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sábado, 16 de janeiro de 2021

Opiniões e opiniães - parte 1

 

                  O intelectual italiano Umberto Eco disse que "a Internet deu voz a uma legião de imbecis", basta abrir algumas páginas de notícias, analisar o teor das discussões dos leitores e constatar a veracidade de sua afirmação. Há "doutores de Facebook"* para tudo, seja no futebol, na economia, na educação, na medicina, etc., aos quais parece dispensável os longos anos de estudo de centenas de artigos científicos, livros e infindáveis aulas e palestras na formação superior e na pós-graduação, pois em sua arrogância, consideram-se portadores de um "notório saber". O sujeito vai consultar um médico e determina para este, o remédio que deseja tomar (Cloroquina e/ou Ivermectina), mesmo com o médico (que estudou muitos anos para se formar) afirmando a ineficácia destes remédios para Covid, em pesquisas científicas em todo o mundo. Qualquer pessoa sensata e educada teria humildade para reconhecer que o médico estudou muito e, deve saber mais sobre o tema, não é o caso dos "doutores de Facebook"*. Há casos em que, na discordância do diagnóstico a ser registrado em atestado médico, houve até tentativas de agressão física a profissionais de saúde. Na mesma linha, há pessoas que nunca questionaram a origem das vacinas que tomaram a vida toda e, agora o fazem nesse momento angustiante e crítico da pandemia. Lembramos, então, das aulas de história sobre a "revolta da vacina" em que pensávamos: "como eram burros". Não sabíamos que, em pleno século XXI, em meio a uma pandemia, teríamos um movimento anti-vacina alimentado por fake news. Os "doutores de Facebook"* questionam a eficácia e a segurança das vacinas desenvolvidas por importantes e renomados laboratórios científicos do mundo todo, mas, nada falam sobre a segurança dos alimentos que vão para a sua mesa, produzidos com a utilização de agrotóxicos proibidos em grande parte do mundo.

            No mundo paralelo em que vivem os "doutores de Facebook"*, as soluções são sempre simples, falta apenas a vontade de fazer. Afirmam: "O Brasil, para ser respeitado e exercer a sua soberania de forma plena, precisa construir a bomba atômica. E para isso, basta solicitar aos deputados que alterem a Constituição Federal (1988) que proíbe a confecção do artefato e construí-la. De posse da bomba, nunca mais outras potências nos dirão o que fazer com a Amazônia". Esquecem/ignoram que, no governo FHC o Brasil assinou o tratado de não proliferação nuclear junto à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA - ONU). Por ele, o país se obriga a se submeter a inspeções regulares dessa agência. O país também assinou acordo recíproco de inspeção e de não confecção de tais artefatos junto a Argentina. Há câmeras que transmitem 24h/dia via Internet (para a AIEA e para a Argentina) tudo o que se faz dentro de nossos laboratórios de pesquisa nuclear.

            O país pode fazer pesquisa nuclear somente para fins pacíficos (medicina e energia atômica). A produção da bomba atômica não é algo que um país consiga manter sigilo. Se rompesse o tratado, ao Brasil seriam impostos embargos econômicos e políticos (Soft Power) determinados pelos EUA e/ou ONU. Nesse cenário, os demais países deixariam de comprar/vender produtos do/para o Brasil. O país se veria numa crise econômica sem precedentes (já estamos mal, imagine com embargo econômico). Os Estados Unidos fariam ataques cibernéticos para atrasar nosso programa nuclear e, se insistíssemos, utilizariam drones para eliminar nossos principais cientistas e poderiam fazer bombardeios de nossos laboratórios de pesquisa e centrais nucleares (Hard Power). Nesse ínterim, a Argentina (por receio do Brasil) retomaria o seu programa de construção da bomba atômica (que encontrava-se mais avançado quando foi suspenso). O Chile, por receio da Argentina, também faria algo nesse sentido. Enfim, a situação se tornaria caótica na América do Sul, algo que não interessa à ONU, nem aos EUA, que considera a América Latina como seu quintal desde a Doutrina Monroe. Enfim, parafraseando Garrincha quando se referiu ao selecionado russo na copa de 1958, para fazer a bomba atômica, "primeiro teríamos que combinar com os americanos".

* Leia-se "doutores" de redes sociais e sites de fake news.

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