quinta-feira, 14 de agosto de 2014
Educação com compromisso social! – parte 2
A Gazeta do Povo veiculou em 20/07/2014 um artigo de autoria do jornalista José Maria e Silva, Mestre em Sociologia pela UFG com o título “Escola não pode ter partido” e nele o autor afirma que “educar é um ato formativo que fala à consciência através da liberdade. Quando isso não ocorre tem-se a doutrinação” e cita a “ONG Escola Sem Partido” com a qual compartilha ideias. Concordo com ele que educar é um ato formativo e que a liberdade é necessária, no entanto, o referido autor que diz defender a liberdade, na verdade, apoia a censura, ou seja, a restrição à liberdade do professor defendendo uma suposta neutralidade que é também um posicionamento ideológico que contribui para a conservação do status quo da sociedade, pois, a apregoada neutralidade é manipuladora e beneficia os privilegiados. Silva nada falou sobre os dois projetos existentes para a Educação brasileira quais sejam: a educação economicista que visa tão somente formar o estudante para compor as fileiras do mercado de trabalho nele se inserindo de forma acrítica, portanto, alienada bem ao gosto de parte da classe empresarial (parece ser esta a preferência do jornalista) e a formação humana que visa emancipar o estudante, indo além do mercado de trabalho, contribuindo na sua conscientização objetivando a sua inserção na sociedade de forma crítica e atuante na construção de uma sociedade menos injusta, mais solidária e cooperativa.
A denominação “Escola Sem Partido” foi uma escolha sagaz, qualquer um concorda (até eu) que na Escola os partidos não devem interferir, porém, a intenção é silenciar, amordaçar a Escola, os/as professores(as) e condenar os livros que trazem uma conotação marxista, ou seja, aqueles cujas páginas trazem a preocupação do autor com as questões sociais e que ousam discutir as mazelas de nossa sociedade causadas pelo modelo econômico vigente. José Maria e Silva também critica o fato de que na “Universidade impera o socialismo apesar do mundo ser capitalista”, nesse caso há três observações a serem feitas: 1. Enquanto houver capitalismo o marxismo que defenestra é a principal ferramenta para a análise crítica do status quo societário e também para humanizá-lo, pois, o capitalismo em si constitui darwinismo social em estado bruto, ou seja, a “lei da selva” onde somente os mais fortes sobrevivem, apesar disso, em nossa sociedade contraditoriamente existe muitos gatos pensando serem leões, defendendo-a. 2. O ingresso na carreira do Magistério no Ensino Superior Público ocorre através de concursos e não é critério para aprovação ser marxista e nem de reprovação ser neoliberal, pois, são aprovados(as) os/as mais preparados(as) independentemente de sua ideologia. Já li/ouvi críticas quanto à Universidade Pública ser uma instituição onde se concentram docentes marxistas e pergunto: onde estão as pesquisas que comprovam isso? Já conversei com vários professores universitários e estes afirmam que os/as conservadores(as) são a maioria e isto se observa também na Educação Básica, então, o que incomoda é na verdade a força dos argumentos dos(as) professores(as) marxistas. 3.O autor do artigo também critica a quantidade de teses e dissertações sobre Marx, no entanto, a verdadeira questão é porque os autores do liberalismo clássico e do neoliberalismo têm sido tão pouco pesquisados? O problema está no objeto de estudo (liberalismo/neoliberalismo) que exerce pouca atração para o desenvolvimento de pesquisas ou estariam sendo os/as professores(as) conservadores(as) menos eficientes no desenvolvimento de pesquisas em tal área? A grande quantidade de pesquisas em Marx é algo positivo, pois, o conhecimento desenvolvido auxilia cidadãos comuns e bilionários como George Soros que afirmam ler Marx para entender o sistema socioeconômico vigente e o mundo atual.
Silva afirma [...]“é preciso – com urgência – resgatar a escola dessa ideologia que a torna refém do ódio de classes”, ou seja, não se trata de partidos, mas sim da ideologia marxista, pois, nada fala da ideologia liberal conservadora da maioria dos(as) mestres(as), porém, a Escola não é refém do ódio de classes e pretende tão somente emancipar o/a estudante a fim de que não se torne mera peça de reposição do sistema (mão de obra alienada e sem capacidade crítica) na manutenção da sociedade injusta que temos. Concluindo, concordo com o autor quando afirma que “Educar é um ato formativo, que fala à consciência através da liberdade. Quando isso não ocorre, tem-se a doutrinação”, porém, negar o acesso ao conhecimento humano ou parte deste (impedir a liberdade) é um ato que fortalece a ideologia contrária, ou seja, também constitui doutrinação e amordaçar o/a professor(a) é algo comum nos regimes ditatoriais por isso, defendo a liberdade para que o/a professor(a), intelectual que é possa livremente expressar a sua visão de mundo e o/a aluno(a) possa tomar conhecimento da produção marxista e também liberal e defender a visão de mundo, de sociedade e de cidadão que julgar ser a melhor, pois, segundo a belíssima letra de “Tocando em Frente” de Almir Sater e Renato Teixeira, citada por José Maria e Silva, “cada um de nós compõe a sua história/ cada ser em si/ carrega o dom de ser capaz”.
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