“Esta é uma estória sobre quatro pessoas: Todo Mundo, Alguém, Qualquer Um e Ninguém. Havia um importante trabalho a ser feito, e Todo Mundo tinha certeza que Alguém o faria. Qualquer Um poderia ter feito, mas Ninguém o fez. Alguém se zangou porque este era um trabalho para Todo Mundo. Todo Mundo pensou que Qualquer Um poderia fazê-lo, mas Ninguém imaginou que Todo Mundo deixaria de fazê-lo. Ao final, Todo Mundo culpou Alguém quando Ninguém fez o que Qualquer Um poderia ter feito”. A frase citada (de autoria desconhecida) é muito utilizada no meio empresarial, mas se encaixa muito bem ao momento que vivemos em nosso país. Afinal todas as pessoas esperam que as demais tenham o comprometimento, a honestidade, a dedicação, o respeito às leis, o patriotismo, o interesse no bem coletivo, a retidão de caráter, que, raramente seus rígidos padrões adotados lho aprovariam caso fosse avaliado pelos mesmos critérios aos quais julga os demais.
Recentemente, um presidenciável viajou à Paris e fez uma “reunião de faz de conta” com uma importante autoridade local, haja vista que a referida autoridade não se encontrava na cidade, dessa forma, a reunião não aconteceu, mas, a notícia acerca da reunião sim, afinal, na sociedade atual se um evento ocorre, mas não é divulgado na mídia, afirma-se que ele não ocorreu! Esse tipo de gente pensa que para algo ocorrer não há a necessidade de sua materialidade, mas de sua publicização. Já tivemos em nosso país um caçador de marajás, que jamais caçou marajás. A Grande Mídia passa seus dias procurando encontrar um novo Salvador da Pátria de mentirinha, pois, se for de verdade não interessa às grandes oligarquias nacionais, que são abutres e desejam ter mais carniça, para se alimentar de seus despojos. Em nosso país, temos um “Presidente de faz de conta”, ele finge defender os interesses nacionais! Ele finge que tem alguma legalidade, mas ocupa seu cargo por meio de um Golpe de Estado Suave e sofisticado, que contou com o apoio do Departamento de Estado Americano. Uma vez no poder, Temer mostra a que veio, não para de entregar as riquezas nacionais estratégicas para grupos estrangeiros protegidos sob as bandeiras nacionais de potências, que não fizeram outra coisa na história do capitalismo mundial, que saquear as riquezas de outros povos e promover massacres, cujas vítimas são incontáveis, pois foram varridas para debaixo do tapete dos vencedores. O usurpador do cargo eletivo máximo da nação age com maldade impetuosa contra a classe baixa e média, porém, de forma terna, amistosa e generosa com a alta burguesia nacional e estrangeira.
Para completar o quadro de pesadelo que o país vive, e parafraseando François Guizot (1787-1874), temos como ponta de lança do Judiciário “magistrados de faz de conta” cujos recintos nos quais trabalham foram contaminados pelo partidarismo político e munidos da parcialidade, da seletividade, há muito a Justiça se retirou pela porta dos fundos, escorraçada e humilhada. No Congresso, os “representantes de faz de conta” do povo que nada mais representam que seus mais espúrios interesses fisiológicos, são o câncer que ataca e enfraquece a nossa democracia e torna distante a possibilidade de desenvolvimento soberano. Eles nada mais fazem do que a metástase do atual regime corruptocrata, por tudo quanto suas influências alcançam torna-se corrupção! Nunca houve democracia plena no Brasil, apenas democracia de baixa intensidade. Hoje nem isso, pois, há apenas uma “democracia de faz de conta” e principalmente “cidadãos de faz de conta”. Lima Barreto já dizia: “O Brasil não tem povo, apenas público. Povo luta por seus direitos. Público apenas assiste de camarote”! Recentemente “paneleiros” indignados com a corrupção protestaram. Mas era uma “indignação de faz de conta”, pois era seletiva, portanto hipócrita, haja vista que com a maior quadrilha de criminosos instalada no Poder, suas panelas permanecem mudas!
