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sábado, 1 de abril de 2023

Walden ou A vida nos bosques

 

O estadunidense Henry David Thoreau (1817-1862) foi escritor, poeta, naturalista, pesquisador, filósofo e transcendentalista. È mais conhecido por seu livro "Walden", uma reflexão sobre a vida simples cercada pela natureza, e por seu ensaio "A desobediência civil". Minha primeira experiência como leitor de sua obra foi com o ensaio "A desobediência civil" que inspirou grandes nomes da história mundial, dentre eles Mohandas Karanchand Gandhi, mundialmente conhecido como Mahatma Gandhi, o líder do processo de independência pacífica da Índia, então colônia da Inglaterra. O simples fato de Gandhi ter aplicado ensinamentos de Thoreau, dispensa qualquer comentário adicional de minha parte quanto ao escritor.

            A obra de Thoreau foi escrita no século XIX,  mas, ainda hoje exerce grande influência sobre as pessoas, principalmente aquelas que se postam nos grupos de não acomodação diante do status quo da sociedade. Henry D. Thoreau nasceu na pequena cidade de Concord, Estado de Massachusetts e nela faleceu com apenas quarenta e cinco anos de idade, deixando para a classe intelectual um sentimento de vazio, pois, uma mente tão brilhante ainda tinha muita luz a lançar sobre a escuridão em que vive a sociedade humana. Thoreau estudou em Harvard e, detinha um elevado grau de conhecimento obtido pelos livros e também das suas observações/reflexões acerca da natureza, da sociedade, enfim, da vida. Apesar de viver numa pequena cidade, Thoreau desejava ficar mais tempo sozinho e praticar a contemplação da natureza e refletir sobre a vida. Pretendia também ter uma vida mais simples, pois julgava desnecessário todo o luxo de que as pessoas se cercavam. Acreditava que não havia necessidade de tantos móveis, aparatos e roupas. Pensava também que se gastava demais com a alimentação, pois via nos banquetes, dos quais participou como convidado, mera ostentação com o fim de forjar uma imagem perante a sociedade.

            Henry resolveu construir com as próprias mãos uma cabana junto ao lago Walden, com a benção do proprietário da terra, um amigo seu. Na obra, ele faz a reflexão sobre que tamanho, a casa precisava ter para dar apenas o abrigo necessário a um ser humano ante às intempéries, luxo estava fora de cogitação. Thoreau conta como construiu a cabana, detalha suas medidas e os valores gastos para construí-la. Entre o lago Walden e sua cabana, passava a linha do trem, além disso, o local ficava a apenas alguns quilômetros de Concord e, o escritor costumava receber visitas de seus amigos urbanos e de caminheiros que chegavam à sua casa para obter informações ou auxílio, especialmente nos dias mais gelados. Thoreau decidiu que tinha que conseguir os alimentos sem depender de ninguém, dessa forma caçava,  pescava e cultivava alimentos, porém, suas reflexões sobre quão selvagem era o ser humano ao matar vidas, para delas se alimentar, o levaram a adoção do vegetarianismo. O filósofo praticava a semeadura e a colheita de uma pequena área de terra, sempre calculada para ser apenas o necessário à sua sobrevivência e não lhe obrigar a dispender tempo extra, pois, havia que sobrar bastante tempo para a contemplação da vida,  leituras e reflexões. Henry David Thoreau tinha uma mente multifacetada, e uma dessas faces era a do cientista que relatava as espécies vegetais e animais (inclusive com seus nomes científicos) da região. O naturalista trabalhou como agrimensor, portanto, percorria facilmente a seara da matemática. Sua curiosidade o levou a medir a área do lago Walden e descobrir sua profundidade, algo que fez detalhadamente, margem a margem, atribuindo uma pequena distância entre uma linha de medição e outra, estabelecendo cotas batimétricas. Thoreau também observou que o tamanho das bolhas de ar nas placas de gelo que se formavam no lago durante o inverno tinham tamanhos diferente conforme a profundidade.

            O escritor, como disse, não aceitava o rótulo de misantropo, mas apreciava ficar sozinho e assim superar a dependência das outras pessoas para ser feliz, pois era nestes momentos, sozinho, que encontrava a paz. Seus ensinamentos são de grande importância nestes tempos em que vivemos, no qual grande parte da humanidade encontra-se escravizada, pelas redes sociais, pelas mídias digitais e pela onipresença dos smartphones. Ao ler Thoreau, impossível não sentir puxões de orelha, por dedicarmos tanto tempo ao trabalho (vendendo parte de nossas vidas) para adquirirmos aparatos tecnológicos, que poderíamos viver sem. Critica fortemente o consumo de supérfluos, pois prega uma vida com simplicidade. O filósofo coloca o dedo nas feridas do nosso comodismo ante aos desmandos de autoridades do governo e nos faz corar de vergonha acerca de nossa inação ante tal estado de coisas. Considera que as pessoas adultas estão sonâmbulas, acordadas estão apenas as crianças.

            Encerro com uma brilhante frase do também poeta Thoreau: "Se você já construiu castelos no ar, não tenha vergonha deles. Eles estão onde precisam estar. Agora dê-lhes alicerces".

            P.S. Livro indicado para quem tem uma mente aberta a divagações filosóficas!

Sugestão de boa leitura:

Título: Walden ou a vida nos bosques.

Autor: Henry David Thoreau.

Editora: L&PM, 2010, 336 pág.