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domingo, 28 de julho de 2024

SPQR: uma história da Roma Antiga

 

Mary Beard (Dame Winifred Mary Beard - 1955) é uma estudiosa da Roma Antiga. Ela é professora de estudos clássicos na Universidade de Cambridge e de literatura antiga da Academia Real Inglesa. Beard é editora sobre os estudos clássicos do The Times Literary Suplement onde também escreve o blog "A Don´s Life". Suas frequentes aparições na mídia e, às vezes, declarações públicas controversas levaram-na a ser descrita como "a antiquista mais conhecida da Grã-Bretanha". Mary Beard foi nomeada Oficial da Ordem do Império Britânico (OBE) nas homenagens de Ano Novo de 2013 e Dama Comandante da Ordem do Império Britânico (DBE) nas homenagens de aniversário de 2018 por serviços prestados ao estudo das civilizações clássicas. O The New Yorker a define como a erudita, mas acessível" (WIKIPEDIA).

            A sigla SQPR significa em latim "Senatus Populus Que Romanus", ou seja, Senado do Povo de Roma. A obra foi originalmente publicada em 2015 e a primeira edição brasileira aportou aqui em 2017. É uma obra acessível para leigos em história da Roma Antiga, porém, rica em conteúdo mesmo para o público leitor mais especializado. A autora parte do embate entre o Cônsul Cícero e o Senador Catilina. Cícero denunciou Catilina por sua pretenção em dar um golpe na República Romana. Cícero desbaratou o movimento golpista e levou Catilina e seus seguidores à pena de morte, porém, sem que tivessem sido ouvidos. No último dia de seu governo, Cícero tentou falar sobre as realizações de seu governo no Senado, porém foi impedido pelos senadores oposicionistas que afirmaram que quem não deixa acusados darem a sua versão dos fatos, não tem direito a ser ouvido naquela casa.

            Em seguida, a autora discorre sobre a fundação de Roma (possivelmente 21 de abril de 753 a.C.) e em uma ordem cronológica, narra na forma de  pequenas biografias de reis (período monárquico), cônsules (período republicano) e os principais fatos de seus governos. O Império Romano, sabemos das aulas de história, se estendeu por toda a costa mediterrânea (porções da Europa, Ásia e África) e que suas tropas militares eram muito cruéis, no entanto, a autora afirma que seus adversários também eram. A obra detalha aspectos pitorescos da vida romana como as pichações bem humoradas encontradas no banheiro de um bar sobre o que importantes filósofos gregos pensariam enquanto se "aliviavam".  Isso leva à constatação de que ou, o povo era instruído ou o bar era muito bem frequentado. Fica a sugestão!

 

Sugestão de boa leitura:

Título: SPQR: uma história da Roma Antiga..

Autor: Mary Beard.

Editora: Crítica,  2020, 576 p.

domingo, 21 de julho de 2024

Quincas Borba

Há alguns meses, os brasileiros tiveram conhecimento do sucesso de vendas dos livros "Memórias póstumas de Brás Cubas" e de "Dom Casmurro" de Machado de Assis nos Estados Unidos. Grande parte desse sucesso se deve à divulgação apaixonada da booktuber Courtney Henning Novak pela literatura do nosso "Bruxo do Cosme Velho". Quincas Borba é uma obra da fase realista do escritor, publicado originalmente (1892) em folhetins, conta com algumas personagens que já haviam aparecido em Memórias póstumas de Brás Cubas com a intenção de manter o mesmo universo do referido livro e também seu estilo jocoso. A personagem Quincas Borba, apesar de dar nome à obra, não é a principal, pois o filósofo fez do cão de estimação, seu xará, ao dar-lhe seu próprio nome. Ninguém sabe a quem Machado se referiu ao dar tal título.

            O "filósofo" Quincas Borba teve em vida, como principal "mérito", herdar uma fortuna milionária. Gosta de se mostrar um sábio perante seus amigos, os quais tenta lhes fazer seguidores de sua pretensa filosofia que denomina "humanitas" ou "humanitismo". Milionário que é, possui muitas amizades interesseiras, que somente por isso, emprestam seus ouvidos às suas excentricidades. Trata-se de uma ironia machadiana à elite brasileira (carioca) que se pretendia iluminista como a sociedade europeia, porém, tinha seus privilégios de classe calcados no escravismo. A personagem principal é Rubião, um pobre professor que se aproxima de Quincas para ganhar suas boas graças e ser lembrado com alguma coisa no testamento, para isso converte-se em seu enfermeiro (cuidador). Quincas é idoso e morre logo no início da trama e deixa toda a fortuna para Rubião, desde que ele mantenha e cuide seu xará (o cão) com todo o zelo até o final da vida deste, e então,  lhe providencie um belo jazigo.

            Rubião, um matuto transformado em milionário da noite para o dia, se convence de ser na vida, um vencedor e, como tal, merece o melhor, muda-se de Barbacena (MG) para a Corte no Rio de Janeiro. Milionário, faz muitas "amizades", apaixona-se por Sofia, uma jovem e linda senhora casada, que, com seu marido (Palha) buscam sugar seu dinheiro em negociatas. Sofia joga charme para manter o interesse de Rubião, mas, não cede aos seus desejos. Políticos lhe propõem ser candidato, pois com seu dinheiro poderia eleger-se parlamentar do Império, tal status lhe agrada. Rubião movido por sua megalomania, torna-se um mecenas, um filantropo e, não reconhece obstáculos que não possam ser superados por seu dinheiro, que pensa não ter fim.

