quinta-feira, 18 de junho de 2015
Sobre política e religião
Há alguns meses quando me preparava para ir à Curitiba participar de um curso, um amigo que se declara ateu desejou-me pelo WhatsApp, que Deus me acompanhasse. Na volta, ao encontrá-lo, não perdi a oportunidade de cobrar-lhe de forma amistosa, satisfações, pois, sendo ele ateu, não via outra coisa em sua atitude que irreverência. E ele explicou-me que eu acreditava e isso era o que de fato importava, pois, desejava-me que este sentimento me acompanhasse. Cheguei à conclusão que ele tinha razão e resolvi continuar seu amigo, inclusive costumo dizer que ele é um “ateu não praticante”. Por inúmeras vezes ouvi que religião e política não se discute e lembrei-me da frase de Alexandre Boarro: “Somente os tolos acreditam que política e religião não se discute. Por isso, os ladrões continuam no poder e os falsos profetas continuam a pregar”. Nada mais verdadeiro, a própria etimologia da palavra religião remonta ao latim “religare”, ou seja, fazer a religação do ser humano com a sua essência espiritual, mesmo que esta pessoa não reconheça esse estado de paz interior como sendo a presença de Deus. No que concerne à política, Bertolt Brecht afirmou que o desinteresse das pessoas boas por esta oportuniza o sucesso do político vigarista, pois, ao não buscar conhecer as ideologias e projetos políticos dos partidos, faz com que os rostos bonitos e os sobrenomes de grife se elejam e isso perpetua os privilégios de minorias e a pobreza de muitos.
Sou defensor do laicismo do Estado, pois, somente dessa forma a liberdade religiosa é garantida a todos, porém, penso que a bancada evangélica ao fazer em alguns momentos a firme defesa de suas prerrogativas religiosas age de forma contrária aos interesses da maior parcela da sociedade brasileira. Penso que é necessário discutir religião e política, mas, de tudo quanto li sobre os mais diversos países, a mistura de representação política e religiosa é de fato explosiva e deve ser evitada. Sempre que penso em Jesus Cristo o imagino junto aos favelados, aos sem-terra, aos sem teto, aos trabalhadores explorados, aos que são vítimas de injustiças. Também o imagino fazendo correr os líderes religiosos que exploram a fé das pessoas subtraindo-lhes os parcos recursos em troca de promessas de prosperidade e também aos políticos corruptos e aos eleitores que visam à manutenção de seus privilégios e não a redenção das pessoas invisíveis da sociedade (os pobres).
O Papa Francisco está reabilitando sacerdotes ligados à Teologia da Libertação condenados pela Santa Sé justamente por sua opção pelos pobres e oprimidos. A Igreja corrige um erro histórico, pois, segundo o também condenado e ex-Frei Leonardo Boff (um dos maiores intelectuais brasileiros e autor de vários livros), “a Igreja sempre fez política, pois, está na sociedade. Mas fez uma política de direita. Quando começou a apoiar os pobres, o Movimento dos Sem Terra, dos índios, dos afro-descendentes e dos sem-teto e outros, acusaram-na de fazer política. Mas essa é a boa política, pois, defende os mais vulneráveis, objeto do amor privilegiado de Jesus e dos Apóstolos”. Leonardo Boff também afirmou que a grande expansão da Teologia da Libertação na América Latina se deve à contestação às ditaduras militares que grassavam nestas terras e também a luta pela redução das imensas desigualdades sociais. E definiu numa frase o motivo pelo qual a corrente religiosa não se firmou na Europa dos Estados de Bem-Estar Social e sim na América Latina de toda a pobreza: “A pessoa pensa a partir de onde os pés pisam. Assim vale também para as Igrejas”. E termino afirmando que devemos todos (agnósticos, ateus e crentes), aproximarmos nossas atitudes com as de Jesus histórico para que a sociedade seja melhor.
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