quinta-feira, 30 de junho de 2016
PMDB: um enclave na democracia brasileira
A ditadura militar (1964-1985) instituiu como legenda de oposição ao partido governista (ARENA), o MDB, que desempenhou papel central na redemocratização nacional ao se opor ao governo autocrata civil-militar. Com a derrota da Emenda Dante de Oliveira que visava instituir a eleição direta para presidente, o PMDB acabou conquistando o Governo Federal em 1984 por meio do Colégio Eleitoral, porém, a morte de Tancredo Neves levou seu vice José Sarney a assumir o cargo presidencial. Tancredo Neves, tão querido pela sociedade brasileira e cuja morte foi copiosamente chorada, agora sabemos, era homem de confiança dos militares que temiam um processo de investigação dos crimes praticados durante a ditadura militar, e, estes tinham no político mineiro a salvaguarda contra um possível revanchismo. Havia grande expectativa quanto ao primeiro governo civil, após o fim de uma ditadura corrupta e sangrenta que entregou a economia arruinada com hiperinflação e gigantesca dívida externa considerada impagável, mas, o Governo Sarney, apesar de seus esforços e da popularidade inicial viu suas iniciativas na área econômica ruírem e a corrupção instalada no governo tornou-se o mote de campanha de Fernando Collor de Mello, vitorioso na campanha presidencial (1989), considerada a mais sórdida depois da redemocratização. A Rede Globo manipulou a edição do debate entre Lula e Collor, e este se elegeu como o “caçador de marajás”, mesmo, sem nunca haver de fato, cassado um. Sua ascensão meteórica por meio de um partido nanico (PRN), o levou a buscar o apoio do principal partido nacional (PMDB), o que obteve, é claro, mediante concessões, porém, Collor fracassou na economia e teve seu governo encerrado por meio de um processo de Impeachment conduzido de forma legítima.
Na primeira eleição direta (1989), vencida por Collor (PRN), o candidato do PMDB era o “Senhor Constituinte” Ulysses Guimarães pelo importante papel que desempenhou à frente dos trabalhos na confecção de nossa Carta Magna, atualmente, tão maltratada e desfigurada. O PMDB nesta eleição se demonstrou um fracasso nas urnas, mas, com a queda de Collor teve seu segundo presidente de forma indireta, com a ascensão ao poder do vice-presidente Itamar Franco eleito pelo PRN, mas, que havia ingressado nas fileiras do PMDB alguns meses antes. O Governo Itamar criou o Plano Real, estabilizou a moeda e controlou a inflação. O PMDB lançou em 1994, Orestes Quércia como candidato, porém, FHC apoiado na Grande Mídia capitalizou para si as conquistas do Plano Real, algo que muita gente ainda crê apesar disso ter sido desmentido por Itamar Franco como pode ser verificado em vídeo no You Tube. O governo de FHC (PSDB) e Marco Maciel (PFL) teve no PMDB seu fiel escudeiro durante o período (1995-2002) que ficou marcado pelo processo de privatizações e gigantesca corrupção dele resultante conhecida como “privataria tucana”.
Lula (2003-2010) fez generosas concessões ao PMDB na forma de cargos para obter a governabilidade, e, Dilma acolheu como vice, Michel Temer (PMDB) nas eleições de 2010 e 2014, e, este em associação com seus asseclas da legenda, em especial, o corrupto-mor Eduardo Cunha operaram um golpe parlamentar mundialmente reconhecido como tal, com o apoio da Grande Mídia e do Judiciário. E desta forma, o PMDB obteve o seu terceiro presidente de forma indireta, pois, não passou pelo crivo das urnas, sendo que chegar à presidência em sucessão ao titular do cargo não gera o mesmo cacife político de ser cabeça de chapa e a fala em contrário como a feita por Temer de que grande parte das pessoas que votaram em Dilma, o fez por causa dele, contraria as pesquisas de opinião para a disputa presidencial que o colocam em último lugar e provoca gargalhada. O PMDB é o partido que, finda a ditadura militar, jamais deixou o governo seja como tal ou como base de sustentação ao governante da vez, e, vários articulistas afirmam que a busca da governabilidade por meio do imprescindível apoio deste partido que é uma verdadeira “Torre de Babel” dada à heterogeneidade de pensamento e da ação de seus componentes traz em seu bojo alto custo para o país dado o fisiologismo dominante na legenda (com raras e nobres exceções). A solução para a crise política que vivemos, não virá pelo PMDB, pois ele é parte geradora da crise, e, nem por meio de um sistema político corrupto financiado por campanhas milionárias decorrentes de doações empresariais que constituem na verdade investimentos a serem resgatados com juros escorchantes após a eleição (com a apresentação/defesa de projetos de interesse privado, licitações fraudulentas e contratos viciados) e, sim por uma reforma política, com parlamentares eleitos pelo povo especificamente para tal, pois, o PMDB que contribuiu para a redemocratização do país, hoje constitui um enclave em âmbito nacional que impede o avanço e o amadurecimento da democracia brasileira!
