sexta-feira, 17 de julho de 2015
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Lembro que quando cursava o Ensino Superior, li um livro que tratava dos problemas enfrentados por professores de Geografia Crítica ao mexer com interesses de setores reacionários da sociedade, e, num de seus capítulos relatava a história de um professor de Geografia estadunidense chamado William B. que visando contextualizar o conteúdo estudado levou seus alunos ao bairro do Bronx em Nova Iorque para ver como viviam os negros, os quais eram tratados como cidadãos de segunda classe em oposição aos cidadãos anglo-saxões, e essa atividade somada ao seu histórico de questionar o que não devia ser questionado, mas, simplesmente aceito levou-o a perder o emprego, pois o conselho da universidade reunido por causa de algumas reclamações, o dispensou.
O Professor William logo arrumou emprego em outra universidade, pois, era possuidor de currículo invejável (títulos e artigos científicos publicados) e excelente oratória, e, depois de estabelecido no novo emprego continuou a mostrar a aplicabilidade prática dos conteúdos teóricos visando formar cidadãos críticos e em condições de transformar a realidade social. Em sua exploração geográfica descobriu nas cercanias da Universidade, uma fábrica poluindo um riacho, e, dirigiu estudos acerca da poluição do meio ambiente com visitas ao local com os universitários, e incentivou os mesmos a buscar soluções e estes resolveram fazer um protesto cobrando atitudes do empresário para sanar o problema, no entanto, o capitalista exigiu e conseguiu da Universidade a demissão do professor, e o problema ambiental não foi resolvido.
William B. fez uma peregrinação pelos Estados Unidos da América, mas, sua prática de dar significado à teoria e fazer do conhecimento uma ferramenta para a transformação da realidade social, sempre esbarrava nos poderosos interesses de plantão, assim, perdeu o emprego ao mostrar para seus alunos (e questionar) a infra-estrutura precária no bairro onde moravam os trabalhadores, em oposição à excelente infra-estrutura do bairro onde morava a elite econômica ofertada pelo município onde foi morar. Depois de muitas demissões em sua perambulação pelas Universidades estadunidenses foi tentar a sorte no Canadá, não tardou a descobrir que lá também os interesses representados pelo capital falavam mais alto. O professor William B. viu-se obrigado a desistir de lecionar e passou a ganhar a vida como taxista nas ruas de Nova Iorque.
Há no Congresso Nacional, uma iniciativa de projeto de lei que visa impedir a suposta doutrinação dos alunos pelos professores, sendo que setores reacionários da sociedade criaram até a “ONG Escola Sem Partido” para defender o “Ensino Neutro”, tal iniciativa em meu ver não é fruto da ingenuidade, mas de má-fé, pois, a neutralidade científica é uma balela, pois, todo posicionamento é ideológico (a neutralidade pretendida, de forma nada ingênua, inclusive, é conservadora, ou seja, de direita), se aprovado, tal projeto levará a Educação de volta à Idade Média, pois, as pessoas que o defendem negam o acesso à luz aos filhos dos trabalhadores, para que estes alienados, presos às algemas da miséria sejam incapazes de sonhar dias melhores, e, assim continuem tanto nos sonhos, como na vida real, trancafiados à senzala. Ao impedir os professores de trabalhar de forma crítica inviabilizam os Projetos Político-Pedagógicos que tratam a Educação como uma ferramenta para formar um cidadão crítico, esclarecido e capaz de auxiliar na transformação do status quo da sociedade tornando-a mais humana, solidária e fraterna. Se quisessem realmente lutar contra a doutrinação ideológica estariam lutando pela democratização dos meios de comunicação de massa, pois, é a Grande Mídia, especialmente a TV, os grandes doutrinadores ideológicos e não a Escola!
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