A
frase título deste artigo, atribuída ao maestro Tom Jobim (1927-1994) dá a
tônica do que é este país. Como entender este país e seu povo? Uma terra rica
em recursos nacionais, a oitava economia mundial, um verdadeiro titã na
produção de riquezas e de injustiças sociais. O general francês Charles de
Gaulle certa vez afirmou: o Brasil não é um país sério. Tenho que concordar:
não é mesmo! Em vários países do mundo a elite econômica local conduziu os
esforços da população no caminho da prosperidade, não digo com isso que essas
elites eram/sejam altruístas e desprovidas do egoísmo que caracteriza a alma
liberal no campo econômico. Digo que essas elites tinham/têm a sensatez para
não fazer furos no casco do próprio navio de modo que este afundasse/afunde,
dessa forma, o alvo de suas pilhagens eram/são aqueles navios cujas bandeiras denotam
a sua realidade periférica no capitalismo internacional. Nem por isso se
pretende negar o notório fato da falta de patriotismo das gigantes
transnacionais e do caráter vadio do capital especulativo, mas, evidenciar a
falta de patriotismo, ou, de espírito revolucionário de nossas elites que
preferem ver o Brasil no atraso social e econômico a perder o controle sobre a
senzala.
O
Estado encontra-se em disputa no mundo todo, o Brasil não é exceção. Alguns o
querem mínimo, pois, entendem que educação, saúde, assistência e previdência
social não são direitos básicos do cidadão como outros defendem, mas, produtos
a serem comercializados pela iniciativa privada para quem puder pagar. O
surreal é ver trabalhadores, portanto, pobres que não podem pagar pela educação
básica ou superior no sistema de ensino privado defendendo o fim da educação
pública gratuita. Outros reclamam dos serviços do SUS e defendem o seu fim
quando deveriam exigir mais investimentos públicos e melhores condições de
trabalho aos profissionais e com isso melhor qualidade de atendimento. Grande
parte dessas pessoas não tem condições de pagar por procedimentos caros e não possuem
planos de saúde privados. Não dá para chamar de sensata uma pessoa que assim
age.
Neste
estranho país em que há um projeto para taxar as grandes fortunas que se
encontra engavetado no Congresso Nacional há mais de trinta anos, pois, se
entende que a elite econômica nacional (a parcela de 1% mais rico do país) já
paga impostos demais, o que não corresponde à verdade, pois, a tributação é
regressiva haja vista que ocorre sobre o consumo, o que atinge majoritariamente
a classe trabalhadora e isenta de tributação os dividendos da parcela abastada
da sociedade. O que soa como uma piada, um escárnio, é a mais triste e infame
realidade, o governo pretende taxar o seguro-desemprego e com isso criar uma
espécie de “Imposto Sobre Grandes Pobrezas”. O cidadão perdeu o emprego e o
governo vai confiscar uma parte do mísero valor que este recebe na forma de
seguro-desemprego para bancar mais empregos precarizados aos jovens. Aliás, a
precarização é a marca deste governo, não à toa, Bolsonaro disse que sua missão
é destruir o que o PT construiu. É verdade que os governos petistas cometeram
erros, mas, não se pode a guisa de ser anti-PT, ser anti-Brasil e anti-si
próprio, há que se conservar (ou deveria) os avanços conquistados no período e
que não foram poucos.
Nestes
tempos de pós-verdade, em que os fatos já não importam, as pessoas buscam no
supermercado midiático, a verdade que lhes convém, a que lhes dá razão, embora
a palavra razão, neste caso, nada tenha de racional. A política se tornou um
Fla-Flu, um Gre-Nal, pois, não há racionalidade. Quem até ontem defendia a
bandeira de mais investimentos em educação, saúde, etc. hoje, assiste calado ou
defende as iniciativas governamentais de redução de investimentos no setor
público. É preciso lembrar que países com grande parcela da população em estado
de pobreza são os que mais necessitam da ação do Estado, e defender isso não
faz de alguém um comunista, mas, uma pessoa verdadeiramente humana. Também é
interessante observar que quem empunhava a bandeira da luta contra a corrupção,
hoje se cala ante os escândalos de personagens públicas do governo ou de sua
base de apoio. Neste país surreal, muitos cristãos falam de Deus, mas, não
vivem os ensinamentos de Jesus Cristo. Para muita gente, pensar além do próprio
umbigo, ou se preferir, além de seu próprio bolso parece ser uma tarefa
equivalente a escalar o Monte Everest. Há pessoas que até gostam de fazer
doações em épocas natalinas, mas, trabalham e votam com o intuito de que a
justiça social jamais ocorra! E isso vai contra o que o mestre Paulo Freire
(1921-1997) nos ensinou: “a justiça social precisa vir antes da caridade”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário