3. Estados Unidos e União
Europeia discutem criar leis que podem prejudicar agronegócio brasileiro.
Disponível em
https://www.canalrural.com.br/noticias/eua-e-uniao-europeia-estudam-criar-leis-que-podem-prejudicar-agro-brasileiro/
- Acesso em 02 de Novembro de 2021.
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