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sábado, 28 de março de 2020

Reputação: um eu fora do meu alcance



           
O professor de Ética da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP) Clóvis de Barros Filho lançou em parceria com o professor e doutor em comunicação e política Luiz Perez - Neto (Universidade Autônoma de Barcelona) o livro “Reputação: um eu fora do meu alcance”. Na obra, os autores informam o leitor de que a palavra reputação deriva do latim reputatio e que remonta a Roma Antiga. Seu significado é opinião, conceito ou estima que temos sobre alguém ou alguma coisa. Afirmam que a reputação não depende de nós, mas, de fluxos de opiniões da sociedade por meio das quais se forma a nossa imagem pública. A reputação pode-se descolar parcial ou completamente da realidade de seu objeto, e por ingenuidade ou falta de malícia, o que se pensa e o que se fala de uns e de outros pode não ter nada a ver com o efetivo respeito a princípios e normas de conduta. Os autores citam Abraham Lincoln (1809-186v5) quando disse: “o caráter é como uma árvore, e a reputação como sua sombra. A sombra é o que nós pensamos dela. A árvore é a coisa real”. Dessa forma, o caráter é desenvolvido ao longo de toda uma vida, a reputação pode ser definida em um momento infeliz com ações equivocadas ou palavras impensadas.
A reputação é também importante no mundo business, pois pode definir o sucesso ou o fracasso de uma empresa. Todos verificam se ela cumpre os prazos de entrega dos produtos/serviços, se dá suporte (garantia) aos seus clientes, pratica preços justos, cuida do meio ambiente e se não oferece condições degradantes de trabalho aos seus funcionários. É diferente quanto ao indivíduo? Pesquisas mostraram que crianças de dois anos já se preocupam com suas reputações e moldam seus comportamentos com o objetivo de melhorá-las e que crianças do Ensino Fundamental já têm um pensamento muito crítico quanto ao seu status social e reputação. No mundo adulto, se o indivíduo exerce uma função pública, ele tem a obrigação de prestar contas de seus atos, afinal, não basta ser honesto, tem que parecer honesto. O discurso e o modo de agir de tal cidadão serão confrontados o tempo todo com a ética. Então, como ter uma boa reputação empresarial ou individual? É preciso ser ético, porém, é humanamente impossível ser 100% ético em todos os momentos. Erros e deslizes ocorrem como também acertos e melhorias. Buscamos nos tornar mais humanos, mas, somos imperfeitos, inacabados. Também a ética é dinâmica e não há um manual de como se portar ad infinitum.  Os valores mudam no espaço e no tempo. Dessa forma, o moralismo é uma imposição externa. Uma invasão da soberania interior de cada ser a ter a sua própria individualidade, pois representa os valores coletivos de um grupo, porém, não são universais.
Sabedores que somos de que é impossível sermos éticos na integralidade do tempo e que o moralismo é uma falsa bandeira de pessoas que possuem a ilusão de serem perfeitas e portadoras dos verdadeiros valores, por que nos preocupamos tanto com nossa reputação? Talvez porque poucos de nós têm um estado de espírito tão elevado quando Theodore Roosevelt (1858-1919) que assegurou: “Eu não me importo com o que os outros pensam sobre o que eu faço, mas, eu me importo muito com o que eu penso sobre o que eu faço. Isso é caráter”. Também porque no passado era necessário sair às ruas para conversar com alguém para sabermos qual a opinião das pessoas sobre nós, hoje, basta alguns cliques. E por que sofremos tanto se não podemos controlar o que os outros pensam a respeito de nós? Shakespeare (1564-1616) em “Muito barulho por nada” asseverou: “qualquer um sabe como cuidar de uma dor, menos quem a sente”, no que Nietzsche (1844-1900) confirmou “É mais fácil lidar com sua má consciência do que com sua má reputação”. Se a reputação é manchada por inverdades por indivíduos ou atores sociais, a tentativa de reparação pode ser feita judicialmente, pois, existe o direito à privacidade. O direito a ser deixado em paz. A dor, no entanto, permanece.
Os autores conclamam a sociedade para que a reputação seja tomada pela verdade da vida. Pelas iniciativas. Pelas decisões tomadas. Pelos valores que contam. Pelos princípios respeitados e pelas normas nunca transgredidas, ou então que se mande às favas. Que digam o que quiserem. E citam Jair Rodrigues (1939-2014) quando compôs “Deixa isso prá lá” em que recitava/desabafava “Deixe que digam / que pensem / que falem / deixa isso prá lá [...]”. Por que no final, “a reputação é o que os homens dizem de você junto à sua sepultura. O caráter é o que os anjos dizem de você diante de Deus”.

