“Conhece-te a ti mesmo” foi o lema que pautou a filosofia do famoso grego Sócrates que, real ou criado por Platão para fundamentar seu pensamento, (não é nosso propósito entrar nessa seara), o fato é que, se é difícil conhecermo-nos, pois julgamos ser uma pessoa, outros nos consideram diferentes daquilo que pensamos e, na verdade, talvez sejamos algo distinto daquilo que acreditamos ser e do que os outros pensam que somos. Se conhecer a si próprios é uma tarefa hercúlea que dizer então sobre conhecer a “alma” da sociedade humana e do espaço geográfico por ela construído?
A visão de mundo das pessoas é muito limitada, poderíamos dizer “míope” com o perdão das pessoas que sofrem deste problema visual. Não conseguem ver muito além daquilo que lhe é próximo. Ver a essência dos fenômenos não é tarefa fácil, exige muito estudo, observação, reflexão e como sabemos nem sempre as pessoas são afeitas ao ato de pensar. Pensar é uma árdua tarefa já o afirmava Einstein completando que talvez por isso tão poucos se dedicassem a ela. Dessa forma existe um discurso muito conhecido na sociedade segundo o qual se deve aceitar o mundo como ele é (aparenta ser), afinal as coisas são e sempre foram assim e não há como mudar.
É uma mentalidade conformista, apática e que busca o prazer imediato, ou seja, se é mais fácil adaptar-se à situação por que lutar para mudá-la? Sendo mais fácil nos unirmos aos poderosos mesmo que em troca de migalhas que nos permitem o mero sobreviver porque lutar a custo de muito sacrifício ao lado do grupo mais fraco pelo incerto reconhecimento da dignidade humana a que todos têm direito?
O conformismo, a apatia da sociedade não é algo gratuito, faz parte da estratégia da elite dominante e do sistema econômico hegemônico, o capitalismo que imbuído do darwinismo social determina os mais aptos à sobrevivência na selva econômica em que se tornou o planeta que a tudo e a todos estabelece um valor de acordo com a lei da oferta e da procura. O valor do seu trabalho não é pautado na importância do mesmo para a sociedade, mas de acordo com a oferta de profissionais que se disponham a realizá-lo e a procura por tal serviço. Entende-se desta forma porque importante meio de comunicação considerou que “fulano levava uma medíocre vida de professor, todo certinho, lecionando suas aulas” é que professor tem bastante (portanto, vale pouco de acordo com a lei da oferta e da procura). Além disso, têm o péssimo hábito de pensar e há entre os mesmos alguns que ainda pensam “erradamente” e propagam na sociedade sua “torta visão de mundo”, questionando o “inquestionável”, aquilo que é “perfeito”, incorruptível, infalível, o deus “Mercado”.
O mundo é o resultado das intrincadas relações aparentes e ocultas entre os seres humanos e o meio físico e não se apresenta aos mesmos senão em camadas. A maioria das pessoas apenas observa as camadas superficiais, outros conseguem ver algumas camadas mais internas, mas poucos se dedicam a descobrir o cerne da humanidade enquanto natureza que se modifica a si própria. Descobrir o cerne da humanidade enquanto produtor do espaço geográfico não se faz senão no estágio da práxis revolucionária. É preciso decompor o objeto em partes menores para entender a significação das partes para ter uma noção mais clara do todo.
Como alguém já disse: “o pior cego é aquele que não quer ver” e muitos não o querem mesmo, pois, muitas pessoas aprisionadas à escuridão da caverna tal como na alegoria de Platão, temem enxergar a luz e perceber que o mundo é muito diferente daquilo que supunham. Ignoram, ao assim agir, que a capacidade de se reinventar, mudar sua forma de ser, viver e se relacionar com aquilo do qual faz parte: a natureza, é que faz de um homo sapiens um ser humano. É necessário, portanto acostumar os olhos a doses diárias e homeopáticas de “luz” com a consciência de que a verdade é tão valiosa que somente pode ser conquistada com o esforço pessoal (não nos é ofertada gratuitamente) e que esta somente tem valor quando revertida em benefício de toda a sociedade.
REFERÊNCIA:
KOZIK, K. Dialética da Totalidade Concreta: O Mundo da Pseudoconcreticidade e sua Destruição In: Escola e Desigualdade Social, APP/UFPR, 2010, Caderno I, pag.28-35.