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sexta-feira, 22 de novembro de 2019

O Brasil não é para principiantes – parte 1



               
A frase título deste artigo, atribuída ao maestro Tom Jobim (1927-1994) dá a tônica do que é este país. Como entender este país e seu povo? Uma terra rica em recursos nacionais, a oitava economia mundial, um verdadeiro titã na produção de riquezas e de injustiças sociais. O general francês Charles de Gaulle certa vez afirmou: o Brasil não é um país sério. Tenho que concordar: não é mesmo! Em vários países do mundo a elite econômica local conduziu os esforços da população no caminho da prosperidade, não digo com isso que essas elites eram/sejam altruístas e desprovidas do egoísmo que caracteriza a alma liberal no campo econômico. Digo que essas elites tinham/têm a sensatez para não fazer furos no casco do próprio navio de modo que este afundasse/afunde, dessa forma, o alvo de suas pilhagens eram/são aqueles navios cujas bandeiras denotam a sua realidade periférica no capitalismo internacional. Nem por isso se pretende negar o notório fato da falta de patriotismo das gigantes transnacionais e do caráter vadio do capital especulativo, mas, evidenciar a falta de patriotismo, ou, de espírito revolucionário de nossas elites que preferem ver o Brasil no atraso social e econômico a perder o controle sobre a senzala.
O Estado encontra-se em disputa no mundo todo, o Brasil não é exceção. Alguns o querem mínimo, pois, entendem que educação, saúde, assistência e previdência social não são direitos básicos do cidadão como outros defendem, mas, produtos a serem comercializados pela iniciativa privada para quem puder pagar. O surreal é ver trabalhadores, portanto, pobres que não podem pagar pela educação básica ou superior no sistema de ensino privado defendendo o fim da educação pública gratuita. Outros reclamam dos serviços do SUS e defendem o seu fim quando deveriam exigir mais investimentos públicos e melhores condições de trabalho aos profissionais e com isso melhor qualidade de atendimento. Grande parte dessas pessoas não tem condições de pagar por procedimentos caros e não possuem planos de saúde privados. Não dá para chamar de sensata uma pessoa que assim age.
Neste estranho país em que há um projeto para taxar as grandes fortunas que se encontra engavetado no Congresso Nacional há mais de trinta anos, pois, se entende que a elite econômica nacional (a parcela de 1% mais rico do país) já paga impostos demais, o que não corresponde à verdade, pois, a tributação é regressiva haja vista que ocorre sobre o consumo, o que atinge majoritariamente a classe trabalhadora e isenta de tributação os dividendos da parcela abastada da sociedade. O que soa como uma piada, um escárnio, é a mais triste e infame realidade, o governo pretende taxar o seguro-desemprego e com isso criar uma espécie de “Imposto Sobre Grandes Pobrezas”. O cidadão perdeu o emprego e o governo vai confiscar uma parte do mísero valor que este recebe na forma de seguro-desemprego para bancar mais empregos precarizados aos jovens. Aliás, a precarização é a marca deste governo, não à toa, Bolsonaro disse que sua missão é destruir o que o PT construiu. É verdade que os governos petistas cometeram erros, mas, não se pode a guisa de ser anti-PT, ser anti-Brasil e anti-si próprio, há que se conservar (ou deveria) os avanços conquistados no período e que não foram poucos.
Nestes tempos de pós-verdade, em que os fatos já não importam, as pessoas buscam no supermercado midiático, a verdade que lhes convém, a que lhes dá razão, embora a palavra razão, neste caso, nada tenha de racional. A política se tornou um Fla-Flu, um Gre-Nal, pois, não há racionalidade. Quem até ontem defendia a bandeira de mais investimentos em educação, saúde, etc. hoje, assiste calado ou defende as iniciativas governamentais de redução de investimentos no setor público. É preciso lembrar que países com grande parcela da população em estado de pobreza são os que mais necessitam da ação do Estado, e defender isso não faz de alguém um comunista, mas, uma pessoa verdadeiramente humana. Também é interessante observar que quem empunhava a bandeira da luta contra a corrupção, hoje se cala ante os escândalos de personagens públicas do governo ou de sua base de apoio. Neste país surreal, muitos cristãos falam de Deus, mas, não vivem os ensinamentos de Jesus Cristo. Para muita gente, pensar além do próprio umbigo, ou se preferir, além de seu próprio bolso parece ser uma tarefa equivalente a escalar o Monte Everest. Há pessoas que até gostam de fazer doações em épocas natalinas, mas, trabalham e votam com o intuito de que a justiça social jamais ocorra! E isso vai contra o que o mestre Paulo Freire (1921-1997) nos ensinou: “a justiça social precisa vir antes da caridade”.

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