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Há muito observo pessoas que se dizem defensoras do
capitalismo, porém, defendem que a educação básica e mesmo superior deve
continuar pública e gratuita. Da mesma forma também é comum encontrar pessoas
que professam a ideologia capitalista a afirmar que a saúde deve continuar
pública e gratuita, porém, que o SUS deve ser alvo de melhorias. Entre estas há
até mesmo aquelas que irritadas com os preços dos medicamentos no Brasil
acreditam que os medicamentos deveriam ser distribuídos gratuitamente à
população mediante receita médica. Ora, sabemos que na doutrina capitalista,
saúde e educação são atividades econômicas e não direitos básicos do cidadão,
portanto, devem ser atividades exploradas pelo setor privado, que, obviamente
visa o lucro e, para tal precisa receber dos consumidores de seus produtos e
serviços. O capitalismo atual que veste o uniforme do neoliberalismo prega o
“Estado mínimo”, dessa forma, o Estado não pode exercer nenhuma atividade
econômica ou deter empresas estatais. Cabe ao Estado por meio de sua cúpula
dirigente (o governo) manter as forças armadas, a segurança pública (efetivos
policiais), o Poder Judiciário, o Poder Legislativo, ou seja, o Estado deve
manter a ordem, fiscalizar e regular minimamente a fim de não interferir no
mercado (que se auto-regula sozinho).
A contradição citada ocorre pela pouca leitura e
entendimento das pessoas acerca daquilo que ilusoriamente pensam conhecer.
Também ocorre porque o brasileiro médio não é defensor do capitalismo, mas,
pensa ser devido à armadilha do maniqueísmo estimulado pela sociedade, pois,
como refuta o socialismo, pensa ser defensor do capitalismo. Serviços públicos
gratuitos somente são encontrados no socialismo, porém, o leitor irá
automaticamente pensar que o Brasil não é um país socialista e os oferece, e
nisto tem razão, pois o que temos em nosso país é uma social-democracia de
baixa intensidade garantida pela Constituição Federal de 1988 que estabeleceu
que educação e saúde são direitos básicos do cidadão. Além do socialismo
(revolução por fora), serviços públicos gratuitos são também oferecidos em
países que adotam a social-democracia (revolução por dentro) e, esta acaba por
ser um sistema híbrido entre capitalismo e socialismo. Os países que detêm os
melhores índices de desenvolvimento humano (IDH) no mundo atual são países
social-democratas e não aqueles que deslumbraram com o capitalismo e hoje se
postam nas fileiras do neoliberalismo que a tudo privatizou. A Noruega há
vários anos é o melhor país do mundo em qualidade de vida (IDH). Os Estados
Unidos, a maior potência econômica do mundo é apenas o 13º, enquanto o Chile, o
mais neoliberal país da América do Sul colapsou numa revolta popular que parece
não ter fim, pois, a implantação do neoliberalismo (o capitalismo puro), o
sonho erótico dos poderosos capitalistas tornou-se o pesadelo da classe baixa e
média daquele país.
Os defensores do capitalismo raiz são ardorosos críticos
da social-democracia, pois, enxergam nela o socialismo, afinal, o Estado não
deve exercer atividades econômicas como as citadas. Os socialistas puros, por
sua vez, afirmam que a social-democracia não passa de uma maquiagem num monstro
(o capitalismo), pois, sua essência permanece intacta, a exploração do homem
pelo homem. Afirmam ainda que os Estados de Bem-Estar Social (Welfare State)
para reduzir a exploração de seus cidadãos exportam a extração de mais-valia para
outros países, enquanto os capitalistas
afirmam ser muito caro para os contribuintes manter Estados de Bem-Estar Social
e que cada indivíduo deve pagar pelos produtos e serviços que utiliza sem
sobrecarregar os demais via impostos. Enfim, geralmente, o brasileiro médio
refuta o socialismo, defende o capitalismo, porém, não quer o Estado Mínimo
defendido pelos neoliberais, nada mais anticapitalista, contradição pura! É
social-democrata e não sabe disso!
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