O primeiro-ministro britânico Winston Churchill (1874-1965) sempre se jactou da superioridade do povo anglo-saxão. Durante o período da colonização da África e da Ásia, os europeus afirmavam empreender uma missão civilizatória em benefício do povo africano e/ou asiático. Nada mais falso, o fardo do homem branco foi e continua a ser carregado pelos povos explorados, pois, suas riquezas se tornaram a causa de sua pobreza e das guerras que assolam principalmente o continente africano. Os Estados Unidos que poderiam ter empreendido um papel proativo nas causas humanitárias e ambientais saíram pela tangente. Mas, os EUA, talvez por ser uma nação de colonização anglo-saxã adotaram o discurso do fardo do homem branco. A missão civilizatória dos EUA consiste em fazer guerras, invadir países, financiar e apoiar golpes de Estado. Sob o falso discurso da defesa da democracia apóiam a implantação de ditaduras capitalistas para supostamente evitar ditaduras comunistas. Destroem a infra-estrutura dos países que lhe servem de alvo para em seguida oferecer suas empresas de engenharia para a reconstrução mediante pagamentos ou concessões. Enfim, os EUA com seu aparato bélico em ação estão a dizer: OK, garotos queremos negócios! O que vocês têm a nos oferecer em troca da nossa “Pax americana”?
Os Estados Unidos buscam impor ao mundo o “american way of life”, no entanto, segundo Perry Anderson citado por Kiernan: “se todos os povos da Terra possuíssem a mesma quantidade de geladeiras e automóveis quanto os da América do Norte e da Europa Ocidental, o planeta se tornaria inabitável. Hoje na economia global do capital, o privilégio de poucos exige a miséria de muitos para ser sustentável”. Kiernan cita ainda Walter Lippmann: “todos pensam nos Estados Unidos como um império exceto o povo dos Estados Unidos. Nós nos arrepiamos com a palavra “império”. Insistimos que ela não deveria ser usada para descrever o domínio que exercemos do Alasca até as Filipinas, de Cuba ao Panamá, e além. Pensamos que tem de haver outro nome para o “trabalho civilizatório” (aspas nossas) que fazemos de modo “tão relutante” (aspas nossas) nesses países atrasados”. Ainda sobre a alienação do povo estadunidense acerca do papel global desempenhado por seu país, Kiernan cita Midge Decter, biógrafo adulador do então secretário de defesa Donald Rumsfeld: “Afinal de contas, os americanos são em geral pessoas boas, provavelmente as melhores do mundo, com medo da mesquinhez em outros, e talvez até mais temerosos da acusação de serem eles mesmos mesquinhos”. Kiernan afirma: “o americano médio acredita que os EUA dediquem 15% do orçamento nacional a ajuda externa, em vez do número verdadeiro de 0,1% o que faz do governo americano o menos generoso dentre as 22 nações da OCDE” (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Contribui para o analfabetismo político de considerável parcela da população estadunidense, a grande mídia, que é considerada antipatriótica pelas lideranças políticas, e até mesmo por outras empresas de mídia, sempre que se posiciona contra guerras ou interferências dos EUA em outros países.
O ex-presidente George H.W. Bush citado por Kiernan, e se referindo a um avião iraniano lotado com 290 civis derrubado pelos Estados Unidos afirmou: “Eu nunca pedirei desculpas pelos Estados Unidos. Os fatos não me importam”. E assim são os EUA, que até hoje não pediram desculpas pelo lançamento das bombas atômicas contra o Japão. Acredito que tal nação continue a agir dessa forma até a extinção da humanidade neste pequeno planeta, que poderá ocorrer, quem sabe, por meio de bombas atômicas.
