quinta-feira, 18 de abril de 2013
O tomate, o Bolsa-Família e a classe média
A classe média brasileira não para de crescer com a chegada de novos integrantes que até recentemente formavam a classe baixa, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em 2002 a classe média brasileira somava 38% e em 2012 atingiu a marca de 53%, obra das gestões de Lula e Dilma. A classe média brasileira forma um universo de cerca de 100 milhões de habitantes e caso fosse um país seria o 12º mais populoso do planeta, logo atrás do México. Podemos constatar a existência de duas classes médias, a recém chegada, exultante com a melhoria de sua condição socioeconômica e aquela que há muito ocupa a cadeira nesta faixa de renda. Nos últimos dez anos, o aumento real do poder aquisitivo dos trabalhadores de baixa renda contribuiu para sua ascensão social, e há até pessoas da elite desse país que afirmam: “viajar de avião, ir à Nova Iorque ou fazer cruzeiro marítimo perdeu a graça”, pois, hoje qualquer brasileiro que ganhe razoavelmente pode fazer isso.
Mas como disse, existem duas classes médias, a recente, que feliz comemora o alargamento da abertura do funil de acesso ao mercado de consumo, e a “veterana”, que se sente abandonada e reclama do preço do tomate e da política de concessão do Bolsa-Família a qual considera um fardo a sustentar. Então, vamos por partes, vivemos em um país capitalista, a economia é de mercado, e, portanto, regida pela lei da oferta e da procura, se o tomate está caro seja por efeito sazonal, climático, especulativo, não importa, a defesa do consumidor é fazer a lei funcionar em seu favor, ou seja, fazer a substituição do produto por outro ou o consumir menos, dessa forma com a procura menor o preço tende a cair. Lembro-me que em dado momento na era FHC, o “tomate” da época foi a carne bovina cujos altos preços levaram os consumidores a substituí-la pela carne de frango que atingiu consumo recorde, depois, os preços se ajustaram. O importante é o consumidor não se deixar explorar. O governo pode liberar a importação, fazer a reforma agrária, incentivar a agricultura familiar, estimular o agricultor a produzir, mas não pode controlar o tempo atmosférico e ouviria uma gritaria geral por parte da elite econômica e empresarial se tentasse tabelar preços, e a mesma grande mídia de massa, a que tanto estardalhaço faz com o preço do tomate se levantaria para condenar o atual governo pela “medida autoritária e ineficaz”. Também acho contraditórias as pessoas que cobram intervenções do governo para abaixar os preços do produto uma vez que muitas são ardorosas defensoras do capitalismo sendo que o liberalismo prega que a “mão invisível” do mercado tratará de ajustar tudo. Confiemos então na “infalibilidade” da mão invisível do mercado já que alternativa no momento inexiste.
Outra gritaria de algumas pessoas da classe média veterana diz respeito ao Bolsa-Família, curioso, descobri tomando como ano de referência 2012, que foram gastos dezesseis bilhões e seiscentos e noventa e nove milhões de reais ante um orçamento geral da União de dois trilhões, duzentos e cinquenta e sete bilhões de reais. Dessa forma, o gasto do Governo Federal com o Bolsa-família é de 0,73% (menos de 1%) do referido orçamento, o que torna o programa muito barato como já o afirmou várias organizações internacionais. Levando em conta que nenhum imposto foi criado para manter o programa, os referidos custos se referem a realocação de gastos, economiza-se em algo para sobrar para o mesmo. Mas como a curiosidade é grande me questionei: dos impostos que cada família de classe média paga quanto vai para que o programa seja executado, procurei na Internet e nada achei. Então utilizando o percentual do “impostômetro” tomado como “verdadeiro” que coloca em 35% a tributação brasileira e utilizando como exemplo uma família classe média formada por quatro pessoas e uma renda mensal familiar de R$ 4000,00 descobri que a família paga anualmente R$ 18200,00 de impostos (incluído o imposto incidente sobre o 13º). Multiplicando o índice de 0,73% (do programa) encontrei o valor anual de R$ 132,86 e dividindo por 12 o valor mensal dos impostos que vão para o programa é da ordem de R$ 11,07. Disso conclui-se: o brasileiro paga muito imposto, mas o fardo da classe média não é o Bolsa-Família e afirmar sê-lo é no mínimo desinformação, quando não mesquinhez, ou pior, preconceito social.
P.S. *1. Cada família do Programa Bolsa-Família é avaliada e classificada na faixa de benefício correspondente e que varia entre o mínimo de R$ 32,00 e máximo de R$ 306,00.
*2. O cálculo aqui realizado sobre os impostos da família utilizada como exemplo, serve apenas como indicativo, pois como o impostômetro leva em conta impostos federais, estaduais e municipais o valor destinado para o Bolsa-Família é certamente menor.
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