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sábado, 23 de janeiro de 2021

Opiniões e opiniães - parte 2

 

               No passado, pesquisas foram realizadas para verificar se a inteligência incomum de pessoas que se destacaram na sociedade seria transmitida geneticamente. Houve então o acompanhamento de jovens cujos progenitores foram considerados gênios e o resultado encontrado demonstrou que, na quase totalidade dos casos, os filhos tinham Q.I. dentro dos padrões normais, ou seja, eram apenas medianos. A resposta não estava no DNA e nem nas estruturas cerebrais de tais gênios. Enfim, a genialidade se expressa em indivíduos (independentemente de gênero, etnia ou classe social) sem que a ciência tenha pleno conhecimento dos fatores desencadeadores, mas, sabe-se que são vários e particulares. O ambiente contribui para isso, porém, não determina, pois, surgiram gênios em ambientes que em nada contribuíram para o seu intelecto e, pessoas medíocres em locais onde se respirava ciência e cultura. É natural que uma pessoa em seu processo de desenvolvimento cognitivo cometa erros. Afirma-se que se aprende mais com os erros do que com os acertos, no entanto, para aprender com os erros é necessário que a pessoa tenha humildade. A humildade não é característica da personalidade dos "doutores de Facebook"* que sustentam suas "verdades" ante as mais sólidas provas contrárias. A genialidade não é transmitida pelo DNA e nem mesmo o ambiente a determina,  mas, geralmente é fruto de muito esforço. A burrice por sua vez é fruto da preguiça de pensar, de refletir, de buscar outras fontes, de livrar-se de pré-conceitos. Em sua arrogância, os "doutores de Facebook", no que concerne ao conhecimento, acreditam que são como o copo cheio a transbordar, porém, ignoram que seu copo transborda porque está invertido e encontra-se vazio!

            O intelectual estadunidense Noam Chomski disse com razão: "as pessoas já não acreditam mais nos fatos". A interpretação dos fatos vale mais do que o fato em si e, se o que importa é a interpretação, então, escolho a interpretação que melhor me aprouver. Há alguns dias William Bonner (apresentador da TV Globo) disse em rede nacional de TV que, todo jornalista no exercício de sua função, tem como missão trazer a verdade para o seu público, porém, indivíduos irresponsáveis acessam as redes sociais e espalham fake news e que eles (jornalistas sérios, no exercício de sua profissão) se sentiam como se estivessem esgrimindo com loucos". Bonner em parte tem razão, afinal, é verdade que as redes sociais possibilitaram a qualquer indivíduo ou grupo, de forma irresponsável lançar fake news e, colher os dividendos políticos dessa ação, porém, não foram as redes sociais pioneiras na utilização de fake news com fins políticos.

            A mídia tradicional, por sua trajetória, não pode se arvorar isenta, pois, trilha esse caminho desde sempre, omitindo, distorcendo e interpretando os fatos como lhe é mais conveniente e, dessa forma, construindo mitos, destruindo reputações, propagando a sua visão de mundo e de sociedade e, impondo sua pauta (da classe social de seus proprietários) para o governo de plantão, enfim, elegendo e destituindo governantes e ditando os rumos do país. No entanto, a mídia tradicional precisa preservar um pouco de sua credibilidade, os sites de fake news, nem isso, pois, seus seguidores agem como "irmãos de fé" e as fake news são tratadas como dogmas que não podem ser questionados sob pena de serem acusados da heresia dos tempos pós-modernos a saber: de serem comunistas, esquerdistas, petistas, etc. Os sites de fake news, convertidos em templos fundamentalistas do conservadorismo e de tudo o que há de mais retrógrado na sociedade, possuem redatores que sabem o que as pessoas querem ouvir/ler e, com isso as manobram para a direção desejada, para tal, beneficiam-se do baixo nível de discernimento crítico e do excesso de preguiça de seus seguidores para buscar fontes confiáveis de informação. Não à toa, uma pesquisa internacional verificou que a população brasileira é a segunda com o pior desempenho em percepção da realidade, ou seja, o que pensa, não corresponde aos fatos. Para concluir, evoco novamente Noam Chomski quando afirmou: "A população geral não sabe o que está acontecendo, e nem sequer sabe que não sabe".

