quinta-feira, 29 de agosto de 2013
Um certo 30 de Agosto!
Em 1988, eu um concluinte do segundo grau, ainda não sabia direito o que iria fazer da vida, trabalhava numa joalheria (ourives) e pensava que após dominar todo o conhecimento necessário, montaria a minha própria loja e até pensava em cursar faculdade (jornalismo), mas não pensava em ser professor. Num certo dia daquele mês de Agosto, estava na rua XV de Novembro quando um repórter (um então jovem velho conhecido) da Rádio Educadora de Laranjeiras do Sul me parou perguntando sobre o meu apoio ou não à greve dos professores, respondi brevemente que os professores estavam certos, eles tinham mesmo que lutar por seus direitos e tinham o meu apoio. No sábado à tarde (não recordo a data!), foi ao ar mais uma edição do extinto, porém excelente programa Visão sob o comando do sempre competente Jaime Spazzini o qual costumeiramente tinha a colaboração especial do saudoso Renato Cesar Klein. No programa em questão estavam entrevistando uma professora líder do comando de greve em nosso município, lembro que a minha fala foi uma das poucas consonantes com a greve. A professora ao ouvir minha fala chamou-me de colega, algo que na época soou estranho para mim, pois, eu não imaginava que isso um dia teria razão de ser.
Há alguns dias, portanto, vinte e cinco anos depois, saindo de uma sala de aula, um aluno me questionou: “professor é verdade que teve um governador que soltou os cachorros para cima dos professores?” Respondi que não, e expliquei-lhe sem entrar em muitos detalhes (pois outra sala me esperava) que o governador da época mandou a polícia retirar os professores da área em que faziam passeata (concentração) e os PMs avançaram com a cavalaria para cima dos mestres e que teve feridos. O aluno então falou: “e como pode ele continuar se elegendo?” Respondi: Não sei! E fui para outra sala! Depois, comentei com alguns professores e em casa refleti acerca da questão e cheguei à conclusão que a constatação dele era coerente, afinal, se de fato a Educação e os professores tivessem pela sociedade a valorização que merecem tal político cujo nome recuso falar, não por medo de represália, mas pela energia negativa que pensar em seu nome traz, (e nem é necessário, o fato é por todos conhecido), jamais se elegeria novamente. Naquela ocasião (1988), o Magistério perdeu uma batalha, mas não a guerra! Nestes vinte e cinco anos aumentamos a nossa organização e mobilização e fizemos da APP-Sindicato, o maior e mais atuante sindicato do Estado, sempre em busca de melhorias na Educação possibilitando melhores condições de trabalho para os educadores (professores e funcionários) e consequentemente de aprendizagem para os educandos. Certamente há muito que avançar, mas seguimos em busca da utopia necessária de uma educação pública, universal, gratuita e de excelente qualidade como sustentáculo de uma sociedade justa, solidária e fraterna, tal como disse Eduardo Galeano: “A utopia está lá no horizonte. Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”.
Se os políticos fossem sensatos e realmente engajados num projeto de país e não apenas de poder, educadores não precisariam sair de suas salas para reivindicar justos direitos, e se o fazem merecem ser bem recebidos pela importância da profissão que exercem e não da forma truculenta como foram tratados em 30 de Agosto de 1988. Se você discorda pergunte para um médico, um advogado, um engenheiro, um professor, etc. qual foi o profissional mais importante de sua vida e verá que existe a figura do professor que abriu as portas para o exercício de sua profissão. No Japão o professor é o profissional mais respeitado, inclusive o Imperador não raras vezes também se curva para este como prova de mútuo respeito quando dele recebe o cumprimento. Os países desenvolvidos fizeram da Educação prioridade e do professor um grande aliado para galgar ao topo da hierarquia do IDH entre as nações, e se mesmo assim você discorda, deixo a frase proferida por Derek Bok, quando Reitor da Universidade de Harvard: “Se você acha a educação cara, experimente a ignorância”. Penso que o 30 de Agosto (de 1988) não deveria ter ocorrido, mas é fato, então que a passagem dessa data seja sempre um momento de luta por dias melhores para a educação e que a lembrança seja eterna para que aquele “dia(s)” nunca mais se repita!
