A formação a que me refiro é aquela que vai muito além do
ambiente escolar e que se realiza individualmente na leitura de obras de
pensadores e, também na reflexão daquilo que se aprende, na leitura ou na
vivência. O ser humano possui não somente o direito de ler e ser uma pessoa
melhor como a obrigação de aperfeiçoar-se visando contribuir para a melhoria da
sociedade. Ocorre que muitos pensam não ser necessário estudar além da educação
oficial, achando a leitura um ato penoso e há aqueles que embora portem um ou
mais diplomas, possuem uma visão míope de mundo, ou seja, são incapazes de
fazer uma leitura fundamentada e crítica da conjuntura local, regional e
mundial. Assim, falam sem ter uma argumentação consistente emitindo juízos de
valor àquilo que de fato não conhecem, pois, se a alfabetização já é em si um
desafio apesar da possibilidade de aprendizagem de qualquer ser humano dotado
das faculdades que assim o favoreçam, compreender a “palavramundo” mostra-se
algo mais difícil, pois, é preciso ter gana de viver, e vivendo, a cada dia
buscar aprender mais, entender o significado das coisas e dos fatos.
Compreender a “palavramundo” exige fazer comparações e só se pode comparar
aquilo que se conhece pela realidade vivida, para a qual não basta viver, mas
refletir sobre os fatos, bem como pela leitura, mas não como uma mera
decodificação dos símbolos, mas com o objetivo de desvelar a essência daquilo
que lemos, vemos e vivemos.
Atualmente assistimos os meios de comunicação pregarem a
“neutralidade” da educação e seríamos ingênuos se pensássemos que a suposta e
impossível neutralidade fosse fruto do desejo ingênuo da elite representada por
tais meios de comunicação. A verdade é que à elite interessa esconder a
perversa essência que se esconde por trás do modelo neoliberal, como
educadores, precisamos e devemos auxiliar nossos educandos a descobrir a
essência da vida e não apenas servir ao modelo de produção que se apresenta
hegemônico. Não é possível pensar a educação sem a reflexão da conjuntura do
projeto de país que se não for pensado por todos, será pensado por alguns, pois
quem não pensa é pensado pelos outros. Acredito que devemos ter mais que um
discurso fundamentado na reflexão diuturna, “precisamos ter coerência entre a
prática e o nosso discurso avançado”. Ao contrário do que pretendem os amantes
do neoliberalismo, “o educador não tem como ser neutro, mas nem por isso é
manipulador”. Cabe a nós educadores, a necessária utopia de uma sociedade
melhor, mais justa, pois a utopia é oxigênio que move a busca do conhecimento
por educadores e educandos que pretendem na solidariedade encontrar a saída
ante um modelo autoritário, egoísta e perverso que concentra as riquezas nas
mãos de poucos e a fome na barriga de muitos. Nessa realidade mundial, o Brasil
também está inserido, pois, a fome mora ao lado do nosso quintal e como já
afirmava o mestre “não nos esqueçamos que o Brasil foi inventado de cima para
baixo” e, como tal permanece.
Aos educadores cabe dar vida ao que se ensina, indo muito
além do conteúdo, é necessário contextualizá-lo, pois “o contrário da
manipulação não é a neutralidade impossível, nem o espontaneísmo, mas a
participação crítica e democrática”. Precisamos passar de figurantes da
história para construtores de nossa própria história, ajudar a construir uma
sociedade melhor para todos os brasileiros. “Estudar é assumir uma atitude
séria e curiosa diante de um problema” e estudar também é trabalho, trabalho
que fortalece os “músculos” do pensar e que a todos cabe, pois “ninguém ignora
tudo, ninguém sabe tudo”. Assim o autor destas linhas também é ciente de que
muito tem por aprender e tal como afirmou o filósofo Sócrates apenas “sabe que
nada sabe” e uma vez mais citando o mestre Paulo Freire quando afirmou que
“estudar para servir ao povo não é só um direito, mas também um dever
revolucionário”. Façamo-nos revolucionários e estudemos, pois para ajudar a
construir uma nova sociedade, não importam quais sejam as suas cores, mas, a
onipresença da justiça social.
Sugestão de boa leitura:
FREIRE,
P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 49 ed.,
São Paulo, Cortez, 2008.
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