sexta-feira, 17 de novembro de 2017
sábado, 11 de novembro de 2017
“De como o Irmão Jonatas se transformou em Tio Sam” - Parte 3
No final da Segunda Guerra Mundial, soldados estadunidenses e soviéticos comemoravam juntos às margens do Rio Elba a vitória sobre as tropas alemãs. Não podiam imaginar que o caminho da cooperação trilhado por suas nações seria abandonado no período seguinte conhecido como Guerra Fria. Hoje se sabe que o Japão estava disposto à rendição ainda em Maio de 1945, pois, sabia que a prometida entrada da União Soviética no front asiático era sua sentença de morte. Fazia uma única exigência: a preservação do Imperador tido como um semideus na tradição japonesa ante a afirmativa estadunidense de que não poderia impor nenhuma condição. O desejo dos EUA de não mais cumprir as cessões já acordadas de áreas de influência para a União Soviética, o levam a lançar as bombas atômicas para intimidar esta, porém, Stalin por meio de seus espiões já sabia da bomba antes mesmo da explosão experimental (Trinity) no deserto de Alamogordo. Stalin mantém suas intenções por áreas de influência e acelera o programa nuclear soviético. O presidente Truman, considerado despreparado para o cargo que assumiu após a morte de Roosevelt acreditava que os soviéticos jamais conseguiriam desenvolver sua própria bomba atômica. Ele estava enganado, os EUA ficaram pouco tempo no monopólio do poder nuclear. Algo já esperado pelo físico Julius Robert Oppenheimer líder do projeto Manhattan, afinal, “não havia segredo a esconder de um país que contasse com bons físicos”.
A Guerra Fria se traduziu numa disputa por áreas de influências entre os EUA e a URSS. Nunca houve um confronto direto, pois, este se traduzira na M.A.D. (mutually assured destruction), a destruição mutuamente assegurada tendo em vista o tamanho de seus arsenais nucleares. O mundo passou a ser dividido entre países alinhados aos EUA ou à URSS. Houve também o grupo dos não alinhados que discordavam da forma de agir de ambas as superpotências. Após o soco no estômago recebido pela Revolução Cubana de 1959, os EUA não mediram mais esforços para intervir em outras nações especialmente as latino-americanas. A nação ianque preferia ditaduras a regimes socialistas em seu quintal. Várias destas nações sentiram-se envolvidas na Guerra Fria, quando golpes de Estado patrocinados, estimulados ou até orquestrados por Washington foram postos em prática. Malas de dólares foram dadas para generais corruptos do Exército Brasileiro. O Brasil recebeu em seu litoral uma frota estadunidense inteira inclusive com porta-aviões para apoiar o golpe caso o Exército não conseguisse dar conta do recado. Os EUA treinaram militares brasileiros na prática de métodos de interrogatórios (tortura) na chamada Escola das Américas. O Brasil repassou seus ensinamentos aos países vizinhos que implantaram ditaduras com o aval e assistência técnica e financeira dos EUA (justamente o país que se declara o maior defensor da democracia no mundo). Sobre isto o presidente João Goulart deposto em 1964 disse: “Os EUA falam muito em democracia, mas, deveriam permiti-la”.
Em 1965, um ano após o golpe, empresas estrangeiras, principalmente estadunidenses, começaram a desfrutar dos benefícios da troca do governo democrata e patriota de João Goulart pela entrada de um governo autocrata e dócil a Washington. O caminho para os recursos naturais e o mercado brasileiro estava agora plenamente acessível. Veio o famigerado AI-5, o fim das garantias individuais, as prisões ilegais, as torturas, os assassinatos, a censura, etc. E até hoje, se busca ocultar o que ocorreu naquele período (1964-1985), mas, que parafraseando Kiernan ao falar do Haiti, compreende também o Brasil: “há um excesso de cadáveres no armário. Também, é claro, quanto mais tirânico e impopular um ditador, mais ele está ligado por lealdade a Washington”.
