sexta-feira, 3 de março de 2017
A questão é: Estado Mínimo para quem?
Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sergio Britto compuseram uma música cuja letra genial dispensaria até mesmo estas linhas, pois, bastaria publicá-la. Trata-se da letra de “Comida” gravada pela banda Titãs. Nela os autores discorrem sobre a necessidade do alimento para o corpo e principalmente para a alma como se verifica no trecho: “Bebida é água/ comida é pasto/você tem sede de quê?/você tem fome de quê?/ a gente não quer só comida/ a gente quer comida, diversão e arte” e em outra estrofe continua: “a gente não quer só dinheiro/a gente quer dinheiro e felicidade/a gente não quer só dinheiro/a gente quer inteiro e não pela metade”.
Vivemos tempos sombrios no país que alguns insistem em dizer democrático e cuja história o coloca nu ante a realidade de frequentes golpes de Estado chamados de revoluções e de ditaduras aqui denominadas “ditabrandas”. A história mostra que os períodos democráticos em nosso país são hiatos relativamente curtos, pois, a elite que comanda o país não suporta a democracia embora desenvolva um discurso baseado nela para contestar qualquer liderança política contrária ao seu projeto de vida que consiste em parasitar o Estado em busca de privilégios cuja origem remonta à chegada dos invasores portugueses ao Brasil. Não faltam intelectuais a comentar que a elite nacional é antipatriótica, violenta, cruel, reacionária e mesquinha. Também não faltam aqueles que expõem a baixa capacidade intelectual dessa pseudo-elite e a consideram uma das piores do planeta senão a pior.
A suposta “herança maldita” dos governos progressistas de Lula e Dilma está servindo de pretexto para o governo ilegítimo de Mi-Shell Temer doar o patrimônio nacional do Pré-Sal às petroleiras estrangeiras, destruir a legislação de amparo ao trabalhador (CLT) e assim fazer o Brasil retornar aos anos 1930. O mais novo e forte ataque é contra a Previdência Social que é superavitária, mas, cuja propaganda governamental nos meios de comunicação busca e consegue convencer as pessoas desinformadas da necessidade de tal reforma que vai tornar o Brasil num país de milhões de idosos mendicantes, pois, o mesmo empresário que apóia a aposentadoria aos 70 anos é aquele que demite seu funcionário de 50 anos e contrata um jovem. Tal iniciativa aumentará enormemente o exército de mão de obra de reserva, e a mercadoria trabalho com a maior oferta, e menor procura devido à modernização/mecanização do processo produtivo tende a ser subvalorizada. Também é verdade que grande parte das pessoas morrerá antes da aposentadoria ou a ela terão curta sobrevida.
O Estado do mínimo que Temer e seus asseclas do PMDB/PSDB/DEM estão implantando só é mínimo para os pobres, para a classe trabalhadora, que perde seus direitos trabalhistas e se aposentarão no eclipsar de suas existências para que a pseudo-elite mantenha os privilégios que sempre desfrutou, dessa forma, o governo ilegítimo desse país quebrado está concedendo um trilhão de reais (em renúncias fiscais, perdão integral ou parcial de dívidas, benesses com dinheiro público) para latifundiários, empresas transnacionais de telecomunicações e de energia. Na outra ponta, o salário mínimo não terá mais valorização real ante a inflação, benefícios da previdência não acompanharão os reajustes do salário mínimo e políticas sociais de auxílio à população pobre amparadas na Constituição Federal estão sendo reduzidas e os programas desfigurados para sobrar mais recursos para o Estado Neoliberal que é o Estado Mínimo para a classe trabalhadora e Estado Máximo para os Capitalistas. Sobre essa questão até o Banco Mundial criticou o Brasil afirmando que a dezenas de países recomendou os programas brasileiros de combate à miséria e viu no país criador desses programas a destruição deles e cujo resultado leva a expectativa de que 3,7 milhões de pessoas voltarão à pobreza extrema em 2017. A reforma ditatorial do Ensino Médio, pois, não foi amplamente debatida e construída com a comunidade escolar e a partir desta é tão boa que não será seguida pela rede privada de ensino. Os filhos da classe trabalhadora terão um ensino fragmentado e caótico, o que contribuirá para a manutenção senão aumento da desigualdade social. Da mesma forma, a fé inquebrantável no Estado do mínimo levou os governantes paulistas Alckmin e Beto Richa ambos do PSDB a extinguirem as Orquestras Sinfônicas de seus estados. Além de legar ao povo mais pobre a humilhação do prato vazio, os neoliberais legam à classe trabalhadora à qual grande parte da classe média pertence, a fome da educação humana plena e da cultura.
Enquanto tudo isso ocorre, a população permanece inerte, apática, anestesiada. O que explica tamanha apatia e indiferença do povo com seus algozes? Trata-se da Síndrome de Estocolmo? Trata-se da doutrinação de tantas ditaduras? Alienação midiática? Alguma droga é colocada na água servida à população para que fique neste estado vegetativo de consciência e de ação? Penso que o povo brasileiro deveria ser estudado pela comunidade científica internacional.
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