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
O gênio pop star
Alguns leitores gostam das sugestões de livros que faço neste
espaço, então, como acabo de fazer uma leitura muito aprazível, indico a obra
“Einstein: Sua vida, seu universo” de Walter Isaacson. Trata-se de uma leitura
agradável que conduz a um passeio entre a vida particular e a carreira
científica daquele que é considerado o maior gênio da história. Isaacson
consegue com grande sensibilidade retratar um Einstein humano com seus
problemas de ordem pessoal (familiar e financeira), suas dificuldades para ingressar
no meio acadêmico e desenvolver ciência, descreve sua carreira, os acertos e
erros e os erros que se converteram em acertos, pois, mesmo quando esteve
equivocado Einstein contribuiu para o avanço da Ciência. Com a leitura da obra
é possível avistar uma tênue luz no fim do túnel que leva ao entendimento dessa
revolução na história da Ciência chamada Teoria da Relatividade.
O gênio que assombrou o mundo nasceu a 14 de Março de 1879 em Ulm,
alemão de nascimento, porém de ascendência judaica, quando criança demorou a
falar, foi considerado um garoto idiota por algumas pessoas próximas, mas,
quando iniciou seus estudos esteve sempre entre os melhores da turma (ao
contrário do que muito se fala a seu respeito). Sempre teve ojeriza à
autoridade e dessa forma muitas vezes seu comportamento como acadêmico não era
exatamente adequado, por conta disso, adquiriu a antipatia de alguns mestres
que dificultaram sua inserção no meio acadêmico como professor universitário.
Einstein mergulhava cada vez mais na ciência conforme os problemas
de ordem pessoal se avolumavam, e apesar de seus esforços desenvolvendo artigos
científicos teve que se contentar com o emprego de examinador de patentes do
Escritório Federal de Propriedade Intelectual de Berna (Suíça), trabalho no qual,
durante as horas vagas em 1905 desenvolveu quatro artigos que se complementavam
e davam a certidão de nascimento à teoria da Relatividade Especial afirmando
que o tempo e o espaço não eram absolutos colocou a ciência de cabeça para
baixo.
Mudou-se para Berlim, e em 1915 desenvolveu a Teoria da
Relatividade Geral, com a confirmação da veracidade de suas teorias em
experiências desenvolvidas por outros cientistas tornou-se celebridade mundial,
e, realizou palestras itinerantes por vários países cujos ingressos eram
disputados e contados aos milhares. Em 1933, o Nazismo ascendeu ao poder na
Alemanha e o gênio resolveu aceitar o convite para trabalhar nos Estados
Unidos, país no qual viveu o resto de seus dias, foi muito investigado pela
CIA, por ser simpatizante do socialismo em plena época da “caça às bruxas” do
Macarthismo. Era contra qualquer tipo de opressão e não aceitava o cerceamento
da liberdade de expressão e por isso não poupava críticas referente ações dos
EUA neste sentido e nem mesmo ao stalinismo soviético, líder pacifista, pregava
a desobediência civil quando da convocação para as Forças Armadas, por tudo
isso foi muito criticado, sendo considerado um asno por políticos e populares,
sendo assim, falou: “Grandes espíritos sempre encontram forte oposição de
mentes medíocres”.
O receio que os nazistas desenvolvessem a bomba levou-o a escrever
uma carta para o Governo Estadunidense sobre a necessidade de fabricar a bomba
atômica que a ciência por ele desenvolvida tornava possível, porém, nunca participou
diretamente do desenvolvimento da arma, por não ser considerado confiável pelas
autoridades militares. Após a explosão das bombas em Hiroshima e Nagazaki, fato
que considerou lamentável foi questionado por um repórter sobre como seria a
Terceira Guerra Mundial, afirmou que “sabia apenas como seria a Quarta Guerra
Mundial: com pedras”.
