Na obra "Bartleby, o escrivão" o
narrador é um advogado de sessenta anos que, embora não tenha tido grande êxito
profissional a ponto de entre seus pares alcançar grande destaque, nem por isso
lhe faltava trabalho. Dessa forma, o advogado contava com dois escrivães que
tinham como suas tarefas fazer cópias manuais (naquele tempo não havia
fotocopiadoras, etc.) de documentos e pareceres. Após a tarefa de fazer uma ou
várias cópias manuais de tais documentos, estes precisavam ser verificados
quanto a possíveis lapsos no processo de transcrição, trabalho que era feito em
conjunto para ter maior segurança quanto a fidedignidade da cópia.
O advogado resolveu contratar mais
um escrivão, Bartleby era o seu nome. Devido as modestas dimensões do
escritório que contava com apenas duas salas. O advogado resolveu, por não ter
outra solução, colocar a escrivaninha de Bartleby em sua sala, mas, colocou
entre a escrivaninha deste e a sua um biombo. Bartleby ficou próximo a uma
janela cuja vista era o muro/parede de um prédio alto. O escritório ficava na
rua Wall Street, famoso centro financeiro de Nova Iorque (EUA).
O novo empregado demonstrou ser
muito eficiente, porém, muito calado. O advogado não conseguiu arrancar dele
nenhuma informação quanto ao seu passado profissional, menos ainda sobre sua
família. No entanto, o funcionário era excelente e isso era o que importava. E
os outros dois funcionários também tinham suas manias, cada um com uma
personalidade diferente, um deles, inclusive era ranzinza, e ele tinha que
aturar o seu mau humor. Ser calado era a menor das manias.
Passado alguns meses, após concluir
um trabalho, o advogado chama Bartleby para que juntos façam a conferência de
um documento e ele polidamente, fala: "Eu preferia não fazê-lo". O
advogado pergunta novamente e ele repete a resposta. O advogado fica perplexo,
pensa em gritar com ele, mas, a forma educada como o funcionário respondeu o impede.
Pensa então em demití-lo, mas, de alguma forma sente compaixão por ele.
Solicita a ajuda de outro funcionário para o trabalho.
No dia seguinte solicita a Bartleby
que se dirija aos correios para entregar um documento e ele responde:
"preferia não fazê-lo". O advogado vai então aos correios e depois
para a casa, incomodado com a situação, na qual se sente impotente pois, não
consegue convencê-lo a trabalhar e tem dó em demití-lo ao conjecturar sobre o
que aconteceu em sua vida que o deixou assim. Bartleby fica o tempo todo
olhando para o muro que vê a partir de sua janela. A situação começa a ficar
exasperante para o advogado que descobre que o funcionário dorme no próprio
local de trabalho utilizando-se da chave reserva. Tenta convencê-lo a mudar
para a sua casa até encontrar outro lugar para ele, mas, Bartleby responde:
"Eu preferia não fazê-lo". Os outros funcionários começam a se
irritar com a situação, pois têm que fazer o trabalho do colega e o advogado
precisa intervir para evitar possíveis rusgas. Clientes fazem solicitações ao
escrivão e este se recusa (educadamente) a fazer ante o próprio patrão. O
advogado cria coragem e demite Bartleby, dando a ele um valor bem superior ao
que ele tinha direito na rescisão. E pede para que ele não venha mais ao escritório,
ele não pega o dinheiro e responde: "Eu preferia não fazê-lo". No dia
seguinte o advogado vai ao escritório e encontra Bartleby e o dinheiro intocado
sobre a mesa. Pensa em chamar a polícia, mas, de alguma forma tem pena dele.
O advogado tem uma ideia, encontra
um novo local para o seu escritório, entrega o imóvel para o senhorio (locador)
e avisa Bartleby que entregou o imóvel e que ele precisa sair e ele responde:
"Eu preferia não fazê-lo". Passam-se alguns dias e o advogado tem a
sensação que a situação está resolvida, porém, o antigo locador e o novo
inquilino cobram que o advogado retire Bartleby do imóvel, colocando nele a
culpa por ter deixado ele no local. Com o intuito de evitar complicações, o
advogado pede para que Bartleby se retire e até que vá morar em sua casa até
arranjar um lugar para ele, mas, Bartleby responde: "Eu preferia não
fazê-lo". O advogado, furioso, se retira sem falar com ninguém.
Passados alguns dias, o advogado é
informado que Bartleby fora preso e, como não tem conhecimento de que ele tenha
parentes resolve visitá-lo na cadeia. O escrivão tem uma certa liberdade na
cadeia, deixam-no circular dentro de algumas repartições, porém, ele fica o dia
todo sentado olhando para o muro que o mantém preso. O advogado tenta conversar
com Bartleby, que pouco fala, mas que afirma ter consciência de onde se
encontra. Fala então com alguns funcionários da cadeia, inclusive com o
cozinheiro e paga a este para que ele tenha a melhor alimentação possível. O
cozinheiro pergunta a ele sugestões para a janta e ele responde: "Eu
preferia não fazê-lo". O advogado volta a seus afazeres, mas passado algum
tempo, é avisado que Bartleby morreu de inanição, mesmo com a insistência do
cozinheiro e demais funcionários da cadeia para que se alimentasse e, ato
contínuo, afirmava: "Eu preferia não fazê-lo".
O advogado relata que do pouco que
se soube sobre Bartleby é que ele tinha como trabalho anterior, um emprego no
qual lhe cabia destruir cartas que não foram entregues devido a não localização
dos destinatários/remetentes. Resolvi escrever esta resenha com spoiler porque
concluí que o mais precioso neste conto é a reflexão sobre Bartleby, seu
trabalho e sua vida e, essa é a sua missão!
Sugestão de
boa leitura:
Título: Bartleby, o
escrivão.
Autor:
Herman Melville.
Editora: José Olympio, 2017,
96 p.