domingo, 29 de abril de 2012
Casa Grande e Senzala
No final do ano de 2011 o PIB do Brasil superou o PIB da Toda Poderosa Inglaterra e alcançou, portanto o sexto lugar entre as nações que mais produzem riquezas. O PIB é o Produto Interno Bruto, ou seja, a soma monetária dos bens e serviços finais produzidos por um país num prazo determinado que pode ser como no caso, anual (o ano de 2011). Não sabemos se o país manterá a posição conquistada, e nem mesmo se as projeções de que o Brasil futuramente se tornará a quinta potência econômica se confirmarão. No entanto, sabermos que o país no IDH 2011 (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU encontra-se apenas no 84º lugar atrás de países muito mais pobres faz com que coremos de vergonha. Seria melhor que não constássemos entre os 10 maiores PIB’s e estivéssemos entre os 10 países melhor colocados na lista de desenvolvimento humano. É o que acontece com a Noruega, o melhor país do mundo em IDH e cujo PIB (1/5 do PIB Brasileiro) encontra-se no 24º lugar (FMI 2011).
Se acrescentarmos à análise a posição brasileira no Índice de Gini cujo coeficiente verifica a desigualdade na distribuição da renda de países, estados e municípios e os classifica num ranking, chegamos à constatação de que vivemos num país extremamente desigual, portanto, perversamente injusto. Somos o terceiro pior colocado segundo a ONU (2010). Há no Brasil um Apartheid¹ social, uma diminuta parcela da população (os 10% mais ricos) com nível de vida e renda que supera em apropriação da riqueza nacional a parcela correspondente nos demais países desenvolvidos e na outra ponta da corda, os 10% mais pobres, fadados à miséria e ao não recebimento de sua justa fatia no bolo da riqueza nacional e que não lhe permite uma sobrevivência digna. Durante a Ditadura Militar se tornou famosa a frase de um Ministro da Fazenda que sempre ao ser questionado sobre a desigualdade social afirmava: “É necessário fazer o bolo crescer para depois dividir!”, pois bem, o bolo cresceu, mas a divisão não ocorreu, pois, aos verdadeiros ricos (os 10%) no período se destinou aproximadamente a metade do bolo e migalhas aos 10% mais pobres. Após a criação do Plano Real e, sobretudo a partir do Governo Lula (2003 -2010) a desigualdade social começa a declinar lentamente, através da política de Estado de aumento real do poder aquisitivo do salário mínimo e de programas de transferência de renda, porém, continua sendo destinado uma fatia gigantesca da renda nacional (42%) para os mais aquinhoados tupiniquins.
Os programas sociais de transferência de renda e a política de valorização do salário mínimo fazem com que haja uma percepção pela sociedade de que parcela da população (os mais pobres) avança mais rapidamente na participação na renda nacional como se tivessem índices de crescimento do PIB comparáveis aos da China e índices oficiais para os demais. A parcela mediana da sociedade fica então com a impressão de que seu status social se encontra em queda ao entrar no avião e verificar nele embarcados pessoas de classes sociais mais baixas. Sim, as classes C e D estão em ascensão e entraram para valer no mercado de consumo e isso é ótimo para toda a população, pois, a economia de um país é como um organismo, se um órgão está doente, todo o organismo funciona mal. Se observarmos a distribuição da renda nos países desenvolvidos, verificamos que a desigualdade social é muito menor, como também menor é a mendicância, a violência, o analfabetismo, a mortalidade infantil, etc.
Precisamos entender que há uma grande diferença entre ser uma potência econômica e um país desenvolvido, o Brasil caminha a passos largos consolidando cada vez mais sua posição como uma das nações mais importantes do mundo no que tange à economia, porém, se queremos ser um país desenvolvido devemos refletir seriamente sobre uma frase de Augusto Cury que afirma: “No meu mundo os mais fortes servem os mais fracos, diferentemente do seu mundo onde os mais fracos servem aos mais fortes. Qual é o mais justo?”