Até o último dia de sua
vida esteve às voltas com as equações buscando entender o Universo e tentando
resolver o problema que a criação da bomba atômica ocasionou, defendia a
criação de um Governo Mundial para evitar as guerras (o único a ter posse das
armas atômicas). O “passageiro do raio de luz” finalizou sua viagem por esta
dimensão espaço-tempo de forma absoluta em 18 de Abril de 1955 aos 76 anos, no
entanto, sua partida será sempre relativa, imortalizado em sua ciência, seu
corpo foi cremado e suas cinzas liberadas no Rio Delaware conforme seu pedido,
pois não queria que seu túmulo fosse local de peregrinação. Embora o gênio
tivesse algumas vezes falado que não gostava de sua popularidade, isso não
correspondia ao seu comportamento, ele adorava repórteres e os repórteres o
adoravam.
Einstein era pop e gostava disso!
Sugestão de boa leitura:
ISAACSON, Walter. Einstein: sua vida, seu
universo. Companhia das Letras
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
O Efeito Gabriela
Há muito tempo observo o quão forte é o “Efeito Gabriela” em nossa sociedade, no entanto antes de discorrer sobre o mesmo é necessário que se explique a sua origem que remonta a 1975, quando o cantor e compositor Dorival Caymmi fez para Rede Globo “Modinha para Gabriela” então tema de abertura da telenovela Gabriela inspirada na obra “Gabriela, cravo e canela” do saudoso Jorge Amado. Sobre a novela, a imagem fixada na mente das pessoas que assistiram a primeira versão é a cena da então jovem e sensual atriz Sonia Braga trajando um vestido sobre o telhado de uma casa mexendo ficticiamente com o imaginário dos homens de Ilhéus e também com o imaginário dos homens que assistiram a obra televisiva, embora nem tão ficticiamente (se é que me entendem!). Mais recentemente, a não menos bela atriz Juliana Paes interpretou a referida personagem em uma regravação feita pela mesma emissora, não tenho o hábito de assistir novelas, mas soube que a regravação não teve o mesmo brilho da versão original com Sonia Braga.
Reminiscências à parte, o nosso interesse é outro, a letra de “Modinha para Gabriela” que então composta ficou popularizada na voz de Gal Costa e tinha como refrão “Eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim, vou ser sempre assim: Gabriela, sempre Gabriela!”. O refrão de tal música acabou se tornando a definição do que ficou conhecido como “Efeito Gabriela”, ou seja, aquelas pessoas que se recusam a mudar mesmo quando confrontadas com a realidade dos fatos ou de argumentos que desmontam a racionalidade da estrutura mental que embasa sua forma de agir perante a sociedade. Não raramente tais pessoas acometidas pelo “Efeito Gabriela” se irritam quando não conseguem triunfar na sua argumentação tentando justificar aquilo em que acreditam perante outras pessoas, mesmo assim, prosseguem acreditando em ideias equivocadas, porque para elas não se trata de um debate “no mundo das ideias” (uma oportunidade de ambos os debatedores crescerem), mas de se curvar perante aquele que apresentou a mais consistente argumentação, ou seja, algo que o orgulho (ou a teimosia) não admite, aqui se vê o “Efeito Gabriela” em ação: “Eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim, vou ser sempre assim: Gabriela, sempre Gabriela!”.
Penso que é absolutamente normal e saudável que as pessoas tenham opiniões diferentes, pois se todos pensassem igualmente, nisso poderia residir o perigo ou no mínimo a burrice, no entanto, existem situações que carecem de qualquer racionalidade e pessoas insistem em acreditar e passar adiante inverdades, manipulações e boatos mesmo contra todas as provas possíveis e imagináveis em contrário. Algumas destas pessoas quando confrontadas com a irrealidade daquilo que estão proferindo se indignam e não raras vezes passam a nutrir um sentimento de antipatia com seus interlocutores. O “Efeito Gabriela” é um mal que acomete pessoas independentemente de sua posição social, nível de escolarização ou idade e parece ser incurável. Diante disso, o melhor é saber como lidar com as pessoas por ele acometidas, assim, meu conselho é: nem todo debate vale a pena, e, aceitar que pau é pedra e que elefantes dormem nos galhos das árvores da Floresta Amazônica pode lhe evitar dissabores (vai por mim!).
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
O moleque dono da bola!