Sugestão de boa leitura:

Título: Reputação: um eu fora do meu alcance.
Autor: Clóvis de Barros Filho e Luiz Perez - Neto.
Editora: Harper Collins, 2019, 192 p.
Preço: R$ 28,72.

terça-feira, 24 de março de 2020

O Coronavirus e as fake news



           
O termo fake news é relativamente novo no país, mas, não as notícias falsas ou manipuladas com fins políticos ou ideológicos visando a favorecer determinados grupos sociais ou políticos. Se manipulações de notícias é há muito tempo algo comum, nunca elas tiveram o alcance que possuem atualmente. Já falamos sobre isso nos artigos em que tratamos sobre guerra híbrida, o que não é a intenção desse artigo. Estamos em meio a uma grave crise na saúde pública mundial. Em momentos de crise, ter acesso a boa informação é vital. Faz toda a diferença para a conscientização das pessoas sobre como agir para proteger a si e a seus entes queridos. Na sociedade há pessoas com todo tipo de perfil psicológico, porém, os alarmistas, os alienados e os mal-intencionados são os que produzem grandes estragos no conjunto da sociedade. Como sabemos o pânico é péssima companhia e atrapalha o gerenciamento dos momentos difíceis da vida. Manter ou procurar manter a serenidade é vital, portanto, não se deve deixar influenciar pelos alarmistas e mal intencionados que alcançaram grande projeção, pois, têm à sua disposição a Internet e as redes sociais. É importante salientar que há grande diferença entre manter a serenidade e ser relapso nas atitudes recomendadas pelas autoridades.
            Há pessoas alarmistas e mal intencionadas espalhando o pânico na sociedade, isso aliado às informações não verificadas e até mesmo deturpadas que atrapalham o gerenciamento da crise. Há outras pessoas cuja personalidade alienada nega o caráter preocupante da doença, e assim, contribuem para a disseminação do vírus ao não tomar as atitudes recomendadas pelos órgãos de saúde. Na Internet circulam notícias de que o Coronavirus foi criado pela China para quebrar a economia de outros países visando com isso se apossar de seus ativos. Isso é algo absurdo que só pode vir de mentes pequenas e fechadas. Os cientistas já comprovaram que a mutação do vírus que o tornou eficaz na infecção de humanos obedece aos princípios evolutivos naturais, ou seja, não houve manipulação.
A China teve prejuízos gigantescos do ponto de vista humanitário (milhares de mortes) e econômico com importantes parques industriais fechados e teve que recorrer às suas reservas cambiais (a maior do mundo), pois, sua economia tombou e poderá fechar o ano com o menor crescimento do PIB em três décadas. Quebrar a economia dos outros países não é algo que a China poderia desejar, afinal, o país ainda é uma plataforma de exportação e precisa vender para o mundo, e, como sabemos com a economia mundial quebrada, os países não compram. Além disso, os chineses nesse caso seriam mesmo “geniais” fizeram o vírus e o lançaram diretamente em sua própria população (tenha paciência). Interessante que nem os serviços secretos ocidentais como a estadunidense CIA, o israelense MOSSAD, o inglês MI6 descobriram, mas, algum internauta “esperto” descobriu (tenha paciência novamente). Proliferam áudios de supostos médicos com declarações alarmistas e esse não é o protocolo com que tais profissionais agem. Busquem fontes seguras para se informar e há vários profissionais da saúde como o médico Dr. Dráuzio Varella que estão atuando nas redes sociais fornecendo boa informação para a população.
A humanidade já passou por crises de saúde anteriores bem mais sérias como a Peste Negra na Europa (que matou uma em cada três pessoas) e pela Varíola que dizimou meio bilhão de pessoas. O Coronavirus é sim preocupante e devemos tomar as precauções devidas, porém, não se trata do fim do mundo! Cuide-se e aos seus especialmente dos velhinhos e, das pessoas em grupos de risco. Cuide do aspecto psicológico das crianças ante ao alarmismo que se faz, oriente-as e tranquilize-as. Serenidade é o que precisamos!

