Quando
um Ministro do Supremo Tribunal Federal (Barroso) sente a necessidade de
informar que as instituições estão funcionando normalmente, e de que não
estamos em um estado de exceção, torna ainda mais evidente o contrário. É da
percepção de toda e qualquer pessoa honesta, e bem informada, que vivemos um
momento de anormalidade democrática. A história demonstra que não possuímos
tradição democrática. A democracia (de baixa intensidade) ocorre nos intervalos
entre os golpes de Estado, sempre praticados por forças conservadoras,
portanto, da direita. O colega do Ministro Barroso, Ricardo Lewandoski definiu
à Revista Exame a situação em que o país se encontra ao afirmar: “o impeachment
de Dilma foi um tropeço na democracia, os quais, o país costuma ter a cada 25
ou 30 anos”.
Para
quem já leu Kafka, especialmente a obra “O Processo”, sabe que não há nada de
mais kafkiano (absurdo, ilógico, etc.) que a forma como foram conduzidos os
processos contra Dilma e Lula. A forma como o Judiciário tem se comportado, é
traduzida na frase de François Guizot: “Quando a política penetra o recinto dos
tribunais a Justiça se retira por alguma porta”. O Ministro Marco Aurélio de
Mello (STF) comentou: “vivemos tempos estranhos” ao se referir a algumas
atitudes do Juiz Sergio Moro responsável pela Lava-jato. O Judiciário impôs
várias chicanes à defesa do ex-presidente Lula, o qual segundo juristas
renomados, não teve direito a um processo legal, imparcial e em absoluta
conformidade com a Constituição Federal e a legislação. Ciente disso, a ONU concedeu
liminar em favor de Lula, a qual foi desobedecida pelos togados ensimesmados e
pouco patriotas que parecem não enxergar (ou são anuentes) o desmonte da nação
levado a cabo por um governo ilegítimo em benefício do Grande Capital nacional
e estrangeiro, e impuseram ao país o status de nação pária (grupo de nações que
desobedecem a ONU).
Uma
juristocracia se implantou no país. A qual em consórcio com a Grande Mídia e
setores corruptos da classe política e empresarial pôs abaixo o edifício da
democracia. O Ministro Marco Aurélio Mello ao definir o atual momento citou Ruy
Barbosa: “A pior ditadura é a ditadura do Poder Judiciário, contra ela não há a
quem recorrer” e reiterou: “o país está desprovido de segurança jurídica para a
quadra delicada que o país atravessa”. Temos em nosso país um dos poderes Judiciários
mais caros do mundo, nem por isso mais eficiente. As regalias concedidas e
autoconcedidas aos magistrados coram de vergonha seus pares na Suécia, os quais
não poupam críticas aos magistrados brasileiros questionando a moralidade
destas. O país vive um momento de grave crise política e econômica, mas, os
magistrados insensíveis à situação de penúria com que vive grande parte da
população, não se fizeram de rogados e aumentaram os seus já nababescos
salários, turbinados que são por gratificações e auxílios imorais como o
auxílio-moradia. Os aumentos concedidos aos vencimentos dos Ministros do STF
provocam efeito cascata sobre o funcionalismo público de alto escalão, algo
catastrófico para um país em crise, mas, o Ministro Tofolli (STF) encontrou a
solução, propôs desvincular o salário de Ministro do STF das demais categorias,
assim, o efeito cascata não mais ocorreria. Dessa forma, o salário dos togados
poderia aumentar livremente, talvez, no modelo “o céu é o limite”. O momento de
ilegitimidade por que passa o país é campo aberto para a colheita dos
magistrados (56% de reajuste desde o golpe). Em 2015, Dilma negou reajuste ao
Judiciário. Negar reajuste ao Judiciário é algo que somente faz quem tem
legitimidade e nada a esconder.
O poder
Judiciário perdeu a credibilidade (que não era muita) perante a população. O
Ministro Barroso afirmou que os juízes estão do lado certo da história. Parece
que ele não foi um estudante aplicado de história, pois, os Juízes não estavam
do lado certo ao dar suporte ao regime escravagista no Brasil e ao Apartheid na
República da África do Sul. Na Alemanha, Hitler falou: “que teríamos feito sem
os nossos juristas?”, os quais foram essenciais para o suporte do nazismo. Em
1936, a Corte Suprema (atual STF) deu anuência para que Olga Benário (esposa de
Luís Carlos Prestes) fosse entregue ao regime nazista de Hitler que a
assassinou. O STF deu suporte à ditadura militar (1964-1985), apenas para citar
alguns exemplos. Enfim, o Poder Judiciário é uma instituição que não só se
amolda às forças dominantes e conservadoras da sociedade como também muitas
vezes é protagonista. Romantismo é pensar que o Poder Judiciário tem como fim
precípuo a observação e aplicação inflexivelmente fiel do Direito “sem olhar a
quem”. Quando magistrados são flagrados e condenados por atividades ilícitas (raramente, pois, há muito
corporativismo) geralmente são aposentados com vencimentos integrais. Os
privilégios que os magistrados desfrutam, além de imorais constituem um entrave
para o avanço da democracia, pois, não os tornam símbolos a serem seguidos na
busca de uma sociedade ideal, sem privilégios e com justiça social para todos.
Na Suécia, as pessoas acham estranho quando se pergunta sobre corrupção no
Poder Judiciário do país, pois, não existe. Precisamos de um Judiciário ao
estilo sueco, impoluto e sem privilégios imorais, ou seja, à altura do país que
queremos e iremos construir!