quinta-feira, 23 de junho de 2016
Sopa de letras
Há alguns dias assisti a fala de um professor universitário, por sinal, muito boa, porém, me questionei sobre o grau de apreensão do conteúdo pelas pessoas que o ouviam tendo em vista a utilização de termos pouco conhecidos. As entrevistas de muitos intelectuais carecem de inteligibilidade, ou seja, a capacidade de se fazer entender, desde o cidadão mais culto ao menos letrado (lembrando que o simples fato de portar um diploma, não torna alguém culto e nem mesmo o fato de não o possuir faz de outra pessoa, menos culta, pois, há o autodidatismo que é a possibilidade de construir sua própria capacidade intelectual e cultural fora da educação formal). O atual momento pelo qual passa o país tem brindado a população com termos pouco conhecidos tais como juristocracia, plutocracia, patrimonialismo, cleptocracia, etc., e não há nada de errado em utilizar termos pouco usuais pela população desde que a informe sobre seu significado enriquecendo desta forma seu vocabulário. Há pessoas que afirmam que na época da ditadura (1964-1985) ou de FHC-PSDB (1995-2002) não havia corrupção e culpam o PT pela sua invenção; também há aqueles que fazem discursos contra a corrupção de forma seletiva denunciando apenas a ocorrida nos governos petistas, usam desta forma da hipocrisia, ou seja, de um falso discurso moralista para disfarçar o seu fascismo (o pensamento que um governo ditatorial, portanto, antidemocrático é o melhor para o país), pois, o pensamento fascista reserva para os segmentos privilegiados da sociedade (geralmente à direita) a exclusividade do direito de administrar o país, e aos trabalhadores, o dever cívico expresso na frase: “não fale de crise, trabalhe” de conhecido líder golpista brasileiro.
Com a midiatização espetacularizada pela Grande Mídia (claramente aliada à oposição e de longa data, simpatizante do PSDB) da corrupção nos governos petistas, há um processo de desmoralização da classe política levada a cabo em parceria com o Judiciário, porém, de forma seletiva. Tanto a mídia como o judiciário têm agido de forma partidária e não faltam depoimentos de réus da Lava-Jato e juristas denunciando o desinteresse e a leniência (lentidão, pouco caso) da mídia e de Magistrados nos casos que envolvem caciques tucanos e figurões do PMDB. O processo de desmoralização da classe política denunciada na Lava-Jato ampliada pela mídia faz com que Magistrados e o próprio Judiciário sejam considerados pela população menos esclarecida como salvadores da pátria, no entanto, os Magistrados são concursados, e, geralmente são oriundos da Casa Grande, portanto, da elite, e desta forma, costumam defender ideais conservadores, e sabemos que muitos têm pautado sua ação de forma claramente partidária e à direita. “A Juristocracia é um sistema de governo onde os Juízes utilizam mecanismos judiciais para impor à sociedade a sua percepção pessoal, muitas vezes a serviço de uma ideologia ou grupo político em prejuízo da ética, da legalidade ou dos anseios populares expressos na urna”, constitui assim uma “ditadura dos sem votos”, pois, Magistrados são concursados e não se submetem ao crivo popular das urnas, e, a exacerbação de seu papel representa grave risco à democracia.
Outro ataque à democracia é o patrimonialismo, ou seja, os políticos que tratam a coisa pública como particular, agindo no Legislativo e no Executivo em benefício de interesses particulares, sendo isso, próprio de sociedades atrasadas, tais como os governos absolutistas cujos reis na Idade Média e Moderna utilizavam os bens e recursos do Reino como se fossem particulares, porém, em pleno século XXI (Idade Contemporânea), isto ainda ocorre em todos os países, em maior ou menor grau, conforme o nível de desenvolvimento, e no Brasil, grande parte dos políticos fazem disso a regra. A elite golpista que governa interinamente o país, além de patrimonialista forma uma cleptocracia, ou seja, um governo formado por ladrões, pois, nenhum governo anterior teve em seu primeiro escalão maior número de denunciados, investigados e condenados por corrupção. O governo interino é também um exemplo de plutocracia (um governo formado pela elite econômica), tendo em vista que grande parte de seus integrantes têm grande patrimônio e governam em benefício dos grandes capitalistas nacionais e estrangeiros, e em prejuízo da classe trabalhadora, cujos direitos trabalhistas e programas sociais têm sido tolhidos com a introdução do conceito de Estado mínimo em detrimento do bem-estar social que deveria ser o norte (ou se preferir, o Sul) a guiar as políticas públicas.
