José Lins do Rego (José Lins do Rego
Cavalcanti) nasceu em Engenho Corredor, na Paraíba, em três de junho de 1901 e,
faleceu no Rio de Janeiro, a doze de setembro de 1957. Dentro do que se
esperava de um filho da elite rural nordestina estudou e formou-se em Direito.
Colaborou no Jornal do Recife e, em 1922, fundou o semanário Dom Casmurro. O
tempo que passou em Recife possibilitou-lhe laços de amizade com várias
personalidades que influenciaram sua carreira na literatura, dentre elas,
Gilberto Freire. José Lins do Rego ainda muito jovem revelou seu talento para a
literatura. A obra de José Lins traz em seu bojo, as origens das diferentes
gerações de sua família ligada ao mundo rural do nordeste açucareiro. No Brasil
poucos escritores conseguiram/conseguem viver apenas dos rendimentos de sua literatura.
José Lins não escapou a essa regra e, trabalhou por pouco tempo como promotor,
fiscal de bancos e, fiscal do imposto de consumo. Colaborou em vários
periódicos com crônicas diárias. Quando morou em Maceió, tornou-se colaborador
do Jornal de Alagoas e passou a fazer parte do grupo de Graciliano Ramos,
Raquel de Queirós, Aurélio Buarque de Holanda e outros. Ali publicou seu
primeiro livro, Menino de engenho (1932), obra considerada de fundamental importância
na história do moderno romance brasileiro e que lhe rendeu o Prêmio da Fundação
Graça Aranha. Sua paixão pelo esporte (torcedor do Flamengo) o levou a ocupar o
cargo de secretário-geral da Confederação Brasileira de Desportos (1942 a 1954).
Em certa ocasião, ao falar de sua literatura, afirmou “[...] meu futebol é de
primeira. Eu não uso a bola para fazer bailado. Eu a atiro ao primeiro golpe e,
se não chego a realizar uma jogada com perfeição, não comprometo, por outro
lado, a eficiência do meu time”.
José
Lins do Rego se popularizou como um romancista da decadência dos senhores de
engenhos e tinha como característica escrever com grande agilidade, apesar de
dizer a todos que o ato de escrever era difícil. A matéria-prima de suas obras
estava nas memórias e reminiscências (vividas e internalizadas pela transmissão
oral por seus predecessores) de um sistema econômico de origem patriarcal, com
o trabalho semi-escravo do eito, ao lado de outro aspecto importante da vida
nordestina, o cangaço e o misticismo. O conjunto de sua obra pode ser
classificado em três tópicos: 1. O ciclo da cana-de-açúcar, com Menino do
Engenho, Doidinho, Banguê, Usina e Fogo Morto; 2. O ciclo do cangaço,
misticismo e seca, com Pedra Bonita e Cangaceiros; 3. Obras independentes com
ligações nos dois ciclos: O moleque Ricardo, Pureza e Riacho Doce; e desligadas
dos ciclos: Água-mãe e Eurídice. Sua carreira como literato o lançou à
“imortalidade” como membro eleito da Academia Brasileira de Letras – ABL. José
Lins tentou produzir obras desligadas dos temas que o popularizaram, porém, como
assinalou Manuel Bandeira: “era um motor que só funcionava bem queimando bagaço
de cana”.
A
obra Fogo Morto (1943) é dividida em três partes. A primeira parte tem como
personagem principal, o mestre José Amaro. José Amaro é um seleiro que mora com
sua esposa e filha nas terras do Coronel Lula, proprietário do Engenho Santa Fé.
O mestre é muito habilidoso no seu ofício. José Amaro tem uma língua ferina e,
aponta deficiências no caráter de quase todos, ao mesmo tempo em que afirma ser
um homem correto e independente. Também se mostra decepcionado com a vida e com
a família. Entre as suas decepções está fato de que não teve um filho homem
para ensinar-lhe os rudimentos da profissão. Sua filha não conseguiu se casar e
com o passar do tempo enlouquece. O Coronel Lula manda que se retire de suas
terras, sua esposa o abandona e, sua vida passa a ser de lamentos e ideias de
vingança contra o negro Floripes, o causador do desentendimento dele com o
senhor de engenho. A segunda parte tem como título “o engenho de seu Lula”. O
Engenho Santa Fé criado por seu Tomás Cabral de Melo e Dona Mariquinha, apesar
de ser pequeno se comparado aos engenhos vizinhos, tem grande produtividade com
o empenho pessoal de seus proprietários. O casal tem duas filhas, Amélia e
Olívia. Amélia, refinada, estudou na capital, nas melhores escolas. Olívia
seguia o mesmo roteiro, porém, enlouqueceu. Passa o tempo e, não aparece um
pretendente à altura de Amélia. Surge então Luis Cesar de Holanda Chacon, órfão
de pai, morador da cidade grande, possuidor de grande orgulho de suas raízes
familiares, mas, sem nenhum dinheiro. Casa-se com Dona Amélia, mas, para a
decepção de seu Tomás, não tem nenhum interesse em aprender a administrar o
engenho e dedica-se apenas a ler jornais. Com a morte de seu Tomás, seu Lula
tenta tomar para si o engenho, mas, Dona Mariquinha consegue na Justiça o
direito de administrá-lo. Seu Lula e Dona Amélia, têm uma filha. Seu Lula, nega
a Dona Mariquinha, o contato com a netinha. Dona Mariquinha morre, seu Lula
passa a administrar o engenho, mas, sua inaptidão é tão grande que sua esposa
sente vontade de tomar a tarefa para si, mas, não o faz afinal, Lula é o homem,
poderia não gostar. O Engenho entra em decadência e eles vão ficando cada vez
mais pobres. A terceira parte trata do Capitão Vitorino, homem que costuma
fazer bravatas, mas, que não é levado muito a sério, sendo que até os moleques,
ao passar por ele gritam “papa-rabo”, apelido que recebeu por ter o costume de cortar
o rabo de alguns de seus animais. Capitão Vitorino tem interesse na política, é
da oposição e se coloca em defesa dos mais fracos. Apesar de inofensivo, apanha
da polícia e, é preso por suas atitudes insolentes perante o Tenente Maurício,
que se encontra na região para eliminar a ação de cangaceiros do bando do
Capitão Antonio Silvino. Mais, não posso falar, sob pena de estragar a sua
leitura caso assim deseje.
Sugestão
de boa leitura:
Título: Fogo Morto.
Autor: José Lins do Rego.
Editora: José Olympio, São Paulo,
2014, 77ª edição, 414 p.
Preço: R$ 38,80 (capa comum).
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