Enfim, o Brasil é um país que Todo Mundo faz de conta que é patriota, mas está ocupado demais com o próprio umbigo, e espera que Alguém faça algo para impedir a aniquilação do sonho de Qualquer Um em ter um país soberano! Porém, Ninguém faz nada e coloca a culpa em Todo Mundo! Todo mundo faz de conta que não é com ele e diz que Qualquer Um pode fazer. Mas, Ninguém faz! Todo Mundo diz que é necessário recorrer a Alguém para recuperar o país que foi sequestrado por uma quadrilha de criminosos, mas, não há a quem recorrer, porque não há como saber quem é cidadão e quem faz de conta!
quinta-feira, 28 de setembro de 2017
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
“Self made man” – parte 4 - Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá
Irineu Evangelista de Sousa nasceu em 28 de dezembro de 1813, no município de Arroio Grande (RS). Ainda criança perdeu seu pai, o fazendeiro e pecuarista João Evangelista de Ávila e Souza, o qual foi assassinado por ladrões de gado. Sua mãe, Mariana de Jesus Batista de Carvalho casou-se novamente e, seu novo marido não aceitou a permanência dos filhos de Mariana na casa. Guilhermina Evangelista de Sousa (13 anos de idade) teve que casar-se e Irineu com oito anos foi para o Rio de Janeiro com seu tio José Batista de Carvalho. No Rio de Janeiro, passou a trabalhar na casa de comércio do Sr. Pereira de Almeida, um português radicado no Brasil, e que vendia quase tudo, mas, cuja fonte principal de lucros era o comércio de africanos escravizados. O menino Irineu era tão inteligente e dedicado ao trabalho que aos doze anos já foi promovido a “guarda-livros”, profissão atualmente exercida pelo técnico contábil ou bacharel em Contabilidade (contador). Como a Inglaterra estava aprisionando os navios destinados ao tráfico de africanos, o preço destes subiu às alturas, os riscos de perdas financeiras se elevaram, porém, também as margens de lucros. E numa destas empreitadas seu Pereira de Almeida teve enorme prejuízo que quase o levou à ruína.
Irineu negociou com o Sr. Carruthers, um credor escocês da dívida de seu patrão e conseguiu a dilatação do prazo para o pagamento desta. Envidou esforços e conseguiu receber os recursos que eram devidos ao Sr Pereira de Almeida por vários fazendeiros, cujos haveres já eram considerados perdidos. Irineu conseguiu manter para seu patrão, o palacete no Rio de Janeiro e sua fazenda. Ao comparecer ao escritório do Sr. Carruthers para quitar a dívida como havia prometido, teve seu talento reconhecido e foi convidado a trabalhar na empresa de importação e exportação deste. Por indicação de seu novo patrão, estudou os autores do liberalismo clássico, tinha então quinze anos. Quando contava vinte e três anos já era rico, e, sozinho passou a comandar a empresa de exportação e importação, pois, o Sr. Carruthers decidiu voltar para a Inglaterra. Numa visita à Inglaterra em 1840, maravilhou-se com as indústrias daquele país. Passou a sonhar em trazer a modernidade para o Brasil. Sua empresa de importação e exportação estava no auge, liquidou-a mesmo assim, pois, queria investir em indústria num país, cuja elite acreditava que a vocação do Brasil era e deveria ser sempre agrícola. Montou a fábrica de Ponta da Areia, uma fundição que produzia artefatos bélicos, canos metálicos, etc. além de ser também estaleiro, o qual chegou a ter mais de mil empregados. Opositor do regime escravista que considerava fator de atraso do país, acreditava que as pessoas deveriam ser remuneradas por seu trabalho para poderem consumir e movimentar a economia. Sonhava com o fim da escravidão para que o montante empregado no sistema fluísse para o financiamento da atividade industrial. Abriu o segundo Banco do Brasil, o primeiro (estatal) tinha sido liquidado alguns anos antes. Especulou com o câmbio e chegou a passar a perna na família Rotschilds, dona do mais poderoso banco inglês, causando a este perdas financeiras, mas, também espanto e admiração. Foi também construtor de ferrovias e por isso é considerado o patrono dos transportes. Estátuas e bustos seus estão espalhados pelo país em campus de cursos de administração de várias universidades.