quinta-feira, 16 de junho de 2016
Uma história de amor fora da lei
No dia 23 de Maio de 2016 concluí a leitura do livro Bonnie & Clyde: a vida por trás da lenda que conta a história real do jovem casal de criminosos que aterrorizou a região central dos Estados Unidos da América naqueles anos da depressão econômica que se seguiu à quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929. A coincidência reside no fato de que nesta mesma data há 82 anos, o jovem casal fora da lei escrevia a última página de sua história ao ser emboscado e morto num grande esforço investigativo do FBI para encontrá-los, pois, estavam sempre em movimento por diferentes cidades e estados da região central dos EUA, onde praticavam seus crimes, especialmente assaltos a bancos. Os pais de Clyde Barrow eram agricultores arrendatários de terra e naqueles anos difíceis marcados pela depressão econômica o casal não viu possibilidades de progresso no campo e seguiu para Dallas, cidade texana onde se estabeleceram como proprietários de um posto de gasolina. Os relatos acerca da infância de Clyde apontam-no como um menino insensível, teimoso, durão e que tinha vergonha de ser pobre, apesar das declarações de sua irmã de que ele era uma pessoa meiga e que os anos dentro da cadeia o havia tornado uma pessoa amarga e cruel. As primeiras incursões de Clyde pelo mundo do crime se iniciaram com o roubo de galos de briga, e, em seguida, de bicicletas que eram revendidas.
Bonnie Parker tinha apenas 1,50 m de altura e pesava cerca de 50 kg, era muito bonita, simpática e muito ligada á sua mãe, tinha o hábito de escrever poesias e adorava música country, e, sua família possuía uma condição de vida bem melhor que a da família Barrow. Bonnie adorava assistir filmes e acalentava o sonho de ser uma atriz famosa de Hollywood, porém, sua primeira e única tentativa de ser selecionada para atriz resultou negativa para sua grande decepção. Ela casou-se muito jovem e teve seu casamento frustrado quando seu marido foi enviado para a cadeia, tentando refazer a vida, trabalhou como garçonete em lanchonetes e restaurantes e na casa de uma amiga conheceu Clyde Barrow que era considerado um rapaz bonito e que gostava de vestir-se com belos ternos e gravatas. Clyde, de estatura mediana, também havia passado por desilusões amorosas e entre as tatuagens que possuía em seu corpo, uma retratava a face de uma moça que teria sido o seu grande amor. Seus amigos contaram que o primeiro encontro entre eles foi paixão à primeira vista e Clyde certa vez alugou um veículo esportivo novo para impressionar Bonnie e não o devolveu no prazo acertado com a locadora, pois, levou Bonnie e sua mãe em viagem a uma cidade distante para visitar parentes dela, porém, quando a polícia localizou o carro, Clyde fugiu, pois, já tinha problemas com a justiça e ela ficou sabendo que seu namorado era um criminoso.
Os policiais estavam sempre visitando a família de Clyde, pois, em diversas ocasiões havia suspeitas quanto à participação da gangue dos Barrow’s da qual participavam rapazes da vizinhança, e, também seu irmão Buck. Porém, nestes primeiros contatos com a lei, a culpa não era comprovada, mas, a polícia não deixava de seguir suas pegadas, assim, Bonnie resolveu acompanhá-lo na vida sem rumo certo que Barrow decidiu tomar e começou a ver certo glamour nas notícias de jornais que retratavam os crimes praticados pelo casal e seus comparsas. Clyde em uma fracassada tentativa de assalto a uma empresa foi detido e condenado à prisão de Eastham, cujo trabalho na agricultura era pesado e não havia condescendência dos agentes penitenciários com os presidiários que não acompanhavam o ritmo dos trabalhos, lá Barrow passou dias ruins e foi estuprado por um presidiário de confiança dos agentes, e que contava com privilégios na penitenciária, mais tarde, Barrow mata esse presidiário e outro prisioneiro condenado à prisão perpétua assume o crime em troca da promessa de Clyde que uma vez fora da penitenciária voltaria para libertá-lo e aos demais amigos que cumpriam pena naquilo que chamava de inferno e o fez com sucesso, porém, com o assassinato de agentes penitenciários. Clyde e Bonnie adoravam veículos possantes e acumulavam armas pesadas e seguiram sua vida de crimes com assaltos a bancos, fugas espetaculares e assassinatos de policiais até o fatídico 23 de maio de 1934.
