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domingo, 1 de outubro de 2023

Resenhar é viver

 

        Fora dos muros que cercam os prédios escolares e universitários, resenhar e ouvir resenhas é viver. Não se pode dizer o mesmo no espaço entre tais muros, pois, receber a incumbência de fazer uma resenha é algo que todo estudante gostaria de não ter. "Resenha é um gênero textual que traz levantamentos de alguma obra (livro, filme, etc.) sob o ponto de vista de um leitor, podendo apresentar um viés crítico ou não"¹. Há regras para a elaboração de uma resenha, mas não entrarei nesta seara.

            Este escriba, costuma trazer neste espaço, resenhas de obras literárias. Sei que as pessoas não afeitas à leitura de livros, não costumam deitar seus olhos nesta coluna. Também publico artigos de opinião política, econômica e social, os quais também passam ao largo do interesse de muitas pessoas. Escrevo para um público cada vez mais restrito, que, em pleno século XXI, ainda ousa ler, se informar, enfim, refletir.

            Há alguns anos, encontrei um professor dos tempos do Ensino Fundamental - séries finais (1º Grau), que afirmou gostar de meus artigos, mas, fez uma ressalva, disse que a juventude não lê artigos longos e que eu deveria escrever no padrão Tweeter (140 caracteres). Disse ao professor que não era para esse tipo de pessoa que eu escrevia, pois, meus artigos demandam espaço para a fundamentação e reflexão, algo não possível em artigos curtos, e que tal leitor não seria do tipo reflexivo que é para quem escrevo. No dia em que tal leitor não existir mais, aposento a "caneta".

            Há ocasiões, e não são poucas, em que buscamos acrescentar mais leveza aos nossos dias, isso é compreensível ante a aridez das relações humanas, seja no trabalho ou no círculo social que frequentamos. Essa é a proposta desse artigo. A definição de resenha aqui adotada passa longe dos muros das instituições escolares e universitárias, ou seja, é aquela de caráter informal e que costuma ser adotada por jogadores de futebol, jovens da periferia, ou ainda, nas rodas de chimarrão ou nos grupos de churrasco.

            Lembro que, há alguns anos, alertado por meus médicos, sobre a necessidade de cuidar da saúde, resolvi começar treinos em uma academia de musculação. Nestes locais, é muito comum encontrar estudantes para os quais lecionamos. Em certa ocasião, ainda nos meus primeiros dias de treinos, encontrei dois estudantes do terceiro ano do Ensino Médio que passaram a observar o meu treino. Eu estava fazendo um percurso aleatório, não havia uma ordem pré-determinada para a escolha dos equipamentos. Dessa forma, eu ia num equipamento e colocava uma carga (peso) condizente com a minha condição de iniciante.

            Os dois estudantes, logo em seguida, pegavam o mesmo equipamento e colocavam a carga (peso) dobrada e riam muito. A cada equipamento que escolhia, eles vinham e faziam troça. Não me irritei e nem me expliquei quanto ao fato de ser iniciante na atividade. Também não os repreendi. Mas, pensei que deveria dar troco. Fui para a casa e, verifiquei que no dia seguinte teria aula com a turma deles. No Ensino Fundamental e Médio, nós professores trabalhamos com o conhecimento básico, muito aquém de nossa capacidade e formação.

            Preparei a aula deles (como se estivesse lecionando para estudantes universitários) de forma fundamentada, referenciada e evitei substituir as palavras "difíceis" (na verdade, abusei delas) por outras de uso comum na faixa etária/série deles. Lecionei a aula que, em meu ver, foi maravilhosa, no nível que gostaria de sempre trabalhar, pois me trouxe prazer ao mesmo tempo que me desafiou. No entanto, como professores da educação básica, nosso esforço constante deve ser na inteligibilidade, fazer com que o estudante do nível/etapa em que se encontra, compreender o conhecimento científico. Algo que na ocasião, não fiz, pois passei a régua pelo alto. Na hora do intervalo, comentei com alguns professores que havia dado uma aula padrão universitária, para mostrar aos estudantes que se "eles malhavam os músculos, eu malhava o cérebro". Os professores riram, mas, um dentre eles (entre risos) disse: eles não entenderam a lição (revide) que eu quis dar e também não entenderam nada da aula! (risos). Penso que ele tem razão!

Referência:

1. Brasil Escola. Disponível em https://brasilescola.uol.com.br/redacao/a-resenhauma-forma-recriacao-textual.htm - acesso em 26 de setembro de 2023.

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