Sugestão de boa leitura:

Título: Quincas Borba.

Autor: Machado de Assis.

Editora: Panda Books,  2020, 440 p.

sábado, 13 de julho de 2024

Vitória de Pirro - Parte 6

 

         A iniciativa do governador Ratinho Júnior (PSD) de privatizar escolas públicas paranaenses, causou polêmica na mídia e, principalmente nas redes sociais. A repercussão foi tão negativa, que até mesmo o apresentador José Luiz Datena afirmou ser absurdo privatizar escolas públicas. Sabemos que em toda eleição, o povo quer saber o plano de governo e os temas centrais são, via de regra, a educação, a segurança e a saúde. Desta forma, jamais os candidatos neoliberais (direita e extrema direita) são suficientemente claros quanto a sua política privatista ou de redução de investimentos em educação, saúde e segurança, afinal, se assim fossem, suas campanhas naufragariam.

            O governo do Paraná sob Ratinho Júnior faz uso de práticas antissindicais. Tais práticas incluem, retirada de diretores eleitos pela comunidade escolar de seus cargos; desconto de salários de trabalhadores em greve sem o devido direito a reposição; imposição de dificuldades/recusa do desconto via folha de pagamentos das mensalidades dos trabalhadores ao sindicato, tal fato levou o sindicato a ajuizar recurso (vitorioso) na justiça. Além disso, a política do vigiar e punir se tornou a regra na educação paranaense, de tal forma, que muitos são os professores que, por receio, se recusam a responder questionamentos dos estudantes que, como parte interessada, desejam saber os motivos de paralisações ou greves. Também há professores que deixaram de trabalhar de forma a desenvolver a criticidade dos estudantes para evitar  processos na ouvidoria abertos por denúncias anônimas, que podem (hipoteticamente) partir de elementos perfilados ideologicamente ao governo contra profissionais que não estejam alinhados (até nas entrelinhas) com a política educacional de governo.

            O estarrecimento da parcela esclarecida e democrática da sociedade brasileira e internacional veio quando o Governo do Paraná, por meio da Procuradoria Geral do Estado, pediu a prisão da presidenta da APP - Sindicato  Walkiria Mazetto. A criminalização de sindicatos e movimentos sociais, bem como de suas lideranças, é algo comum em ditaduras, assusta pensar que o governante tome tais atitudes em tempos pretensamente democráticos. Ratinho Júnior tanto fez pela privatização em seu governo que ficou nu perante a sociedade brasileira, despido que foi da imagem de democrata. Venceu, mas sua vitória mais parece uma derrota! Foi uma vitória de Pirro!

 

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Vitória de Pirro - Parte 5

 

            O governador Ratinho Júnior (PSD) afirma que não se trata de uma privatização das escolas públicas paranaenses, mas, de uma parceria com empresas privadas na qual estas ficam com a gestão administrativa das unidades escolares liberando os diretores destas para a dedicação exclusiva ao setor pedagógico. Assusta a desfaçatez com que afirma isso nos meios de comunicação. Ele acredita que a sociedade paranaense é tão ingênua assim? Eu fui diretor de escola e digo, basta a contratação de um agente II, que é um profissional de nível médio, com custo mais barato que  um professor para fazer tal função em cada unidade escolar. Não há, portanto a necessidade da entrega das escolas para que empresários cumpram o papel que é do Estado.

            Digo também que não há meia gravidez, como não há meia privatização. Sobre isso lembro do saudoso Leonel Brizola quando disse: "tem focinho de jacaré, corpo de jacaré, pata de jacaré, rabo de jacaré, então, como que não é jacaré"? Trata-se de um negócio da China para agradar os empresários. O empresário recebe um prédio escolar (sem pagar aluguel) e o governo vai repassar recursos financeiros equivalentes a R$ 800,00 mensais por aluno. Em uma escola com 600 estudantes, o montante mensal será de R$ 480.000,00.

            O governo diz que investe esse valor por aluno nas escolas públicas (desconheço quem acredite nisso e não tenha um cargo comissionado). No entanto, se isso é verdade, como todos sabemos, a empresa privada visa lucros, então, irá economizar fazendo cortes nas despesas das unidades escolares privatizadas. Estes cortes podem ser em merenda mais barata para os estudantes, superlotação de salas de aula, a troca de professores graduados, especialistas, mestres ou doutores (com salários maiores) por professores graduandos celetistas (mais baratos). Dessa forma, o valor de fato aplicado ao estudante será inferior ao praticado pelo governo.

            A terceirização resultará em menor investimento/aluno a guisa de garantir os polpudos lucros do empresário. Se, por outro lado, como a maioria dos trabalhadores da educação acredita, as escolas públicas privatizadas irão receber um valor por aluno muito superior ao aplicado pelo governo nas escolas públicas, por que não aplica esse valor (R$ 800,00/aluno) em todas as escolas públicas?