Um momento constrangedor
para mim é quando uma pessoa pede um livro emprestado. Tenho grande ciúme de
meus livros. Já emprestei livros que nunca recebi de volta, e, outros me foram
devolvidos com manchas de café, amassados e com “orelhas de burro”. Como tenho
consciência da importância do livro no aperfeiçoamento do ser humano, tornei-me
um leitor voraz. Tenho uma leitura eclética: história, geopolítica, sociologia,
filosofia, geografia, economia, política, psicologia, psiquiatria, biologia,
literatura, etc. Tenho dois filhos e professor que sou, há muito observo que apesar
dos esforços dos (as) professores (as) em estimular o apego à leitura, as
chances de sucesso se tornam ainda maiores quando há incentivo dos pais. Sempre
que compro livros, e devido a pouca oferta de títulos em minha cidade,
geralmente o faço por sites da Internet, adquiro também livros para meus
filhos. Recentemente adquiri um livro para minha filha de sete anos, o qual
minha esposa que habitualmente lê histórias para ela no momento de dormir contou-me
o quanto o livro era bom, mas, com a ressalva de que precisava do
acompanhamento de um adulto para explicar à criança as lições de forma que esta
as compreendesse. Logo pensei em emprestar o livro de minha filha, e, após as
minhas reflexões acerca do mesmo, indicá-lo para os pais e mães que se
preocupam com que seus filhos e filhas adquiram o hábito da boa leitura. Minha
surpresa foi quando ela me disse “Não! eu tenho ciúmes de meus livros. Eu puxei
você”. Não pude ficar irritado, apenas ri! E após uma longa conversa, com a
intermediação da mãe, e um tempo para pensar de dois dias, ela enfim concordou
desde que devolvesse o livro até o fim da tarde daquele domingo.
A obra possui ilustrações da Turma da Mônica e é uma
parceria entre o famoso professor e palestrista Mario Sergio Cortella e o
desenhista Mauricio de Sousa. As lições são curtas, uma página e acompanhadas
de ilustrações pertinentes. Grandes pensadores são citados nas lições
destinadas às crianças e não se trata de textos maçantes, mas, alguns aforismos
discutidos e direcionados a estimular o ato da reflexão entre os/as pensadores
(as) mirins. Logo de início o autor mostra que a palavra “um” faz toda
diferença entre pensar pouco e pensar um pouco. E que é sinal de grande
sabedoria buscar o conhecimento mesmo sabendo que jamais se saberá tudo. Afirma
também que mudar de opinião é algo razoável e não denota com isso
submissividade. Cortella diz: “há quatro espécies de pessoas: as que sabem que
sabem, são sábias e podes consultá-las; as que sabem e não sabem que sabem,
faze as se lembrarem e ajuda-as a não esquecerem; as que não sabem que não
sabem, ensina-as; e as que não sabem e proclamam que sabem, evita-as”! Mario
Sergio ensina que as pessoas não devem ter medo de livro grande, pois, desde
que não tratemos como tarefa, muitas páginas podem significar mais tempo de prazer
na leitura. Numa das lições o autor cita um professor de filosofia numa escola
dos Estados Unidos que solicitou aos educandos que fizessem uma redação de
forma a retratar verdadeiramente a coragem. Uma menina, um minuto depois de
começada a avaliação entregou-a ao professor e nela estava escrito somente: “coragem
é isto”! O professor foi obrigado a reconhecer que ela havia retratado muito bem
a coragem, ao correr tão grande risco e deu-lhe a nota máxima!
Cortella também evidencia a sabedoria estradeira quando
cita uma frase de pára-choque de caminhão: “na subida “cê” aperta, na descida
“nóis” acerta” e discorre sobre a humildade na fase de status elevado da
pessoa, pois, a vida tem altos e baixos. Explica também que a origem do termo
“puxa-saco” deve-se ao marinheiro encarregado de carregar o saco de roupas do
comandante do navio e que o termo bajular vem de “bajulus” que era o carregador
de objetos e de pessoas na época do imperador romano Otávio Augusto”. Enfim, é
impossível escrever neste limitado espaço, a variedade e a profundidade das
lições retratadas de forma leve na obra. Fica a dica!
Sugestão
de boa leitura:
Vamos pensar um pouco? Mauricio
de Sousa & Mario Sergio Cortella. Ed.Cortez, 2017.
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