Há alguns anos, em uma
solenidade, reencontrei um professor do Ensino Fundamental o qual muito estimo.
Ele me parabenizou por meus artigos e sugeriu que se eu desejasse aumentar meu
público leitor deveria adotar o padrão Twitter de 140 caracteres, pois, essa
juventude não lê textos longos. Disse-lhe que não estava preocupado com a
quantidade de leitores de meus artigos e que também não desejava escrever para
quem tem preguiça de ler, pois, estes são os mesmos que têm preguiça de pensar,
e sempre desejei que a leitura de meus artigos viesse acompanhada da reflexão.
Também lhe disse que não escrevo para convencer ninguém a mudar de opinião,
mas, para que as pessoas que compartilham do mesmo pensamento saibam que não
estão sozinhas.
Infelizmente, em nosso país, grande parte das pessoas não
tem o hábito da leitura e não há nada mais indissociável da boa escrita que a
leitura. Ler é uma forma de evoluir mentalmente desde que seguida da necessária
reflexão. Nenhuma obra, nenhum autor deve ser tratado de forma dogmática. Certa
vez assisti à palestra de um professor universitário especialista nas obras de
Karl Marx e que afirmou: não há nada mais contrário ao pensamento de Karl Marx
do que tratar sua obra de forma dogmática, ou seja, a leitura traz em seu bojo
a necessária reflexão e contextualização face os tempos atuais, porém, sem
perder de vista o que lhe é estruturante: o método. Umberto Eco (1932-2016),
considerado em seu país natal, a Itália, como “o homem que sabia de tudo” disse
que “[...] a Internet deu voz a uma legião de imbecis com o mesmo direito à
fala que um ganhador do Prêmio Nobel, e, que promoveu o idiota da aldeia a
portador da verdade”. Na Internet é estarrecedor o nível raso de conhecimentos
de grande parte das pessoas que se sentem portadoras da verdade embora façam
uso do senso comum nos debates. Lembro-me de um aforismo que muitas vezes é
atribuído a Abraham Lincoln, a Mark Twain ou ainda a Maurice Switzer e cuja
autoria original permanece duvidosa, o conteúdo é o seguinte: “É melhor
calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do que falar e
acabar com a dúvida”! E algumas pessoas, não se calam, pois possuem a ilusão de
terem o conhecimento muito embora passem ao largo de bibliotecas e livrarias, fato
que remete a outro aforismo: “Quando você morre, você não sabe que está morto.
Quem sofre são os outros. É a mesma coisa quando você é um idiota” (Ricky
Gervais).
Há muito observo na Internet, várias pessoas provocando
debates através de frases e afirmações curtas embasadas no senso comum,
denunciadoras do seu baixo nível de conhecimento, de sua desinformação, de sua
alienação e enquanto aguardam a réplica de seu oponente não raras vezes digitam:
“lá vem o textão”. Ora, escrever textos longos com profundidade, contextualização
e argumentação coerentemente amparada no conhecimento científico desenvolvido por
intelectuais que dedicaram suas vidas pesquisando por meio de regras estabelecidas
pela ciência virou démodé? Outro fato surreal é que para muitas pessoas somente
é conhecimento científico aquilo que for condizente com a sua visão de mundo.
Para estas, toda pessoa que possui uma ideologia da qual discordam, não pode em
hipótese alguma ser considerada inteligente ou culta. Ainda hoje me deparei com
um médico que afirmou nunca ter ouvido falar de Noam Chomski que apóia Lula contra
o processo de Lawfare do qual é vítima. Ao explicar a ele sobre quem é Noam
Chomski e informando se tratar de um dos maiores intelectuais do mundo, ele
voltou à carga e disse que não concordava em atribuir o conceito de
intelectuais às pessoas de esquerda e de que éramos de mundos diferentes. E
isso, é bastante comum: Fulana é muito inteligente! - Não! É petista! - Beltrano
é muito culto! - Nada! É comunista! Como afirmei ao médico: “Desde os tempos de
Platão simbolizados pela Alegoria da Caverna, há pessoas que buscam a luz e
pessoas que amam viver na escuridão das cavernas e que inclusive se puderem,
matam quem descobre a luz e ousa revelar a verdade”.