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sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

As armas que faltam ao povo brasileiro



            O jornal O Estado de São Paulo veiculou artigo de Jamil Chade em que a alta comissária para Direitos Humanos da ONU Michelle Bachelet cita o Brasil como exemplo de eleição afetada pela desinformação¹. A reportagem trata de temas já analisados e publicados nesta coluna em novembro de 2018 sob os títulos: “As Guerras híbridas: das revoluções coloridas aos golpes” e “Guerra híbrida no Brasil” e que podem ser acessados no site do jornal Correio do Povo do Paraná ou no blog A Vista de Meu Ponto! Trata-se da monitoração, coleta de dados, análise de perfil para intervenções pontuais e específicas por meio de robôs na disseminação de fake news. Na época da campanha eleitoral, o autor destas linhas chegou a ser incluído em um grupo de Whatsapp de apoio a candidatura Bolsonaro, no qual constava como integrante o nome de Flavio Bolsonaro. Pensei a princípio tratar-se de uma brincadeira de mau gosto de algum desafeto tendo em vista ter sido sempre ferrenho opositor a ponto de julgar que até mesmo um tucano no poder seria melhor para a nação do que o Capitão. Tão rapidamente quanto fui incluído (não sem antes olhar os integrantes) saí do grupo. O que talvez foi um erro, deveria ter ficado para observar o teor das postagens. Após reflexão por ocasião da leitura do livro de Andrew Korybko e as posteriores denúncias veiculadas pelo Jornal Folha de São Paulo, cheguei à conclusão que existe a possibilidade de ter sido incluído no grupo por um robô, devido a inúmeras postagens minhas no Facebook nas quais dirigi críticas a Bolsonaro. Essa linha de raciocínio pode ser corroborada pelo fato de que a inteligência artificial evoluiu muito, mas, não é infalível.
            O fenômeno ocorrido nas eleições brasileiras não é inédito sendo por isso motivo de preocupação mundial. Ocorreu nas eleições presidenciais estadunidenses, no referendo sobre o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) e no Quênia. A eleição brasileira foi acompanhada de perto por estudiosos, pois a própria democracia se encontra em risco com a disseminação de fake news visando desinformar a população, e por meio da coleta de informações e análise do perfil dos internautas, se faz a manipulação com o objetivo de estimular comportamentos desejados. Michelle Bachelet questionou: “nesse contexto, existe alguma dúvida de que nossa liberdade para pensar, acreditar, expressar ideias e fazer nossas escolhas e viver como queremos está sob ameaça?” e assegurou: “se nossos pensamentos, ideias e nossas relações podem ser previstas por instrumentos digitais, e mesmo alterado pela ação de programas digitais, então isso representa uma questão desafiadora e fundamental sobre nosso futuro”. Na reportagem, Bachelet afirma ainda: “um dos desafios será regular o mundo digital, além de trabalhar ao lado de engenheiros e ativistas de direitos humanos para que essa esfera possa ser um local de proteção dos direitos humanos”
Na qualidade de professor, palestrante, sindicalista, articulista, blogueiro e escritor (citei estas atividades apenas para explicar a origem da minha análise), digo que as armas que o povo brasileiro precisa não são aquelas defendidas pelo presidente eleito. As armas que o povo brasileiro precisa nestes tristes tempos de fake news são de três “calibres”, a saber: 1. Interpretação de texto; 2. Espírito crítico; 3. Consciência de classe. Uma pessoa que não tenha desenvolvido bem essas três armas pode ser considerada um analfabeto político como enunciado por Bertolt Brecht. Interpretação de texto para entender o que está escrito e o que está nas entrelinhas, pois a política é a arte do ilusionismo. Sua atenção é chamada para algo enquanto a “mágica” ocorre no local onde você não olha. Espírito crítico para procurar outras fontes de informação sabendo que a ideologia está em todos os discursos, principalmente dos que se dizem apolíticos ou imparciais (os mais perigosos). Também é importante dar espaço ao contraditório, ou seja, ouvir ou ler quem pensa diferente. Num grupo onde todos pensam iguais não é o melhor ambiente para o crescimento intelectual. Consciência de classe, pois, se é perfeitamente compreensível que a elite financeira do país tenha determinada ideologia a qual sustenta uma determinada visão de sociedade e de relações humanas intrínsecas, é fundamental entender como esta ideologia lhe afeta para saber se posicionar. E para isso é necessário compreender o papel que nela lhe é reservado. Quem você é dentro desta ordem estabelecida pela classe dominante? Patrão ou trabalhador? Rico ou pobre? Homem ou mulher? Heterossexual ou homossexual? Branco ou negro? Nativo ou imigrante? Etc. A perícia na utilização das três armas somente é adquirida com a leitura e a reflexão. “Aos livros, cidadãos”!


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