Sugestão de boa leitura:
Bonnie & Clyde: a vida por trás da lenda – Paul Schneider.
P.S.: Para os cinéfilos: Há uma nova versão em vídeo da história real de Bonnie & Clyde em dois volumes nas locadoras.
quinta-feira, 9 de junho de 2016
Sobre o tempo e a paciência
O russo Leon Tolstoi (1828-1910) autor de Guerra e Paz, uma das maiores obras da literatura mundial, disse, com razão: “o tempo e a paciência são dois eternos beligerantes”. Penso que com o tempo deveríamos nos tornar mais pacientes com a inevitável atenuação daquele ímpeto da juventude de querer mudar o mundo, porém, é justamente a percepção da passagem do tempo ante os olhos, e a observação que a sociedade desconhece a história, e assim está condenada a repetí-la, como afirmou o filósofo e político anglo-irlandês Edmund Burke (1729-1797), que a paciência se esvai. É assim que vejo a sociedade brasileira ante o golpe patrocinado por uma elite brasileira acertadamente considerada violenta, fascista e ignorante pela filósofa brasileira Marilena Chauí. Somos frutos do ensino público acrítico da ditadura militar (1964-1985) em que professores foram duramente reprimidos nas universidades, cujos departamentos de Ciências Humanas com as disciplinas de Filosofia, Geografia, História e Sociologia teve muitos de seus mestres presos e torturados por praticar o “crime” de pensar e de levarem seus alunos a também fazê-lo, por isso, a apatia brasileira foi intencionalmente programada pelo fascismo da época e se reproduz até os dias atuais. O fascismo não tolera a liberdade de pensamento e não convive bem com movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda que se colocam ao lado do povo e não do capital, portanto, precisa que os cidadãos sejam adestrados para não contestarem as ordens e nem mesmo praticarem o absurdo ato da discussão da ideologia posta.
Sei que a paciência é uma virtude, mas, tem sido difícil digerir tolices que tenho ouvido, principalmente quando, devido à repetição por diferentes indivíduos observo que se trata do pensamento de um segmento social, assim, a reflexão se faz necessária. Ouvi de algumas pessoas que o governo interino é o mesmo governo, pois o vice-presidente assumiu a presidência, penso que isso é um absurdo, como julgar ser o mesmo governo, uma equipe integrada por membros do PSDB, DEM e demais adversários de sempre do PT? Como pensar ser o mesmo governo, uma gestão que por meio de um golpe, no poder executa uma guinada radical na direção da política externa até agora orientada prioritariamente na relação Sul-Sul e a reposiciona na órbita de influência dos Estados Unidos da América com a intenção de cortar a pouca soberania nacional efetivada com a criação e integração ao bloco Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e busca levar o país de volta à submissão ao país ianque, mesmo com tudo que o país tem a perder em termos econômicos e geopolíticos para favorecer a hiperpotência em seus propósitos imperialistas de não perder um quinhão do seu quintal latino-americano em que o Brasil foi transformado desde a saída dos portugueses e o posterior enfraquecimento da Inglaterra? Como acreditar ser o mesmo governo, uma equipe que ao contrário do governo Dilma tem buscado atacar os direitos trabalhistas e as conquistas sociais dos últimos doze anos desvinculando recursos da Educação, da Saúde com alterações constitucionais para poder dar ao povo menos Educação e menos Saúde? Como pensar ser o mesmo governo, um grupo de políticos que apoiado pelo grande capital nacional e estrangeiro retoma a agenda de privatizações deixada de lado desde o fim do governo FHC (1995-2002) e que deseja entregar às petroleiras estrangeiras o petróleo do Pré-Sal tirando a Petrobras da parceria obrigatória mínima de 30% causando a redução de sua lucratividade com o objetivo de num futuro próximo também privatizá-la?
Observei também que algumas pessoas que muito se manifestavam contra a corrupção durante os governos Lula e Dilma, se calaram ante a escolha de políticos corruptos do governo golpista de Temer que tal como no programa Big Brother Brasil da também golpista Rede Globo tem um de seus escolhidos eliminados por semana devido a problemas com a Justiça por meio das delações premiadas. Ocorre que devido ao risco da Presidenta Dilma retornar pelo fracasso retumbante que a gestão interina de Temer tem se configurado, a grande mídia golpista retoma o ataque à Dilma, a Lula e ao PT. Por sua vez, os fascistas nostálgicos da ditadura militar também o fazem nas redes sociais, evidenciando sua hipocrisia, pois, não denunciam a corrupção do governo interino, são apenas instrumentos do estado policial e antidemocrático que buscam implantar no país por não saberem respeitar as regras democráticas ante a incompetência atestada nas urnas.