* Leia-se "doutores" de redes sociais e sites de fake news.

sábado, 16 de janeiro de 2021

Opiniões e opiniães - parte 1

 

                  O intelectual italiano Umberto Eco disse que "a Internet deu voz a uma legião de imbecis", basta abrir algumas páginas de notícias, analisar o teor das discussões dos leitores e constatar a veracidade de sua afirmação. Há "doutores de Facebook"* para tudo, seja no futebol, na economia, na educação, na medicina, etc., aos quais parece dispensável os longos anos de estudo de centenas de artigos científicos, livros e infindáveis aulas e palestras na formação superior e na pós-graduação, pois em sua arrogância, consideram-se portadores de um "notório saber". O sujeito vai consultar um médico e determina para este, o remédio que deseja tomar (Cloroquina e/ou Ivermectina), mesmo com o médico (que estudou muitos anos para se formar) afirmando a ineficácia destes remédios para Covid, em pesquisas científicas em todo o mundo. Qualquer pessoa sensata e educada teria humildade para reconhecer que o médico estudou muito e, deve saber mais sobre o tema, não é o caso dos "doutores de Facebook"*. Há casos em que, na discordância do diagnóstico a ser registrado em atestado médico, houve até tentativas de agressão física a profissionais de saúde. Na mesma linha, há pessoas que nunca questionaram a origem das vacinas que tomaram a vida toda e, agora o fazem nesse momento angustiante e crítico da pandemia. Lembramos, então, das aulas de história sobre a "revolta da vacina" em que pensávamos: "como eram burros". Não sabíamos que, em pleno século XXI, em meio a uma pandemia, teríamos um movimento anti-vacina alimentado por fake news. Os "doutores de Facebook"* questionam a eficácia e a segurança das vacinas desenvolvidas por importantes e renomados laboratórios científicos do mundo todo, mas, nada falam sobre a segurança dos alimentos que vão para a sua mesa, produzidos com a utilização de agrotóxicos proibidos em grande parte do mundo.

            No mundo paralelo em que vivem os "doutores de Facebook"*, as soluções são sempre simples, falta apenas a vontade de fazer. Afirmam: "O Brasil, para ser respeitado e exercer a sua soberania de forma plena, precisa construir a bomba atômica. E para isso, basta solicitar aos deputados que alterem a Constituição Federal (1988) que proíbe a confecção do artefato e construí-la. De posse da bomba, nunca mais outras potências nos dirão o que fazer com a Amazônia". Esquecem/ignoram que, no governo FHC o Brasil assinou o tratado de não proliferação nuclear junto à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA - ONU). Por ele, o país se obriga a se submeter a inspeções regulares dessa agência. O país também assinou acordo recíproco de inspeção e de não confecção de tais artefatos junto a Argentina. Há câmeras que transmitem 24h/dia via Internet (para a AIEA e para a Argentina) tudo o que se faz dentro de nossos laboratórios de pesquisa nuclear.

            O país pode fazer pesquisa nuclear somente para fins pacíficos (medicina e energia atômica). A produção da bomba atômica não é algo que um país consiga manter sigilo. Se rompesse o tratado, ao Brasil seriam impostos embargos econômicos e políticos (Soft Power) determinados pelos EUA e/ou ONU. Nesse cenário, os demais países deixariam de comprar/vender produtos do/para o Brasil. O país se veria numa crise econômica sem precedentes (já estamos mal, imagine com embargo econômico). Os Estados Unidos fariam ataques cibernéticos para atrasar nosso programa nuclear e, se insistíssemos, utilizariam drones para eliminar nossos principais cientistas e poderiam fazer bombardeios de nossos laboratórios de pesquisa e centrais nucleares (Hard Power). Nesse ínterim, a Argentina (por receio do Brasil) retomaria o seu programa de construção da bomba atômica (que encontrava-se mais avançado quando foi suspenso). O Chile, por receio da Argentina, também faria algo nesse sentido. Enfim, a situação se tornaria caótica na América do Sul, algo que não interessa à ONU, nem aos EUA, que considera a América Latina como seu quintal desde a Doutrina Monroe. Enfim, parafraseando Garrincha quando se referiu ao selecionado russo na copa de 1958, para fazer a bomba atômica, "primeiro teríamos que combinar com os americanos".