Sua ousadia nos negócios, sua metodologia estranha às oligarquias, seu enriquecimento rápido (aos trinta anos já possuía mais riqueza que todo o Império do Brasil, e sua fortuna se corrigida monetariamente, o colocaria na lista dos dez mais ricos do planeta com cerca de 60 bilhões de dólares) trazia-lhe admiração e repulsa de seus contemporâneos. Chegou a ter dezessete empresas, estas contavam com modernos padrões de gerenciamento e quatro de suas empresas estavam entre as seis maiores do país. Foi vítima de inveja e traições. Foi atraiçoado por políticos e até mesmo pelo Imperador Dom Pedro II. Sua derrocada começou com um incêndio criminoso em sua fábrica de Ponta de Areia. Também teve contra si, políticas que beneficiavam a importação de produtos manufaturados em detrimento do produto nacional e políticos que o atacavam e visavam prejudicar suas empresas. Montou empresas em seis países (Brasil, Argentina, Uruguai, Inglaterra, França e Estados Unidos). Possuía fazendas e seu plantel contava cento e trinta mil cabeças de gado bovino. Foi casado com sua sobrinha Maria Joaquina (May) com a qual teve muitos filhos, dos quais, apenas sete chegaram à idade adulta e somente cinco sobreviveram à sua morte. Foi à falência, mas, fez questão de pagar todos os seus credores, pois, dizia que seu nome era o maior patrimônio que possuía. Refez-se e ao final da vida era tão rico quanto aos 30 anos de idade (antes de montar a fábrica da Ponta da Areia), corretor de negócios de café, fazendeiro e pecuarista, não quis mais recriar o sonho do “império pessoal que durasse séculos”, pois, considerava que a mentalidade da elite brasileira ainda não estava amadurecida para suas idéias. Passou o resto da vida recebendo homenagens (Barão e Visconde de Mauá), e convites para recepções na corte, sem, no entanto atendê-los. Faleceu em 21 de outubro de 1889, três semanas antes da Proclamação da República.
Sugestão de boa leitura:
MAUÁ, empresário do império. Jorge Caldeira. Companhia das Letras.
PS: Não deixe de assistir o filme: Mauá: o Imperador e o Rei, disponível no site You Tube.
Sugestão de boa leitura:
MAUÁ, empresário do império. Jorge Caldeira. Companhia das Letras.
PS: Não deixe de assistir o filme: Mauá: o Imperador e o Rei, disponível no site You Tube.
sexta-feira, 15 de setembro de 2017
“Self made man” – parte 3 - Aristóteles Sócrates Onassis
Dentre os bilionários que ostentaram a condição de homem mais rico do mundo por mais tempo, Aristóteles Sócrates Onassis é até hoje insuperável. Ari como era chamado por seus amigos e familiares, nasceu em Esmirna, em território do Império Turco-Otomano, região que atualmente faz parte da Turquia. Turco de nascimento, mas, de família grega, seus pais Sócrates Onassis e Penélope levavam uma vida confortável como cidadãos da classe média até que a Turquia, alguns anos após o fim da Primeira Guerra Mundial recuperou o território tomado pela Grécia. O governo turco desapropriou os bens de cidadãos gregos, tendo em vista os ressentimentos com a Grécia após a tentativa desta em tomar Istambul. Num acordo entre os dois países, houve a troca de civis, um milhão de cidadãos gregos na Turquia, foram obrigados a voltar para a Grécia e quatrocentos mil turcos em terras gregas foram remetidos para a Turquia. A família de Onassis perdeu seus bens e foi obrigada a voltar à terra de origem. Onassis migrou para a Argentina, aonde chegou na condição de refugiado, falsificou seus documentos adulterando sua idade, para poder trabalhar mesmo não tendo ainda a idade legal para tal. Trabalhou como telefonista e se dedicou a estudar o mercado financeiro, investiu seus parcos recursos na bolsa de valores e obteve bons lucros. Comprou roupas caras e começou a frequentar o círculo da alta sociedade, fazendo laços de amizade com ricaços de Buenos Aires e, na companhia de belas moças de famílias tradicionais. Entrou em contato com seu pai na Grécia e se tornou importador de tabaco turco (mais suave que o cubano), e teve a idéia de expandir o hábito do fumo entre as mulheres. Conquistador se aproximou de belas e famosas atrizes e pediu que fumassem em público. Logo, a moda se popularizou. Para ampliar seus negócios fez empréstimos e montou sua própria frota de navios cargueiros para transportar suas encomendas de tabaco.