Penso que preciso de paciência e de tempo, o problema é que ambos conspiram contra mim!
segunda-feira, 6 de junho de 2016
Uma geração multi-tarefas ou idiota?
Vivemos uma época em que os jovens passam boa parte do tempo frente ao computador e/ou à TV, e, embora ambos possam ser instrumentos de grande valia para a aprendizagem, isso não se observa na prática, pois, a Internet é utilizada para futilidades (bate-papos) ou para encontrar respostas prontas para as atividades escolares evitando o nobre exercício do pensar, e, não raras vezes o trabalho escolar pronto, e, se o professor não exige que este seja manuscrito, o aluno ainda fica dispensado da leitura do mesmo, o que configura aprendizagem nula. A TV aberta brasileira raramente apresenta programas de boa qualidade e os telejornais são marcados pela omissão e manipulação editorial com o claro objetivo de formar uma sociedade alienada para que o status quo societário permaneça inalterado. O humorista estadunidense Grouxo Marx corretamente afirmou: “Eu acho a TV muito instrutiva. Sempre que alguém lá em casa liga a TV na sala, eu vou para o quarto e leio um livro”. Certa vez observei a atitude de um jovem que tendo chegado atrasado à palestra que também assistia, ligou seu notebook e enquanto ouvia a palestra consultava na Internet termos e obras citados pelo palestrista, além de mexer algumas vezes em seu celular durante a fala. Eu me questionei quanto ao grau de apreensão do conteúdo da palestra por aquele jovem, afinal, tratar-se-ia de um ser humano cujo cérebro realiza com perfeição várias atividades de forma simultânea, algo que este escriba não consegue, ou enquadrar-se-ia na famosa frase do gênio Albert Einstein quando vaticinou: “Eu temo o dia em que a tecnologia ultrapasse nossa interação humana, o mundo terá então uma geração de idiotas”.
Nas salas de aulas, muitos jovens ao contrário de gerações anteriores não conseguem realizar de forma satisfatória as quatro operações básicas da Matemática, e, ler e escrever são tarefas igualmente penosas para boa parte destes. O brasileiro tem pouco apreço à leitura tal como evidenciado em várias pesquisas comparativas entre o Brasil e países europeus e mesmo latino-americanos, disso resulta a queixa dos editores brasileiros que reclamam da baixa tiragem dos livros em nosso país, o que contribui para o encarecimento das obras. Segundo pesquisa, sete de cada dez brasileiros não leu um único livro em 2014 e a média brasileira de leitura é de dois livros per capita por ano, e o problema é ainda maior quando se constata que essa média vem caindo há alguns anos. Outro fato que não contribui para o incremento do hábito da leitura ocorre nos municípios de menor população que não costumam ter livrarias com farta e variada oferta de exemplares, além, é claro do menor nível da formação educacional de seus habitantes. Certa vez, conversei com um proprietário de papelaria que afirmou que o problema está em não conseguir vender com preços tão competitivos quanto os sites da Internet devido à baixa tiragem e ao prazo relativamente longo para a consecução da venda.
A popularização do smartphone tem contribuído para o desapego ao livro, sendo que tal aparelho se converteu numa praga, e, nem mesmo o fato de sua utilização ser proibida por lei na sala de aula, faz com que os jovens mantenham-nos desligados, pois, muitas vezes são flagrados por seus mestres conectados a redes sociais virtuais, numa atitude de desrespeito com o professor e de descaso com sua própria aprendizagem e com a expectativa de seus pais. O bilionário Bill Gates (proprietário da Microsoft e criador do software Windows que tornou mais amigável a relação do ser humano com o computador) atento a importância do estudo e da leitura disse que seus filhos teriam computadores, mas, que antes teriam livros, porque sem os livros, os seus filhos seriam incapazes de escrever a sua própria história. Num país em que grande parte dos progenitores leu seu último livro na escola, ou, na Universidade não há muito como influenciar o hábito da leitura entre os mais jovens que deve ser estimulado e desenvolvido na infância. Como os filhos têm em seus pais, exemplos a seguir, se estes estão sempre às voltas com os livros é muito provável que também cultivem esse hábito e o contrário, idem.
A humanidade vive um paradoxo, em pleno século XXI: a tecnologia que veio para libertar o homem do trabalho árduo pode torná-lo prisioneiro da ignorância!
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