O MDB (Movimento Democrático
Brasileiro) foi o partido de oposição à ditadura militar (1964-85) representada
pela ARENA (Aliança Renovadora Nacional) extinta em 1979 e substituída pelo PDS
(Partido Democrático Social). A mudança do nome/sigla do partido quando constatado
o seu desgaste perante a opinião pública é uma velha estratégia, que talvez
funcione para enganar os distraídos, mas, que nenhum efeito tem sobre os
alicerces partidários apodrecidos. O PDS, portanto, tratava-se de uma maquiagem
sobre uma face bastante conhecida da política brasileira representada até
então, nas ideologias da ARENA que eram o autoritarismo, o militarismo, o conservadorismo
clássico, o anticomunismo, o nacionalismo e a defesa intransigente da Doutrina
de Segurança Nacional.
O MDB era a oposição consentida pelos militares para dar
um "ar de democracia" perante o olhar do mundo desenvolvido (e apenas
por isso). Internamente essa preocupação não existia, a mão não era amiga, mas,
o braço era forte na censura aos meios de comunicação e, escritos ou discursos considerados
subversivos eram facilmente enquadrados na Lei de Segurança Nacional. Também os
artistas que ousassem tocar/gravar músicas de protesto eram punidos. Embora o
espaço para manobras fosse limitado, o MDB teve um importante papel na
redemocratização do país e no movimento pelas Diretas Já! que reuniu multidões
em vários comícios reivindicando o direito de votar para presidente. No
entanto, a emenda constitucional Dante de Oliveira foi derrotada. A parcela da população
que sonhava com um Brasil melhor e não aquele que se revelava ante seus olhos
na forma do abismo da desigualdade social, da miséria, da fome, dos presos
políticos torturados e assassinados (produtos daquela triste e obscura época) chorou.
Á época, o saudoso doutor Ulysses Guimarães (1916-92) afirmou ter ódio e nojo
da ditadura militar (não estava sozinho). Ulysses Guimarães era a dignidade em
pessoa, porém não era muito carismático. Tentou se eleger presidente da República
num tempo em que o PMDB não se portava como um partido de aluguel sempre
disposto por motivos fisiológicos a compor com o governo de ocasião ou com o postulante
ao poder com maiores chances de se eleger.
Várias reportagens saíram sobre a
"pemedebização" da política brasileira como um fator de atraso social,
pois, se o partido renunciava/renuncia a lançar candidatos próprios aos cargos
majoritários, também sem o apoio do PMDB/MDB ninguém governava/governa por
conta de sua grande bancada parlamentar. O MDB não é o único partido que
desempenha tal papel e, que por seu fisiologismo prejudica a nação quando
interesses pessoais ou partidários são colocados acima dos interesses da nação.
Dissidentes do PMDB fundaram o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB)
e, apesar da denominação partidária não tardaram a aderir ao neoliberalismo.
FHC tal como o PSDB são criador e criatura que encolheram perante a nação.
Poder-se-ia pensar que a saída dos dissidentes iria depurar o PMDB e manter
nele apenas os verdadeiramente social-democratas. Não foi o que ocorreu, no
partido com as devidas exceções (poucas), a ideologia que reina é a do
fisiologismo.
Nesta semana, Roberto Requião assinou a desfiliação do
MDB. Jornalista, urbanista e advogado, Requião tem uma longa e vitoriosa
carreira política. Suas três gestões no Palácio Iguaçu foram muito bem
avaliadas. Na condição de Senador da República, inúmeras vezes proferiu
críticas (fundamentadas) à política econômica do Governo Dilma, mas, legalista,
não se absteve de lutar com todas as suas forças contra o Golpe de Estado Jurídico-Midiático-Parlamentar
de 2016, no qual seu partido (PMDB) estava profundamente envolvido. "A
sangria parou ali", hoje quem sangra é o país. É a parcela do povo
brasileiro novamente lançada à miséria. Sempre considerei surreal que Requião
tenha insistido por tanto tempo em permanecer no MDB. Talvez por ser dele
fundador (tinha a ficha estadual Nº 01) e tal como um cirurgião queria salvar a
sigla estadual, mas, após a morte cerebral do paciente, não há mais o que
fazer. A saída de Requião foi a única atitude digna e coerente que lhe cabia
tomar ante sua biografia. Quem perde é a sigla partidária, que na esfera
estadual se apequena ainda mais pela opção fisiológica. Requião de forma
coerente, continuará na luta contra os ratos na política. Tal coerência, o MDB demonstrou
não ter, pois, no momento, por seus apoios na esfera estadual e nacional cheira
à ARENA. Desejo ao MDB o retorno aos ideais e aos fortes princípios
democráticos e éticos que um dia o marcou, pois, retomar a sigla (MDB) de seus
bons tempos não é suficiente, é preciso voltar a agir como tal.
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