Casou-se com Athina Livanos, filha do armador Stavros Livanos, que desejava primeiro casar a filha mais velha, Onassis repreendeu-lhe que ele não deveria agir como se estivesse vendendo navios. Convencido pela jovem Athina de 18 anos, o casamento se realizou e deu a Onassis, os filhos Alexander e Christina. Com o sogro (há quem diga que o casamento foi de conveniência) aprendeu o ofício de armador, e munido do conhecimento da área, adquiriu sua própria frota de navios petroleiros. Em certa ocasião, os EUA resolveram vender navios petroleiros que haviam sido utilizados na Segunda Guerra Mundial para cidadãos estadunidenses. Ari não preenchia os requisitos para as aquisições, tentou convencer as autoridades a mudar tais regras por ele consideradas absurdas. Não conseguiu. Interpelou judicialmente, sem sucesso. Então, montou um estratagema: uma empresa (com sócios majoritários estadunidenses, na verdade, laranjas, e ele como sócio minoritário) para participar do leilão em que comprou vários petroleiros a preço de ocasião, e algum tempo depois “adquiriu” todas as ações da empresa, se tornando o único proprietário dos petroleiros concluindo o drible da vaca no enfurecido Tio Sam que não se deu por vencido, e com um processo investigatório aberto pelo FBI, levou Onassis aos tribunais onde foi condenado a pagar uma multa milionária.
Aristóteles, mesmo casado, nunca dispensou os romances de ocasião (era considerado um playboy incorrigível) e sua disposição em conquistar mulheres era tão grande quanto à de ganhar dinheiro. Sua grande paixão foi a também casada Maria Callas, a famosa soprano estadunidense. Callas desejava unir-se definitivamente ao armador grego, que até se separou de Athina para ficar com ela. Porém, a obsessão de Aristóteles por mulheres e status levou-o a aproximar-se de Jacqueline Kennedy, a viúva do presidente estadunidense John F. Kennedy. Feita a ata de contrato nupcial que garantia a Jacqueline Kennedy um terço dos bens de Onassis, o casamento se realizou e ela mergulhou fundo numa vida de ostentação e compras de supérfluos que poderia causar náuseas à qualquer pessoa, mas, não à Jacqueline. O filho de Onassis, Alexander, era piloto e morreu num acidente aéreo em 1974 com o avião que pilotava. Houve suspeita de sabotagem no avião que era costumeiramente utilizado por Aristóteles, o qual tinha vários desafetos. Onassis entrou em depressão com a perda do filho e jamais se recuperou. Morreu em 1975, aos 75 anos de idade, segundo os documentos oficiais (porém, 69 anos de idade biológica). Viveu se fazendo acompanhar das mais belas e famosas mulheres de seu tempo, e, também de magnatas, presidentes, príncipes e reis. Em certa ocasião afirmou: “várias pessoas dizem que não tenho classe, mas, felizmente as pessoas de classe estão sempre dispostas a perdoar esse defeito aos muito ricos”!
Sugestão de boa leitura:
ONASSIS: vida, época e amores de Aristóteles Sócrates Onassis – PETER EVANS. Editora Best Seller.
PS: Christina, filha de Onassis, nasceu em berço de ouro, mas, jamais teve sorte no amor, casou e descasou várias vezes. Deprimida, morreu em 1988, deixando a fortuna construída pelo pai para sua filha Athina, então com três anos. Adulta, Athina assumiu o controle de sua fortuna, até então administrada por tutores indicados pela família. Casou-se com o jóquei brasileiro Doda Miranda de quem se divorciou recentemente. Há muita controvérsia sobre o tamanho de sua fortuna devido às dúvidas que resultam em separar o que é patrimônio de Athina e o que é patrimônio da Fundação Onassis.
sábado, 9 de setembro de 2017
“Self made man” – parte 2 - Percival Farquhar
Dentre as várias personagens que segundo os admiradores do capitalismo fazem jus em serem reconhecidas como “self made man” está o nome do empresário estadunidense Percival Farquhar (Iorque, 1864 - Nova Iorque, 1953). Nascido numa família abastada, cujo pai, um empresário industrial bem sucedido, Farquhar teve a possibilidade de estudar nas melhores escolas estadunidenses e de cursar engenharia na famosa e elitista Universidade Yale. Formado, começou a trabalhar na empresa de seu pai. Ainda jovem, também se dedicou à política, tendo duas passagens pela Câmara dos Representantes de Annapolis, a capital do Estado de Maryland. Ocupou também cargos executivos em empresas de transportes em Nova Iorque. Como o histórico sonho estadunidense sempre foi anexar Cuba, realizou uma viagem de exploração à ilha recém livre da dominação espanhola. Convenceu seus amigos endinheirados a embarcarem com ele na aventura que tinha como objetivo a exploração de serviços de utilidade pública em Havana, isto no período de 1898-1902. Concomitantemente, formou a empresa Cuba Railroad (1900-1903), que construiu a estrada de ferro que integrou regiões agrícolas até então isoladas com a capital Havana. O dinheiro para seus empreendimentos vinham sempre da sociedade com amigos capitalistas, ou ainda do lançamento de ações na bolsa de valores e/ou empréstimos, junto a banqueiros europeus. De 1903 a 1908 foi vice-presidente da Guatemala Railway. Também teve ferrovias e minas na Rússia, e negociou pessoalmente com Lênin. Ao se retirar desse país venceu uma disputa jurídica com o Estado, sendo, portanto indenizado.
