Fora dos muros
que cercam os prédios escolares e universitários, resenhar e ouvir resenhas é
viver. Não se pode dizer o mesmo no espaço entre tais muros, pois, receber a
incumbência de fazer uma resenha é algo que todo estudante gostaria de não ter.
"Resenha é um gênero textual que traz levantamentos de alguma obra (livro,
filme, etc.) sob o ponto de vista de um leitor, podendo apresentar um viés
crítico ou não"¹. Há regras para a elaboração de uma resenha, mas não
entrarei nesta seara.
Este escriba, costuma trazer neste
espaço, resenhas de obras literárias. Sei que as pessoas não afeitas à leitura
de livros, não costumam deitar seus olhos nesta coluna. Também publico artigos
de opinião política, econômica e social, os quais também passam ao largo do
interesse de muitas pessoas. Escrevo para um público cada vez mais restrito,
que, em pleno século XXI, ainda ousa ler, se informar, enfim, refletir.
Há alguns anos, encontrei um
professor dos tempos do Ensino Fundamental - séries finais (1º Grau), que
afirmou gostar de meus artigos, mas, fez uma ressalva, disse que a juventude
não lê artigos longos e que eu deveria escrever no padrão Tweeter (140
caracteres). Disse ao professor que não era para esse tipo de pessoa que eu
escrevia, pois, meus artigos demandam espaço para a fundamentação e reflexão,
algo não possível em artigos curtos, e que tal leitor não seria do tipo
reflexivo que é para quem escrevo. No dia em que tal leitor não existir mais,
aposento a "caneta".
Há ocasiões, e não são poucas, em
que buscamos acrescentar mais leveza aos nossos dias, isso é compreensível ante
a aridez das relações humanas, seja no trabalho ou no círculo social que
frequentamos. Essa é a proposta desse artigo. A definição de resenha aqui
adotada passa longe dos muros das instituições escolares e universitárias, ou
seja, é aquela de caráter informal e que costuma ser adotada por jogadores de
futebol, jovens da periferia, ou ainda, nas rodas de chimarrão ou nos grupos de
churrasco.
Lembro que, há alguns anos, alertado
por meus médicos, sobre a necessidade de cuidar da saúde, resolvi começar
treinos em uma academia de musculação. Nestes locais, é muito comum encontrar
estudantes para os quais lecionamos. Em certa ocasião, ainda nos meus primeiros
dias de treinos, encontrei dois estudantes do terceiro ano do Ensino Médio que
passaram a observar o meu treino. Eu estava fazendo um percurso aleatório, não
havia uma ordem pré-determinada para a escolha dos equipamentos. Dessa forma,
eu ia num equipamento e colocava uma carga (peso) condizente com a minha
condição de iniciante.
Os dois estudantes, logo em seguida,
pegavam o mesmo equipamento e colocavam a carga (peso) dobrada e riam muito. A
cada equipamento que escolhia, eles vinham e faziam troça. Não me irritei e nem
me expliquei quanto ao fato de ser iniciante na atividade. Também não os
repreendi. Mas, pensei que deveria dar troco. Fui para a casa e, verifiquei que
no dia seguinte teria aula com a turma deles. No Ensino Fundamental e Médio,
nós professores trabalhamos com o conhecimento básico, muito aquém de nossa
capacidade e formação.
Preparei a aula deles (como se
estivesse lecionando para estudantes universitários) de forma fundamentada,
referenciada e evitei substituir as palavras "difíceis" (na verdade,
abusei delas) por outras de uso comum na faixa etária/série deles. Lecionei a
aula que, em meu ver, foi maravilhosa, no nível que gostaria de sempre
trabalhar, pois me trouxe prazer ao mesmo tempo que me desafiou. No entanto,
como professores da educação básica, nosso esforço constante deve ser na
inteligibilidade, fazer com que o estudante do nível/etapa em que se encontra,
compreender o conhecimento científico. Algo que na ocasião, não fiz, pois passei
a régua pelo alto. Na hora do intervalo, comentei com alguns professores que
havia dado uma aula padrão universitária, para mostrar aos estudantes que se
"eles malhavam os músculos, eu malhava o cérebro". Os professores
riram, mas, um dentre eles (entre risos) disse: eles não entenderam a lição
(revide) que eu quis dar e também não entenderam nada da aula! (risos). Penso
que ele tem razão!
Referência:
1. Brasil Escola. Disponível
em
https://brasilescola.uol.com.br/redacao/a-resenhauma-forma-recriacao-textual.htm
- acesso em 26 de setembro de 2023.
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