sábado, 4 de novembro de 2017
“De como o Irmão Jônatas se transformou em Tio Sam” - Parte 2
O estímulo concedido à economia dos EUA pelos países em esforço de guerra havia passado. Os EUA entraram, então, na sua maior crise econômica (1929). Os índices de desemprego e de pobreza eram alarmantes. Os preços das ações na bolsa de valores de Nova Iorque despencaram. Tal como na brincadeira de enfileirar peças de dominó, a crise se alastrou pelo planeta, derrubando as economias de inúmeros países. O presidente Franklin Delano Roosevelt lançou o plano New Deal, cuja ênfase se deu em maciços investimentos estatais em infraestrutura, na forte regulação e intervenção estatal na economia para o constrangimento dos liberais radicais. No entanto, graças ao intervencionismo estatal amparado na teoria econômica de John Maynard Keynes, o capitalismo estadunidense foi salvo da ação destruidora dos próprios capitalistas. Segundo Kiernan, “na Alemanha nazista, o capitalismo era recuperado por meios ainda mais drásticos, eliminando agitadores socialistas ou sindicalistas” (e pensar que em pleno século XXI, ainda há analfabetos políticos que acreditam que o governo de extrema direita de Hitler era socialista, apesar de este ter enviado milhares de socialistas e sindicalistas para as câmaras de gás).
Antes de finda a Segunda Guerra Mundial, o mundo mergulha na Guerra Fria. Os Estados Unidos da América resolve apressar o fim da guerra para evitar maiores perdas de vidas de soldados estadunidenses. O presidente Harry Truman autoriza o uso das famigeradas bombas atômicas contra o Japão. Segundo especialistas, a ação foi injustificada, pois, mantido o cerco naval, em poucas semanas, o Japão se renderia. Os EUA, pensando no mundo pós-guerra, resolvem fazer uma demonstração de poder ao mundo, e principalmente à União Soviética (sua aliada na luta contra a Alemanha nazista) e futura adversária na Guerra Fria. Os EUA se tornam a primeira e única nação covarde o suficiente para utilizar o mais poderoso e vergonhoso artefato bélico já inventado contra uma população civil. Milhares de pessoas morreram na hora. As sobreviventes, certamente invejaram aquelas que morreram instantaneamente, devido aos terríveis sofrimentos e sequelas que lhes foram impostos. No Japão, ainda hoje, nascem pessoas com deficiências e má-formação congênita resultantes de alterações genéticas de seus ascendentes, sobreviventes do maior ato terrorista da humanidade, infligido pela nação mais terrorista da história.
A indústria bélica estadunidense é a mais desenvolvida do planeta e tem em seu próprio país, o maior comprador de armas. Ninguém investe tanto em armas e as utiliza tanto. Nenhuma nação fez mais intervenções em assuntos internos de outros países que os EUA, e para tal se utilizam do “Soft Power” que se traduz em pressões diplomáticas ou econômicas, e quando este falha, a opção seguinte é a utilização do “Hard Power”, quando o país exibe e utiliza seus músculos. No entender de Kiernan: “a colossal máquina de guerra estadunidense é o punho que se esconde por trás da “mão invisível” do mercado”, e que torna possível a abertura de mercados para os produtos estadunidenses, e faz de sua economia, a superpotência que é. Ou ainda, conforme Michael Ledeen, citado por Kiernan: “a cada dez anos mais ou menos, os Estados Unidos precisam pegar algum país pequeno e sem importância e jogá-lo contra a parede, só para mostrar ao mundo que queremos negócios”.
A economia dos Estados Unidos foi enormemente beneficiada pelas duas Guerras Mundiais, pois, não sofreu grandes perdas por seu território não ser palco delas (exceção ao Havaí). Por ser grande provedor de armas e víveres para as nações em esforço de Guerra, os estoques de ouro das nações européias foram conduzidos aos cofres estadunidenses como pagamento. O país passou a ter banqueiros a financiar atividades econômicas no mundo todo, sendo estas de iniciativa de compatriotas ou não. Sempre disposto a desenvolver o capitalismo, a nação estadunidense por meio de seu representante na ONU sugeriu aos países subdesenvolvidos que realizassem a reforma agrária, pois, esta é essencial para elevar padrões de vida e de consumo da população. Então, para os EUA, a reforma agrária é ótima para o capitalismo. No entanto, as elites alienadas dos países latino-americanos não gostaram da idéia e afirmaram ver nela indícios de socialismo. O estranho é que a tal “proposta socialista” veio do país mais capitalista do planeta. Estão certos os Estados Unidos ou as “sábias” elites latino-americanas?
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