Há muito vejo nas redes
sociais uma postagem que afirma o seguinte: "Idolatrar Bolsonaro é a mesma
burrice que idolatrar Lula. Políticos devem ser cobrados e não
idolatrados". O poeta, escritor, dramaturgo e ator inglês William
Shakespeare (1564-1616) afirmou: "O diabo é capaz de citar as Sagradas
Escrituras quando isso lhe convém". A frase de Shakespeare refere-se à
estratégia de recorrer a algo considerado inconteste para obter a aprovação
tácita de algo polêmico por meio da não reflexão do ouvinte ou leitor. A frase
em questão traz o acerto inquestionável no trecho: "políticos devem ser
cobrados e não idolatrados". Sabemos que no regime democrático, os
políticos são escolhidos pelo povo em sufrágio universal. Sabemos também que a
democracia não funciona de forma adequada nos países com grandes desigualdades
sociais (caso do Brasil), sendo sempre de baixa intensidade e nunca na forma
plena.
É importante que se diga que este país foi construído de
cima para baixo com vistas a desempenhar a função de colônia e enriquecer quem
consome os produtos desta terra e, não para desenvolver-se e tornar-se
independente. Os ricos recursos (naturais ou do trabalho) do povo brasileiro sempre
estiveram/estão a serviço do enriquecimento de potências estrangeiras e de seus
testas de ferro locais (a elite do capital patrimonial) que conta sempre com o
apoio da elite do capital cultural (a classe média) que se contenta em ficar
com migalhas enquanto alimenta a ideia de ser "rica" e
"europeia". A Independência do país (1822) e a abolição da
escravatura (1888) não vieram acompanhadas da independência econômica e da
ascensão social das classes despossuídas da terra e da renda, pois as cadeiras
do Congresso Nacional sempre estiveram/estão majoritariamente ocupadas
pela elite econômica (no passado, por barões do café, da cana de açúcar e, na
atualidade, por latifundiários, industriais, banqueiros, e/ou seus
representantes).
Karl Marx
(1818-1883) nos ensinou que a história das sociedades é o desenrolar das lutas
de classes e, por sua vez, Simone de
Beauvoir (1908-1986), afirmou: "O opressor não seria tão forte se não
tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos", ou seja, não existe
neutralidade. Há o projeto colonizatório e o emancipatório. O primeiro é
defendido pelos testas de ferro brasileiros do Imperialismo Internacional, que por
interesses escusos, desejam manter o país subjugado, em detrimento dos
interesses genuinamente nacionais, perpetuando o atraso social. O segundo
projeto é emancipatório, progressista e desenvolvimentista que visa fazer do
país, uma sociedade menos injusta e mais próspera.
É de uma maldade/ingenuidade absurda comparar Bolsonaro a
Lula. Bolsonaro por suas falas e ações várias vezes demonstrou ser favorável à
ditadura, à tortura, ao machismo, à misogenia, à homofobia, ao racismo, ao
militarismo, ao armamentismo, à violência policial, ao entreguismo das riquezas
nacionais, à uma política externa submissa aos EUA, e exerce um governo
plutocrata (dos ricos para os ricos). Bolsonaro por sua ação/inação defende o
latifúndio, a exploração do patrão sobre o empregado (redução de direitos
trabalhistas e arrocho salarial), a destruição do meio ambiente, o descaso ou
até mesmo ataques aos direitos dos povos originários. Lula representa a ideia
de um Brasil que deu certo, pois retirou quarenta milhões de pessoas da
miséria, aumentou o poder aquisitivo da classe trabalhadora e os investimentos
em educação e saúde, pautou as relações externas no âmbito Sul-Sul e teve uma
postura independente perante os EUA. Comparar os dados socioeconômicos oficiais
dos governos de ambos acaba com qualquer dúvida. Enquanto Lula era recebido por
reis, rainhas e o mundo o queria ouvir. Hoje, Bolsonaro nos envergonha e
destrói a imagem do Brasil perante as nações. Quem ainda hoje apoia Bolsonaro,
busca preservar privilégios imorais ou tem a mente colonizada. Lula é o oposto
de Bolsonaro e, quem não percebe/reconhece isso, demonstra não ter honestidade
intelectual, consciência de classe, capacidade de interpretação de texto e de
crítica.
P.S. A corrupção que se tentou encontrar em
Lula ou nos filhos de Lula (sem sucesso), está sendo fartamente documentada nas
ações do clã Bolsonaro.