Rosinha Futebol Clube
Quando piás, eu e meus amigos (com os quais compartilhava a "fome
de bola") resolvemos montar um time de futebol. Juntamos dinheiro contado
(éramos muito pobres) para comprar as camisas. Nas lojas da cidade só
encontramos camisas brancas em número suficiente, ocorre que times com camisas
brancas era o que mais havia, o que se constituía um problema. Um de nossos
amigos veio com a solução, havia falado com a mãe sobre o problema e ela
sugeriu comprar as camisas brancas e tingi-las. Resolvido o problema,
compramos as camisas e as entregamos para a mãe de nosso amigo que se
prontificou em fazer o tingimento destas. Entregamos também dinheiro para que
comprasse as tintas para tingimento e pedimos a ela que escolhesse uma
"cor bem bonita". Dias depois fomos buscar as camisas, ocasião em que
alguns caíram na risada, outros por sua vez, ficaram muito bravos. A prestativa
mãe escolheu a cor mais bonita dentre as tintas que havia e, em seu ver esta
era a cor de rosa. Como a febre por jogar futebol era grande, vestimos as
camisas e ficamos muito populares, nem tanto por nosso talento nas quatro
linhas, mas, pelo nosso belíssimo uniforme, o que nos rendeu o apelido de
Rosinha Futebol Clube! Até hoje rio dessa passagem!
O
sermão que ouvi na sala do diretor
Cursei o Ensino de 2º Grau (atual Ensino Médio) no
Colégio Estadual Gildo Aloísio Schuck em Laranjeiras do Sul. Trabalhava em uma
loja de peças automotivas durante o dia e frequentava o curso Técnico em
Contabilidade à noite. Era estudioso, porém muito quieto. Evitava me pronunciar
na sala de aula, mesmo quando sabia as respostas aos questionamentos que os
professores dirigiam à turma. Em certa ocasião, alguns colegas no lado direito
da sala conversavam, eu sempre me postei à esquerda, na política, inclusive (risos).
A professora explicava a matéria e interagia com algumas colegas que sentavam
nas carteiras próximas à mesa dela. Eu mantinha-me quieto, prestava atenção à
aula, mas também observava a algazarra dos colegas.
Um dos colegas que participavam da algazarra, resolveu
interessar-se pela aula e perguntou à mestra algo que não havia entendido. A
professora respondeu que não ia explicar novamente, pois ele não estava prestando atenção na aula, uma vez
que estava no grupo da bagunça. O colega levantou da carteira e, em voz
ríspida, disse que ela tinha a obrigação de explicar novamente, pois era paga
para isso e, ele como aluno, tinha o direito de ter sua dúvida sanada. A mestra
saiu da sala chorando e não voltou à
sala. Alguns minutos depois, o inspetor de alunos me chamou pelo nome e
sobrenome. Como naqueles dias, minha mãe andava doente, temi por alguma notícia
ruim.
Perguntei de que se tratava, o inspetor disse que o
diretor queria falar comigo. Minha angústia aumentou e, só pensava em minha
mãe. Entrei na sala do diretor (não o conhecia pessoalmente), ele tinha sido
nomeado interventor no colégio pela Secretaria Estadual de Educação e veio de
Curitiba com a missão de colocar ordem no colégio. Problemas muito graves
haviam ocorrido naquele tempo. Pedi licença e ele mandou-me sentar. Perguntei
do que se tratava e ele disse: "cala a boca e espera" enquanto
escrevia algo em um livro-ata (livro negro). Como ele não falou nada de pronto,
imaginei que nada tinha a ver com minha mãe, questionei-o novamente sobre o que
se tratava e ele disse: "cala a boca e espera eu terminar aqui".
Passados alguns minutos, ele começou a falar: "então
você é o Osnélio Vailati, que é apenas aluno e pensa que é professor...",
eu tentei argumentar e ele disse: Cala a boca e escuta! Ouvi incontáveis
minutos de sermão (em tom ríspido), não sei dizer quantos, mas, para mim,
pareceu meia hora. Até que ele disse: "agora assina aqui, está suspenso
por três dias". Foi quando pude falar: "Mas, não fui eu...", e
ele perguntou: "você não é Osnélio Vailati?" Respondi: "Sou! Mas
não fui eu...foi um colega"! Quem foi? Respondi que não ia contar, mas,
que poderia trazer a professora para confirmar que não era eu. O diretor mandou
chamar a professora, ela chegou à sala da direção e disse: Nãããooo! Não é
eleeeee! O diretor (visivelmente irritado) me liberou (sem pedir desculpas)
enquanto eu voltava para a sala todo molhado (da mijada homérica e indevida que
recebi), encontrei a professora, o inspetor de alunos e o colega que certamente
ouviria o sermão que ele já havia ensaiado comigo.
Na aula seguinte, a professora me pediu desculpas, o
diretor jamais! À época, fiquei chateado! Paguei por um crime que não cometi!
Superado o trauma, conto rindo para as pessoas que se o livro-ata não foi
extraviado ou incinerado, deve ter uma ata não assinada contra mim,
provavelmente com a afirmação: "Nula" ou "Sem efeito"!