* Leia-se "doutores" de redes sociais e sites de fake news.

sábado, 9 de janeiro de 2021

A importância da leitura e da análise do que se lê (2020)

                O ano de 2020 foi bissexto (366 dias), mas, pareceu durar uma década. Foi um ano louco e exaustivo do ponto de vista físico, mental e emocional. Como os dias eram de angústia (pandemia), foquei mais na literatura, deixando um pouco de lado os livros técnicos, me adaptei e mantive minha média anual de leituras. Costumo ler na casa dos setenta livros (pouco mais ou pouco menos), em 2020, li sessenta e sete. Algumas pessoas perguntam como consigo e, digo que não é nenhum feito, pois, conheço gente que lê bem mais que isso. Estabeleço metas diárias de leitura com no mínimo 30 páginas e, caso em algum dia não consiga alcançar o mínimo, procuro recuperar o atraso no dia seguinte. Busco aproveitar bem o dia, como não costumo ficar muito tempo diante da TV e/ou do computador, sempre há tempo disponível (mesmo que fragmentado).

            A leitura é para mim, relaxamento e prazer. A média de livros que leio é ao ritmo natural e não resultado de esforço, pois, se assim fosse, sacrificaria o prazer da leitura. Penso que o número de livros que uma pessoa lê é menos importante do que a qualidade daquilo que ela lê. Eu não determino previamente a ordem dos livros a serem lidos e, geralmente após concluir um, escolho o próximo. Também costumo ler dois livros ao mesmo tempo (com temas diferentes) sendo um de leitura mais leve. Os livros são essenciais para o enriquecimento cultural de uma sociedade, pois, se a informação é obtida pelos diferentes meios impressos (jornais, revistas, etc.) e audiovisuais (telejornais, filmes, etc.), o conhecimento profundo, por sua vez, se obtém com a leitura de grandes obras e autores. Os livros e a reflexão sobre estes e sobre a sua vivência tornam uma pessoa bem informada em uma pessoa culta. Sabemos que todas as pessoas possuem cultura, os livros são as ferramentas que alçam as pessoas a patamares superiores do edifício cultural.

            A iniciativa deste artigo não é a de se gabar, mas, a de inspirar. Algumas pessoas já me disseram que se iniciaram no hábito da leitura (ou a ele regressaram) ao ler as resenhas de livros que publico. Digo que também fui influenciado em tal sentido por mestres(as) que tive em toda a minha vida estudantil. Também foi assim quanto ao ato de escrever. A vida é uma troca entre gerações, apenas repasso as boas energias que recebi. No ano que passou em relação a autoria/continentes, assim foram as minhas leituras (valores aproximados): Oceania: 3%; Ásia: 6%; África: 8%; Europa: 20%; América: 63%. Das leituras de obras de autores americanos, a América Latina aparece com 75% e a América Anglo-Saxônica com 25%. Quanto a leitura de obras latino-americanas por país: Brasil: 90% (40% da leitura global); Chile: 7% e Bolívia 3%. Quanto a autoria/gênero das leituras realizadas: 75% sexo masculino e 25% sexo feminino. Janeiro foi o mês que li mais (11 livros) e o mês que li menos foi Maio (1 livro), sendo a sobrecarga de trabalho do EAD, responsável pelo baixo número deste mês. A partir desta análise, desejo ler em 2021 mais obras de autores latino-americanos (além do Brasil), africanos, asiáticos e, também mais obras de mulheres.  As dez melhores leituras foram: 1. E o vento levou (Margaret Mitchell); 2. Os Sertões (Euclides da Cunha); 3. A leste do Éden (John Steinbeck); 4. Quarto de despejo: diário de uma favelada (Maria Carolina de Jesus); 5. A letra escarlate (Nathaniel Hawthorne); 6. Matéria escura (Blake Crouch); 7. Memorial do Convento (José Saramago); 8. Recursão (Blake Crouch);  9. Matadouro cinco (Kurt Vonnegut); 10. A peste (Albert Camus). As menções honrosas foram para: A mulher de trinta anos (Honoré de Balzac); A ridícula ideia de nunca mais te ver (Rosa Montero); A sucessora (Carolina Nabuco); Angústia (Graciliano Ramos); As boas mulheres da China (Xinran); O diário de Myriam (Myriam Rawick); O estrangeiro (Albert Camus); O grande Gatsby (F. Scott Fitzgerald); Olhai os lírios do campo (Érico Veríssimo); O último dia de um condenado (Victor Hugo); Os sofrimentos do jovem Werther (Johann Wolfgang von Goethe); Ratos e homens (John Steinbeck);  Rebecca, a mulher inesquecível (Daphne du Maurier); Terra sonâmbula (Mia Couto). Em se tratando de boas leituras, foi um ótimo ano. Agora é escolher as leituras deste ano e aguardar a vacina! E você o que tem lido? Quais autores(as), continentes e países povoam a sua mente?