*1. Foi um regime de segregação racial adotado de 1948 a 1994 pelos sucessivos governos do Partido Nacional na África do Sul, no qual os direitos da grande maioria dos habitantes foram cerceados pelo governo formado pela minoria branca. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Apartheid - acesso em21/04/2012.
domingo, 22 de abril de 2012
Arcabouço ou calabouço teórico?
Sócrates, famoso filósofo grego, real ou criado por Platão, não importa, “vive” ainda hoje, através de seus inestimáveis ensinamentos e certa vez enunciou: "A vida não examinada não vale a pena ser vivida", nada mais verdadeiro, pois sabemos, o conhecimento amadurecido e bem utilizado pode libertar uma pessoa e inversamente torná-lo seu prisioneiro. Durante nossa efêmera existência, na escola, na coletividade e na individualidade estamos o tempo todo construindo um arcabouço teórico que dita a forma como pensamos e agimos em sociedade. Este conjunto de valores, crenças e idéias nos dão a individualidade que ora nos aproxima, ora nos afasta de outros indivíduos da sociedade. Esta individualidade tem um caráter enriquecedor quando agrega à coletividade valores que auxiliam a dar ao grupo majoritário a definição de um rumo na busca da evolução societária, portanto, um indivíduo pode mudar toda a forma de pensar e agir de uma coletividade, mas nem sempre a coletividade pode mudar a forma de pensar e agir de um indivíduo, principalmente quando este se arraigou ao conhecimento que desenvolveu de tal forma que transformou seu arcabouço teórico num calabouço teórico.
O arcabouço teórico de um indivíduo é construído através da experiência de vida e principalmente das inúmeras leituras realizadas sobre os ensinamentos deixados por grandes pensadores e que possibilita ao mesmo conseguir analisar o mundo e a sociedade de uma forma racional, compreendendo a realidade em suas particularidades, superando dessa forma o senso comum. No entanto, o arcabouço teórico de um estudioso não é algo imutável, pois o mundo está em constante evolução e as informações se acumulam de forma titânica e delas não damos mais conta, se ontem estávamos atualizados, hoje, podemos estar defasados perante a capacidade do mundo e da sociedade de se reinventar, porém, precisamos manter um Norte, não podemos ser tragados pela evolução dos acontecimentos que nem sempre levam ao melhor, é necessário que preservemos um conjunto de idéias, valores e crenças para sabermos se os rumos tomados pela coletividade levam a algum lugar ou a lugar nenhum.
Vivemos um momento em que as ideologias caem por chão, a atual sociedade neoliberal, globalizada e pós-moderna nivela a todos por baixo e não há teoria para sustentar o arranha-céu de cartas que se construiu, dentro desse cenário é muito difícil para um indivíduo abandonar idéias, valores ou crenças que por muito tempo considerou corretas, mas, que aparentemente não correspondem mais à realidade diante da mutação societária em curso, este se vê algemado a um conjunto de pensamentos que se tornaram seu calabouço. Não poucas pessoas encontram-se neste estágio, penso que evoluir não significa abandonar a sua causa e abraçar a bandeira do momento, isso é alienação, mas também, não é algemar-se a uma estratégia, que com o tempo, mostrou-se ineficaz, infrutífera. Como o conhecimento verdadeiro é libertador, há que se pensar a realidade com as ferramentas necessárias para tal. Preservar sua individualidade, ou seja, aquilo que lhe dá identidade e que o torna único numa sociedade doente como a que vemos tornou-se uma atitude heróica, pois, pensar a realidade é fazer o que nem todos desejam. Para grande parte da sociedade, seguir o curso do rio causa menos exaustão, remar contra o rumo dos acontecimentos para quê? E eu fico aqui pensando se tudo aquilo em que acredito constitui um arcabouço teórico para a minha libertação ou se estou preso em um calabouço de idéias que jamais me levarão a lugar algum.
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Com que livro eu vou?
