Costumamos criticar o quadro atual da política brasileira
como se este não tivesse nenhuma relação conosco enquanto sociedade. A verdade
é que não encaramos a política com a seriedade e o bom senso necessário. O ato
de votar consiste em passar uma procuração para o representante escolhido pelo
eleitor, mas, parece que muitos eleitores disso não têm consciência. Você
passaria uma procuração para que alguém o representasse inclusive com o poder
de negociar seus direitos sem conhecer bem as intenções, o caráter e o passado
desta pessoa? Você, por uma paixão extremada indicaria como seu procurador uma
pessoa de caráter duvidoso, cujas intenções constituem uma grande incógnita, preterindo
dessa forma o outro procurador possível, o qual ostenta credenciais claramente
superiores apenas por que ele torce pelo clube de futebol que você aprendeu a
detestar e a se opor? O leitor poderia dizer que futebol e política não têm
nada a ver, porém, em se tratando do Brasil, digo que está equivocado. Tratamos
a política tal como ao futebol, paixão e ódio se misturam. O mundo sabe que
nosso futebol está em decadência, como também a nossa democracia, aliás, estamos
em franca decadência como sociedade.
Nas eleições de 2014 elegemos o pior parlamento desde o
fim da ditadura militar (grande parte com pendências judiciais). Em 2018,
elegemos um ainda pior. Em um momento em que o Brasil figura novamente no mapa
da fome da ONU, os eleitores brasileiros ampliaram as representações da Bancada
do Boi, da Bala e da Bíblia que representam o que há de mais conservador e
avesso ao avanço do país rumo a uma sociedade menos injusta, tendo em vista que
figura entre as mais desiguais do planeta. A eleição do ator pornô Alexandre
Frota (PSL) e a reeleição de Tiririca (PR) e de Aécio Neves (PSDB) demonstram
que a culpa talvez não seja dos políticos, mas, do eleitor, pois, já não é
possível falar que foi enganado pela lábia dos candidatos e que não conhecia o
passado dos mesmos. Falta seriedade ao eleitor brasileiro, que age como se a política
fosse o confronto entre agremiações adversárias num jogo de futebol, porém,
quando o jogo de futebol acaba, não traz consequências práticas para a vida dos
torcedores, o que não é o caso da política. Com a expansão da bancada da Bíblia
no parlamento, o Estado laico, símbolo das sociedades democráticas encontra-se
cada vez mais ameaçado. A mistura de religião e política no seio do Estado,
sempre gerou historicamente sociedades pouco democráticas, nas quais os
fundamentos religiosos de um grupo se impuseram até mesmo às pessoas que deles
não compartilhavam tolhendo-lhes seus direitos individuais.
A eleição também demonstrou que o eleitor brasileiro
reelegeu figuras envolvidas em corrupção. Isso demonstra que a corrupção é
seletiva. Para muitos eleitores somente é corrupto o político da agremiação
adversária. Dessa forma, políticos que tiveram forte atuação favorável ao Golpe
de Estado de 2016 foram reeleitos, por sua vez, políticos que tiveram grande
destaque na defesa da legalidade, dos direitos trabalhistas e da soberania
nacional ante o entreguismo instalado pelo governo golpista foram rejeitados
nas urnas. É o caso de Roberto Requião (MDB), um dos parlamentares mais cultos,
patriotas e preparados do Parlamento. Em seu lugar assume o Professor Oriovisto
Guimarães (Podemos), cuja trajetória, ideologia e classe de origem indica que
tomará rumo diverso ao de Requião. Flávio Arns (Rede), por sua vez, carece de
capacidade combativa e de constância ideológica. Requião é uma voz em defesa da
legalidade, da soberania nacional e dos diretos dos trabalhadores cuja falta se
ressentirá a nação e a classe trabalhadora. Outra falta no Senado será a do
também legalista e defensor da classe trabalhadora Lindbergh Farias (PT). Eduardo
Suplicy e Dilma Rousseff ambos do PT também poderiam contribuir muito com a
pauta da classe trabalhadora num parlamento majoritariamente ocupado por
representantes da classe dominante. A classe dominante é majoritária na
política brasileira com grande ajuda do pobre de direita que constitui o mais
importante produto fabricado pelo capitalismo brasileiro. Enquanto houver pobre
de direita que por odiar pobres (que ao fim e ao cabo também é) vota sempre
contra os seus próprios interesses, a elite agradece e a miséria permanece!
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