domingo, 8 de março de 2020

O brasileiro médio é social-democrata



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         Há muito observo pessoas que se dizem defensoras do capitalismo, porém, defendem que a educação básica e mesmo superior deve continuar pública e gratuita. Da mesma forma também é comum encontrar pessoas que professam a ideologia capitalista a afirmar que a saúde deve continuar pública e gratuita, porém, que o SUS deve ser alvo de melhorias. Entre estas há até mesmo aquelas que irritadas com os preços dos medicamentos no Brasil acreditam que os medicamentos deveriam ser distribuídos gratuitamente à população mediante receita médica. Ora, sabemos que na doutrina capitalista, saúde e educação são atividades econômicas e não direitos básicos do cidadão, portanto, devem ser atividades exploradas pelo setor privado, que, obviamente visa o lucro e, para tal precisa receber dos consumidores de seus produtos e serviços. O capitalismo atual que veste o uniforme do neoliberalismo prega o “Estado mínimo”, dessa forma, o Estado não pode exercer nenhuma atividade econômica ou deter empresas estatais. Cabe ao Estado por meio de sua cúpula dirigente (o governo) manter as forças armadas, a segurança pública (efetivos policiais), o Poder Judiciário, o Poder Legislativo, ou seja, o Estado deve manter a ordem, fiscalizar e regular minimamente a fim de não interferir no mercado (que se auto-regula sozinho).
            A contradição citada ocorre pela pouca leitura e entendimento das pessoas acerca daquilo que ilusoriamente pensam conhecer. Também ocorre porque o brasileiro médio não é defensor do capitalismo, mas, pensa ser devido à armadilha do maniqueísmo estimulado pela sociedade, pois, como refuta o socialismo, pensa ser defensor do capitalismo. Serviços públicos gratuitos somente são encontrados no socialismo, porém, o leitor irá automaticamente pensar que o Brasil não é um país socialista e os oferece, e nisto tem razão, pois o que temos em nosso país é uma social-democracia de baixa intensidade garantida pela Constituição Federal de 1988 que estabeleceu que educação e saúde são direitos básicos do cidadão. Além do socialismo (revolução por fora), serviços públicos gratuitos são também oferecidos em países que adotam a social-democracia (revolução por dentro) e, esta acaba por ser um sistema híbrido entre capitalismo e socialismo. Os países que detêm os melhores índices de desenvolvimento humano (IDH) no mundo atual são países social-democratas e não aqueles que deslumbraram com o capitalismo e hoje se postam nas fileiras do neoliberalismo que a tudo privatizou. A Noruega há vários anos é o melhor país do mundo em qualidade de vida (IDH). Os Estados Unidos, a maior potência econômica do mundo é apenas o 13º, enquanto o Chile, o mais neoliberal país da América do Sul colapsou numa revolta popular que parece não ter fim, pois, a implantação do neoliberalismo (o capitalismo puro), o sonho erótico dos poderosos capitalistas tornou-se o pesadelo da classe baixa e média daquele país.
            Os defensores do capitalismo raiz são ardorosos críticos da social-democracia, pois, enxergam nela o socialismo, afinal, o Estado não deve exercer atividades econômicas como as citadas. Os socialistas puros, por sua vez, afirmam que a social-democracia não passa de uma maquiagem num monstro (o capitalismo), pois, sua essência permanece intacta, a exploração do homem pelo homem. Afirmam ainda que os Estados de Bem-Estar Social (Welfare State) para reduzir a exploração de seus cidadãos exportam a extração de mais-valia para  outros países, enquanto os capitalistas afirmam ser muito caro para os contribuintes manter Estados de Bem-Estar Social e que cada indivíduo deve pagar pelos produtos e serviços que utiliza sem sobrecarregar os demais via impostos. Enfim, geralmente, o brasileiro médio refuta o socialismo, defende o capitalismo, porém, não quer o Estado Mínimo defendido pelos neoliberais, nada mais anticapitalista, contradição pura! É social-democrata e não sabe disso!