Há alguns dias soube que
algumas pessoas se demonstraram interessadas no livro “A Arte da Guerra” após
lerem o artigo “Leia antes que seja tarde” veiculado por este jornal no qual
teço comentários sobre a obra de Sun Tzu. Porém, fiquei particularmente feliz
ao conversar com uma Professora de Educação Física que é também minha amiga que
afirmou ter adorado o referido livro, e, que dele estava extraindo importantes
ensinamentos para a prática desportiva. Disse que comprou o livro após dele
tomar conhecimento através desta coluna. Segundo a professora algumas vezes ela
quer ler algo diferente daquilo que está na onda do momento, os tradicionais
Best Sellers (livros mais vendidos) ou da área específica e gosta de minhas
sugestões. Então sempre que gostar muito de uma obra vou indicá-la aqui como
“Sugestão de Boa Leitura”.
Lembrei-me de Noel Rosa
quando compôs o famoso samba “Com que roupa?” no qual entoava: (...) “E eu
pergunto: com que roupa? Com que roupa que eu vou?” e, parafraseando-o criei o
título do presente artigo, pois, saber que livro comprar é algo muitas vezes
difícil, é necessário ver se o livro em questão agradará ao seu “paladar
literário”, e, mesmo agradando existe a questão do momento, eu sou muito atento
a isso, compro muitos livros, sem ligar para a classificação dos mais vendidos,
mas apenas aqueles que tenho real interesse, algo não muito difícil,
pois, sou bastante eclético, leio sobre quase tudo e não apenas obras da minha
área de formação, costumo ler ao mesmo tempo dois e até três livros, intercalando-os
conforme meu estado de espírito, sublinho e faço anotações naquilo que acho
importante e que possa me ser útil noutro momento.
No entanto, ter vários
livros empilhados para ler, não te dispensa da tarefa de analisar seu momento
para escolher a leitura adequada, nesse instante penso no dilema das mulheres
para escolher a roupa e tento decidir o livro que vou ler. Penso tal como
Monteiro Lobato que “um país se faz com homens e livros”, infelizmente nós
brasileiros lemos muito pouco, e, esta é a causa para o preço “salgado” do
livro, eterna reclamação de muitos leitores e também nem tão leitores assim.
Segundo pesquisa que fiz, mais uma vez a explicação está no Capitalismo, como o
mercado é pequeno, a produção se realiza numa pequena escala o que encarece o
exemplar, se a procura fosse grande a escala de produção seria maior e o preço
por exemplar seria mais baixo.
Para mim livros são como
troféus, leio-os e talvez não os releia, mas adoro vê-los em minha estante,
emprestar somente sobre juramento (de tratá-lo bem, com lealdade, retidão de
caráter, gratidão, etc.) com a mão sobre a Bíblia e com entrega de cópia
autenticada em cartório da certidão de bons antecedentes (criminais)...
(risos), sou realmente ciumento, já perdi livros que não me foram devolvidos e
tive de readquirir e também já recebi livros com manchas que inexistiam. Não
gosto de fotocópias e até o momento resisto ao modelo digital, sei das
vantagens do e-book (livro digital) e das desvantagens da versão tradicional,
porém, penso que a alma do livro está nas folhas de papel que manuseio.
Ao ler sinto grande prazer, esqueço dos problemas, das chateações e viajo
nas linhas e entrelinhas que vislumbro a cada página virada, fazendo as
inter-relações do que leio com leituras anteriores e ao concluir a leitura de
um livro jamais sou o mesmo de antes e a satisfação é tal como se conquistasse
mais um troféu e estivesse diante de um novo amigo de cuja amizade sempre vou
poder contar, pois, livros são amigos eternos.
Nesta
semana, 14/15 de Abril ocorre o centenário do choque com iceberg/naufrágio do
famoso transatlântico Titanic, aproveitando o ensejo, deixo a dica:
Sugestão de Boa Leitura:
FARACO, S. O
Crepúsculo da arrogância, RMS TITANIC minuto a minuto. L&PM editores,
Porto Alegre, 2006.
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