Percival Farquhar se gabava que era capaz de vender qualquer coisa. Em certa ocasião, um grande banqueiro inglês estava evitando recebê-lo em seu escritório, pois, considerava que seus empreendimentos envolviam riscos excessivos. Mas, Percival encontrou o banqueiro nas ruas de Londres, e, este não conseguiu escapar à sua lábia. Questionado por seus colaboradores sobre o motivo que o levou a mudar de opinião quanto a financiar os perigosos empreendimentos do estadunidense, o banqueiro inglês disse: “tenho sorte em não ser mulher” (pois, caso fosse, Farquhar teria conseguido mais do que dinheiro). Embora tenha atuado em vários países como o Paraguai, a Argentina e o Uruguai, no Brasil é que Percival Farquhar deu dimensões colossais ao seu império. Foi proprietário dos portos do Rio de Janeiro, de Rio Grande (RS) e do Pará e de empresas de navegação. Explorou serviços de bonde, água e eletricidade no Rio de Janeiro e na Bahia. Sua obra mais famosa foi a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré com o sacrifício de milhares de vidas principalmente pela malária no período de 1906 a 1915. Possuiu fazendas de gado com milhares de alqueires e igual número de reses. Montou o frigorífico Continental (segundo do Brasil) sendo que os animais eram trazidos de suas fazendas por meio de trem para o abate em Osasco (SP). Adquiriu e concluiu a construção da estrada de ferro que ligava São Paulo (SP) à Santa Maria (RS) e que deu origem a empresa Brazil Railway Company e a Southern Lumber & Colonization Company. Recebia em numerário por quilômetro, além de quinze quilômetros de terras para cada lado da ferrovia, assim impôs ao traçado da ferrovia, curvas desnecessárias, e procurava passar por terras ricas em madeiras nobres (araucárias e imbuias) as quais beneficiava em gigantescas serrarias de sua propriedade, que eram as maiores da América Latina e se localizavam em Três Barras (SC) e Calmon (SC). Após o aproveitamento das madeiras, as terras eram então vendidas. Suas empresas estiveram envolvidas na Guerra do Contestado (1912-1916) e constituíam um enclave dos EUA no Brasil. Hasteava-se a bandeira ianque e os feriados daquele país eram respeitados. A empresa costumava utilizar-se de pistoleiros estadunidenses para “pacificar” os funcionários descontentes, bem como expulsar posseiros que muito tempo antes da chegada da empresa à região já a ocupavam. Suas empresas tinham caixa 2 e funcionários especialmente designados para “convencer” os políticos resistentes aos seus interesses. As crises econômicas resultantes das Guerras Mundiais lhe causaram a queda de seu pedestal dourado, e os investidores de seus empreendimentos arcaram com os prejuízos de suas aventuras que resultaram em recuperação judicial.
Reclamava muito de Getúlio Vargas, pela criação dos direitos trabalhistas da CLT e pela demora com que este tomava decisões. Sobre Vargas dizia: “ele costuma deixar tudo como está, para ver como fica”! Foi proprietário da empresa Itabira Iron Ore Co. Mas, Vargas e seus assessores a nacionalizaram dando origem à estatal Vale do Rio Doce (atual Vale), depois privatizada por FHC. Tentou criar a primeira grande siderúrgica brasileira, isso antes da CSN, mas, foi impedido por políticos nacionalistas. Fundou então a siderúrgica Acesita que acabou encampada pelo Banco do Brasil devido ao seu forte endividamento e privatizada por Collor. Jamais se aposentou. Morreu em 1953, aos 89 anos de idade, devido a complicações resultantes de uma cirurgia cerebral que visava vencer o Mal de Parkinson. Alguns historiadores fazem dele um herói, outros um vilão sem escrúpulos.
A biografia que aqui indico é boa, porém, apologética, então não deve ser vista como a pura expressão da verdade.
Sugestão de boa leitura:
FARQUHAR, O ÚLTIMO TITÃ: um empreendedor americano na América Latina – Charles A. Gauld.
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