Há quem não goste dos movimentos
sociais e sindicatos afirmando serem barulhentos. Entendo estas pessoas. É de
sua natureza defender a paz dos vencidos ou seja, a humilhação, a resignação, o
"cala a boca" imposto aos oprimidos. Neste espaço, mais de uma vez
citei Simone de Beauvoir (1908-1986), a quem novamente recorro para contextualizar
de forma inconteste: "o opressor não seria tão forte se não tivesse
cúmplices entre os próprios oprimidos". Engana-se quem pensa que os
opressores são todos da classe privilegiada. Há muitos analfabetos políticos na
sociedade. A falta de consciência de classe é que permitiu que se construísse o
Brasil tal como é, um gigante com pés de barro e, que de tal forma se mantém
como um dos países mais injustos do planeta. Digo que todo movimento social ou sindicato
precisa fazer muito barulho para sair da invisibilidade imposta aos oprimidos. Se
não faz barulho, não está cumprindo sua função social.
A função social dos movimentos sociais e dos sindicatos é
dar voz a quem é negado o direito da fala (os oprimidos, injustiçados e invisibilizados)
e colocar na pauta das autoridades (mesmo a contragosto destas), as
necessidades, as reivindicações de quem também é povo, mas, que muitas vezes é
tratado como se nem ser humano fosse. É compreensível, mas, não justificável, o
ódio dos opressores, dos amantes do autoritarismo que odeiam quem lhe tira a
paz. A paz de ter o Estado, a economia e a política voltada para a manutenção
de seus privilégios. Essa gente, para defender os seus injustos privilégios, é
capaz de destruir um país, sacrificar-lhe o seu futuro para que o ordenamento
social permaneça. É a mentalidade de senhor de escravos que em sua elite
permanece apesar de o regime escravocrata oficialmente não mais existir, embora
ainda hoje se encontre trabalhadores em situação análoga a de escravidão no
país. "A nossa bandeira nunca será vermelha" foi uma frase muito
falada em manifestações de pessoas reacionárias cujo significado é: a "Casa
Grande" (Palácio do Planalto/Governo) jamais será pisada por pés de escravos
(trabalhadores) ou, os trabalhadores jamais governarão/ditarão os rumos de
nosso país, ou ainda, "o país é nosso (da elite). Calem-se!"
Eu costumo dizer que os movimentos sociais e os
sindicatos são "o fermento da democracia". Em países com tradição
autoritária como o nosso, cujos períodos democráticos são hiatos entre
ditaduras, sua importância se reveste de maior significado. A elite (financeira
e cultural) está sempre pronta a fazer contrarrevoluções quando vê o seu
controle sobre os rumos do país minimamente ameaçado pelo avanço da democracia.
Ela não não é patriota. Se para ter uma sociedade de consumo de massa (de maior
poder aquisitivo) implica dar voz e vez aos trabalhadores, prefere ver o país
no atraso e, não tem escrúpulos em sabotar o desenvolvimento nacional e,
entregar nossas riquezas para o grande capital estrangeiro para preservar o
ordenamento social. A preservação deste é obtido por meio de representantes a
seu serviço nos poderes Legislativo e Executivo porquanto eleitos com seu
dinheiro e, da parceria com membros do Poder Judiciário, geralmente oriundos da
elite cultural que busca preservar seus privilégios. A elite, como disse, não é
patriota, apesar disso utiliza os símbolos nacionais para conquistar a simpatia
dos distraídos, assim, como muitos corruptos não param de criticar a corrupção
(dos outros). Trata-se de uma gente moralista e sem moral. A ela não interessa
o desenvolvimento nacional, a construção de uma sociedade com justiça social, o
fortalecimento da democracia. O que interessa realmente é a manutenção de seus
injustos privilégios. A democracia é sempre de baixa intensidade quando a
desigualdade social é extrema. E o Brasil, como tal, para o espanto das nações
se mantém como "a potência do futuro", porém, esse futuro teima em
nunca chegar. As elites (do capital financeiro e do capital cultural) são
ardilosas e unidas, porém, enquanto houver movimentos sociais e sindicatos
haverá esperança de que a democracia e a justiça social se implantem de fato e,
é isso que as elites buscam evitar namorando o fascismo. Como nos ensinou
Eduardo Galeano (1940-2015): "preservemos nossas utopias, por mais
inalcançáveis que nos pareçam, elas nos ensinam a não ficarmos parados".
Longa vida aos movimentos sociais e aos sindicatos!
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