domingo, 6 de outubro de 2013
A classe roceira e a classe operária [...]
Sendo eu um professor de Geografia causa grande estranheza (até para mim!) não ter dedicado até o presente momento um artigo neste espaço sobre a reforma agrária. Muito embora somente agora escreva sobre o tema, a anotação para fazê-lo está registrada num papel amarelado pelo tempo, pois sempre havia um tema do momento ou da inspiração. Logicamente se levasse em conta tão somente a importância do tema teria feito tais linhas no primeiro ano de “A Vista de Meu Ponto!”. O leitor poderia julgar pela demora em escrever que tenho pouca familiaridade com a temática, pois sou fruto da educação pública propiciada pelo repressivo regime militar que infelizmente tivemos em nosso país, o qual cerceava a criticidade dos mestres que temerosos evitavam fazer denúncias sobre as mazelas que afetavam o país. Poderia ainda o leitor pensar que o assunto me é indigesto, pois tenho amigos que discordam do mesmo, nada mais equivocado, pois, penso que se uma amizade não resiste à divergência de opiniões ela não deve ser vivida.
Nos primeiros anos da juventude eu fazia parte de um Grupo de Jovens subordinado à Pastoral da Juventude da Igreja Católica no qual além das temáticas religiosas discutíamos as questões políticas e as injustiças que afetavam a classe trabalhadora. Foi neste Grupo de Jovens que eu tive meu primeiro contato com a temática da concentração da terra e da violência no campo e da consequente necessidade da reforma agrária. São comuns críticas às Igrejas (é bom que se diga, nem todas injustamente) e o silêncio quando de boas ações por elas tomadas, então, eu torno público o meu elogio pela iniciativa da Igreja Católica via Pastoral da Juventude em promover tais discussões entre os jovens naquela época chegando aonde muitas vezes a escola pública não chegava! Nas reuniões aprendíamos os “gritos de ordem” e os hinos cantados durante a realização da Romaria da Terra e até hoje me lembro das romarias sempre que ouço a canção “Grande Esperança” que foi gravada por Chico Rey e Paraná: “A classe roceira e a classe operária / Ansiosas esperam a reforma agrária / Sabendo que ela dará solução / Para a situação que está precária / Saindo projeto do chão brasileiro / De cada roceiro ganhar sua área / Sei que miséria ninguém viveria / E a produção já aumentaria / Quinhentos por cento até na pecuária! [...]”.
Além de discutirmos os dados sobre a concentração da terra e da violência no campo e a necessidade da democratização do acesso à terra, algumas vezes fomos além da teoria ao exercitar a cidadania por meio da participação em Romarias da Terra em municípios para os quais nos deslocávamos sempre com ônibus lotado. As romarias são organizadas pela Comissão Pastoral da Terra que alterna os municípios que sediam a realização do referido evento anual cuja ênfase é a defesa da dignidade humana em contraponto ao vigente sistema capitalista concentrador da renda e da terra. Até o presente ano (2013) já foram contabilizadas 27 edições da Romaria da Terra, sendo que a última foi realizada em 18 de Agosto no município de Faxinal (PR). Lembro-me que os meios de comunicação divulgavam pouco as romarias, mas o faziam e hoje tais eventos parecem ter caído no ostracismo, (o que não causa surpresa) uma vez que a grande mídia representa os interesses da classe dominante e divulga o que a esta convém.
Penso que tal como na letra Ideologia de Cazuza muitos de nós (da minha geração) éramos “aquele garoto que ia mudar o mundo e hoje assiste a tudo em cima do muro [...]”. Porém, como meu equilíbrio para ficar em cima do muro sempre foi pouco, breve mostrarei qual é a minha visão a partir do lado do muro em que sempre me postei.
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