O intelectual italiano
Umberto Eco disse que "a Internet deu voz a uma legião de imbecis",
basta abrir algumas páginas de notícias, analisar o teor das discussões dos
leitores e constatar a veracidade de sua afirmação. Há "doutores de
Facebook"* para tudo, seja no futebol, na economia, na educação, na
medicina, etc., aos quais parece dispensável os longos anos de estudo de
centenas de artigos científicos, livros e infindáveis aulas e palestras na formação
superior e na pós-graduação, pois em sua arrogância, consideram-se portadores
de um "notório saber". O sujeito vai consultar um médico e determina
para este, o remédio que deseja tomar (Cloroquina e/ou Ivermectina), mesmo com
o médico (que estudou muitos anos para se formar) afirmando a ineficácia destes
remédios para Covid, em pesquisas científicas em todo o mundo. Qualquer pessoa
sensata e educada teria humildade para reconhecer que o médico estudou muito e,
deve saber mais sobre o tema, não é o caso dos "doutores de Facebook"*.
Há casos em que, na discordância do diagnóstico a ser registrado em atestado
médico, houve até tentativas de agressão física a profissionais de saúde. Na
mesma linha, há pessoas que nunca questionaram a origem das vacinas que tomaram
a vida toda e, agora o fazem nesse momento angustiante e crítico da pandemia. Lembramos,
então, das aulas de história sobre a "revolta da vacina" em que
pensávamos: "como eram burros". Não sabíamos que, em pleno século
XXI, em meio a uma pandemia, teríamos um movimento anti-vacina alimentado por
fake news. Os "doutores de Facebook"* questionam a eficácia e a
segurança das vacinas desenvolvidas por importantes e renomados laboratórios
científicos do mundo todo, mas, nada falam sobre a segurança dos alimentos que
vão para a sua mesa, produzidos com a utilização de agrotóxicos proibidos em
grande parte do mundo.
No mundo paralelo em que vivem os "doutores de
Facebook"*, as soluções são sempre simples, falta apenas a vontade de
fazer. Afirmam: "O Brasil, para ser respeitado e exercer a sua soberania
de forma plena, precisa construir a bomba atômica. E para isso, basta solicitar
aos deputados que alterem a Constituição Federal (1988) que proíbe a confecção
do artefato e construí-la. De posse da bomba, nunca mais outras potências nos dirão
o que fazer com a Amazônia". Esquecem/ignoram que, no governo FHC o Brasil
assinou o tratado de não proliferação nuclear junto à Agência Internacional de
Energia Atômica (AIEA - ONU). Por ele, o país se obriga a se submeter a
inspeções regulares dessa agência. O país também assinou acordo recíproco de
inspeção e de não confecção de tais artefatos junto a Argentina. Há câmeras que
transmitem 24h/dia via Internet (para a AIEA e para a Argentina) tudo o que se
faz dentro de nossos laboratórios de pesquisa nuclear.
O país pode fazer pesquisa nuclear somente para fins
pacíficos (medicina e energia atômica). A produção da bomba atômica não é algo
que um país consiga manter sigilo. Se rompesse o tratado, ao Brasil seriam impostos
embargos econômicos e políticos (Soft Power) determinados pelos EUA e/ou ONU. Nesse
cenário, os demais países deixariam de comprar/vender produtos do/para o
Brasil. O país se veria numa crise econômica sem precedentes (já estamos mal,
imagine com embargo econômico). Os Estados Unidos fariam ataques cibernéticos para
atrasar nosso programa nuclear e, se insistíssemos, utilizariam drones para
eliminar nossos principais cientistas e poderiam fazer bombardeios de nossos
laboratórios de pesquisa e centrais nucleares (Hard Power). Nesse ínterim, a Argentina
(por receio do Brasil) retomaria o seu programa de construção da bomba atômica
(que encontrava-se mais avançado quando foi suspenso). O Chile, por receio da
Argentina, também faria algo nesse sentido. Enfim, a situação se tornaria caótica
na América do Sul, algo que não interessa à ONU, nem aos EUA, que considera a
América Latina como seu quintal desde a Doutrina Monroe. Enfim, parafraseando
Garrincha quando se referiu ao selecionado russo na copa de 1958, para fazer a
bomba atômica, "primeiro teríamos que combinar com os americanos".
* Leia-se "doutores"
de redes sociais e sites de fake news.
Nenhum comentário:
Postar um comentário