No passado, pesquisas foram
realizadas para verificar se a inteligência incomum de pessoas que se
destacaram na sociedade seria transmitida geneticamente. Houve então o
acompanhamento de jovens cujos progenitores foram considerados gênios e o
resultado encontrado demonstrou que, na quase totalidade dos casos, os filhos
tinham Q.I. dentro dos padrões normais, ou seja, eram apenas medianos. A
resposta não estava no DNA e nem nas estruturas cerebrais de tais gênios.
Enfim, a genialidade se expressa em indivíduos (independentemente de gênero,
etnia ou classe social) sem que a ciência tenha pleno conhecimento dos fatores
desencadeadores, mas, sabe-se que são vários e particulares. O ambiente
contribui para isso, porém, não determina, pois, surgiram gênios em ambientes
que em nada contribuíram para o seu intelecto e, pessoas medíocres em locais
onde se respirava ciência e cultura. É natural que uma pessoa em seu processo
de desenvolvimento cognitivo cometa erros. Afirma-se que se aprende mais com os
erros do que com os acertos, no entanto, para aprender com os erros é
necessário que a pessoa tenha humildade. A humildade não é característica da
personalidade dos "doutores de Facebook"* que sustentam suas
"verdades" ante as mais sólidas provas contrárias. A genialidade não
é transmitida pelo DNA e nem mesmo o ambiente a determina, mas, geralmente é fruto de muito esforço. A
burrice por sua vez é fruto da preguiça de pensar, de refletir, de buscar
outras fontes, de livrar-se de pré-conceitos. Em sua arrogância, os
"doutores de Facebook", no que concerne ao conhecimento, acreditam
que são como o copo cheio a transbordar, porém, ignoram que seu copo transborda
porque está invertido e encontra-se vazio!
O intelectual estadunidense Noam Chomski disse com razão:
"as pessoas já não acreditam mais nos fatos". A interpretação dos
fatos vale mais do que o fato em si e, se o que importa é a interpretação,
então, escolho a interpretação que melhor me aprouver. Há alguns dias William
Bonner (apresentador da TV Globo) disse em rede nacional de TV que, todo
jornalista no exercício de sua função, tem como missão trazer a verdade para o
seu público, porém, indivíduos irresponsáveis acessam as redes sociais e
espalham fake news e que eles (jornalistas sérios, no exercício de sua
profissão) se sentiam como se estivessem esgrimindo com loucos". Bonner em
parte tem razão, afinal, é verdade que as redes sociais possibilitaram a
qualquer indivíduo ou grupo, de forma irresponsável lançar fake news e, colher
os dividendos políticos dessa ação, porém, não foram as redes sociais pioneiras
na utilização de fake news com fins políticos.
A mídia tradicional, por sua trajetória, não pode se arvorar
isenta, pois, trilha esse caminho desde sempre, omitindo, distorcendo e interpretando
os fatos como lhe é mais conveniente e, dessa forma, construindo mitos,
destruindo reputações, propagando a sua visão de mundo e de sociedade e,
impondo sua pauta (da classe social de seus proprietários) para o governo de
plantão, enfim, elegendo e destituindo governantes e ditando os rumos do país.
No entanto, a mídia tradicional precisa preservar um pouco de sua
credibilidade, os sites de fake news, nem isso, pois, seus seguidores agem como
"irmãos de fé" e as fake news são tratadas como dogmas que não podem
ser questionados sob pena de serem acusados da heresia dos tempos pós-modernos
a saber: de serem comunistas, esquerdistas, petistas, etc. Os sites de fake
news, convertidos em templos fundamentalistas do conservadorismo e de tudo o
que há de mais retrógrado na sociedade, possuem redatores que sabem o que as
pessoas querem ouvir/ler e, com isso as manobram para a direção desejada, para
tal, beneficiam-se do baixo nível de discernimento crítico e do excesso de
preguiça de seus seguidores para buscar fontes confiáveis de informação. Não à
toa, uma pesquisa internacional verificou que a população brasileira é a
segunda com o pior desempenho em percepção da realidade, ou seja, o que pensa,
não corresponde aos fatos. Para concluir, evoco novamente Noam Chomski quando
afirmou: "A população geral não sabe o que está acontecendo, e nem sequer
sabe que não sabe".
* Leia-se
"doutores" de redes sociais e sites de fake news.