Há alguns dias Aécio Neves (PSDB – MG) discursou propondo o fim das reeleições, para quem é jovem, é necessário que se diga que o instrumento da reeleição era algo negado pela Constituição Federal, ou seja, o governante precisava deixar o cargo por um mandato e então se recandidatar ao mandato seguinte. Eu disse precisava, pois, num país onde os políticos têm o costume de adaptar a Constituição à sua forma de governar e não o correto que seria adaptar a sua forma de governar à Constituição, os partidos políticos (liderados pelo PSDB) que davam sustentação ao Governo de FHC resolveram mudar a Constituição Federal para implantar a reeleição alegando que essa era uma metodologia adotada em várias democracias consolidadas do planeta entre elas os Estados Unidos da América e que quatro anos era um prazo insuficiente para a execução das reformas que o país precisava. Todos sabem que Fernando Henrique Cardoso tem grande zelo por sua biografia, mas, na ocasião não teve dúvidas de manchá-la (se bem que existem outras inúmeras manchas!) com um golpe branco alterando a Constituição Federal em benefício próprio, pois o correto seria alterá-la para o mandato seguinte, ou seja, somente quem se elegesse em 1998 teria o direito de se recandidatar.
Em 2009, houve quem sugerisse dentro do PT a alteração da Constituição para que não houvesse a limitação de apenas uma recondução ao cargo, assim, Lula poderia novamente se candidatar do alto de sua imensa aprovação popular, no entanto, tal fala foi logo abafada pela oposição e pela grande mídia avessa à ideia e mesmo Lula se pronunciou contra tal estratagema contrariando alguns colegas de partido, sim, Lula não era FHC e tinha uma biografia a zelar. Na época escrevemos o artigo “Terceiro mandato: a oposição não dorme de touca” destacando a grande agilidade da oposição em não permitir que o mesmo artifício (golpe) aplicado por FHC fosse agora utilizado por Lula e apesar de aprovar a gestão de Lula e de ser admirador de sua trajetória política também me posicionei contra a rereeleição pelos riscos à democracia que ela podia implicar. Eu tenho orgulho de dizer que jamais votei em FHC, mas isso não me exime de lamentar muitas coisas que FHC fez em seus dois mandatos tais como o irresponsável e lesa-pátria programa de privatizações conhecida como “privataria” (privatização + pirataria) o qual se a Justiça realmente funcionasse neste país, FHC e muitos figurões do seu governo estariam respondendo por crimes de improbidade administrativa conforme ficou evidenciado com provas no Livro “A Privataria Tucana” de Amaury Ribeiro Jr.
Em nenhum dos países considerados pela situação em 1997 (atual oposição) como “democracias consolidadas” a ferramenta da reeleição foi retirada e os Estados Unidos da América, país que muitos tupiniquins neoliberais sonhariam ter nascido continua permitindo a reeleição (Obama é presidente reeleito). Penso que uma recondução ao cargo é viável e algumas vezes até necessária, pois as questões governamentais são complexas e exigem ações cujo prazo de quatro anos pode ser pouco para efetivá-las, como afirmaram os tucanos em 1997. Então qual é o motivo pelo qual aqueles que implantaram a reeleição à custa inclusive de denúncias comprovadas de compras de votos para conseguir atingir os 3/5 dos parlamentares para a alteração constitucional agora desejam o seu fim? A resposta, caro leitor, eu tiro dos meus tempos de moleque, pois, pobre (embora nunca me faltasse o essencial) raras vezes fui dono de bola de futebol e naquele tempo o garoto dono da bola jogava sempre (mesmo que fosse perna-de-pau), escolhia os melhores jogadores para o seu time, assim, aumentava as possibilidades de ser vitorioso, porém, ao começar a levar um “vareio” no jogo e não vendo possibilidades de virá-lo, não raras vezes pegava a bola e ia para casa. Aécio Neves tem muito desse moleque dono da bola, pois, “ele e seu partido consideram que a reeleição somente é válida se os beneficiar” como disse um apresentador de telejornal cujo bordão utilizo para encerrar este artigo: Aécio, “isso é uma vergonha”!
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