sexta-feira, 20 de junho de 2014
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra!
Em minha atuação docente, citando um exemplo mais específico, quando trabalho o conteúdo clima, eu costumo pedir aos alunos que olhem pela janela e afirmo que eles estão visualizando o tempo meteorológico (ensolarado, nublado, chuvoso, etc.) obtendo assim uma fotografia das condições atmosféricas locais e que o clima é algo mais difícil de ser precisado havendo a necessidade de um tempo de estudo não inferior a 30 anos para não se cometer equívocos, pois, pode-se estabelecer que numa determinada localidade neva no inverno porque foi observada a precipitação de neve num ano específico em que houve o hipotético estudo de um ano apenas, o mesmo erro pode ocorrer com as variações positivas ou negativas do índice pluviométrico na localidade. Para evitar equívocos os estudos são longos e cuidadosos e os registros precisos para que no passar do referido período de estudo se estabeleça um padrão para as condições atmosféricas predominantes nas quatro estações no espaço estudado. O padrão uma vez estabelecido é a “personalidade” do clima local, e se o tempo meteorológico corresponde à fotografia, o clima é um filme, ou seja, a sucessão de milhares de imagens momentâneas do tempo meteorológico no decorrer do tempo de estudo.
Mas, por que estamos falando de clima se o título indica outra direção? Explico primeiramente a frase utilizada no título cuja ideia é para que se evitem exageros e se busquem as ponderações. A introdução que fiz tratando de clima é de que não é possível conhecer o clima de um local ao analisar um dia ou um ano de forma isolada. Da mesma forma, pode-se utilizar uma fotografia da pobreza existente nos EUA e afirmar que isso é o Capitalismo e mostrar o que há de melhor em Cuba e dizer que isso é o Socialismo (a grande mídia costuma fazer o contrário mostrando o pior ângulo de Cuba e o melhor ângulo dos EUA) e ambas as formas são visões estereotipadas. Costumo afirmar para os alunos que nos países desenvolvidos também há pobreza e desigualdade social, porém, em menor grau, e que nos últimos anos estas vêm aumentando e que temos no Brasil, muitos problemas, mas também a capacidade de resolvê-los. Constato que boa parte das pessoas tem uma visão romântica de que nos EUA e na Europa tudo é perfeito, não há miséria, nem desemprego, nem corrupção, nem discriminação, nem crimes, etc. e que recebemos o castigo divino por nascermos nas terras tupiniquins. Lembro que turistas latino-americanos, muitos inclusive brasileiros já foram discriminados etnicamente ao aportar na Europa, alguns tiveram que retornar sem sair do aeroporto (Espanha) e que nos estádios europeus parte da torcida discrimina atletas negros (Espanha, Itália, etc.). Na Alemanha, o neonazismo vem crescendo no meio de uma geração de jovens que nunca conheceu a miséria e várias vezes li e assisti sobre casos de espancamentos de turistas inclusive brasileiros por skinheads que perambulam nas imediações de estações rodoviárias, ferroviárias e aeroportos na busca de estrangeiros para saciar a sua sede xenofóbica.
Na verdade, dependendo da intenção pode-se mostrar a Europa e os EUA como péssimos destinos turísticos evidenciando fatos negativos isolados ou exaltá-los em suas potencialidades. O mesmo ocorre sobre o Brasil, casos de agressões a estrangeiros aqui também ocorrem, porém, frutos de assaltos em algumas regiões específicas, mas, lá como cá são fatos preocupantes, porém, isolados, se comparado ao número dos que aqui aportaram e não tiveram tais problemas no período de permanência (nem por isso deve haver tolerância, a segurança pública precisa ser ampliada). Por outro lado, hoje ainda estive lendo sobre belíssimos exemplos de honestidade de brasileiros ao devolver ingressos de jogos e dinheiro perdido por turistas estrangeiros e também da boa acolhida dada pelos nossos conterrâneos aos visitantes que afirmam estar encantados com o país e que esta copa está sendo a “Copa da alegria”. Enfim, quero dizer que a Europa e os EUA não são o paraíso na terra e nem mesmo o Brasil, no entanto, os europeus e os estadunidenses amam e defendem o seu pedaço de chão e essa é a maior lição que uma parcela da sociedade brasileira deveria aprender.
domingo, 15 de junho de 2014
Sobre resiliência e ataraxia!
Quando acadêmico este escriba imaginava como deveriam ser os diálogos entre os professores na hora do recreio e pensava serem momentos de discussões filosóficas e também dos grandes problemas locais, nacionais e mundiais, no entanto, quando me tornei professor não tardei a descobrir que tal momento era utilizado para a necessária descontração e que nem sempre puxar um “papo-cabeça” era uma atitude vista com simpatia por parte de alguns colegas. Mas, como para toda a regra há a exceção, não demorei a descobrir que as pessoas são diferentes entre si e que havia aquelas que não torciam o nariz para uma conversa mais fundamentada. Num desses dias estava conversando com uma colega que é professora de Filosofia e contei-lhe que li dois livros sobre a aplicação terapêutica da Filosofia em consultas com pacientes que desejam conseguir ajuda para resolver os problemas da vida que se acumulam e os/as colocam em becos sem saídas. Comentei que essa tendência se observa mais fortemente fora do Brasil, principalmente nos Estados Unidos da América e também na Europa. Afirmei que existe muita gente da área da Psicologia que não está gostando dessa invasão dos filósofos em sua área de atuação e que os consideram despreparados para exercer tal função, enquanto, outros que já são psicólogos estão indo atrás dos ensinamentos de Filosofia para ao se especializar oferecer um algo a mais para os seus “clientes”, uma vez que os psicólogos, segundo li, não chamam as pessoas que atendem como pacientes.
Comentei com a minha colega que os filósofos clínicos auxiliam seus clientes a desatar os nós que a vida lhes apresentou através de sugestões embasadas na teoria de filósofos tais como Platão, ou seja, como Platão pensaria e resolveria o imbróglio em questão apresentado pelo(a) cliente. Particularmente gostei muito dos livros abaixo referenciados, porém, sou bastante eclético nas leituras e assim quem não aprecia filosofia e detesta livros de autoajuda talvez não goste das referidas obras. Aproveitei o ensejo e perguntei a minha interlocutora se conhecia o significado da palavra “resiliência” ao que afirmou não saber, expliquei-lhe que resiliência era a capacidade de transformar um trauma, uma situação estressante da vida em algo edificante de forma que a pessoa sai da situação vivida um alguém mais forte e competente, ou seja, mais resistente a situações de destruição da vida pessoal e/ou profissional. Todos conhecemos pessoas que passaram por uma situação traumática que dividiu sua vida ao meio com “um antes e um depois” que pode ser a morte de entes queridos ou a queda vertiginosa do padrão de vida e do status social, porém, a forma como as pessoas lidam com isso é sempre particular, algumas “tiram de letra”, outras demoram a se adaptar à nova situação, outras jamais conseguem superar e tornam-se consumidoras de calmantes e antidepressivos, inclusive, é digno de nota que o consumo de tais medicamentos em nosso país só faz aumentar.
A minha colega perguntou-me se conhecia o termo “ataraxia” e afirmei que não, ela então me apresentou um texto e explicou-me que por ataraxia entende-se “o estado do homem em que ele se encontra imperturbável frente às emoções, uma condição de tranquilidade, na qual, independentemente dos fatos, o indivíduo permanece inabalável, sem se deixar arrastar por alegrias e prazeres, nem por dores e tristezas”. Ela afirmou que gostaria de atingir tal estágio que era considerado pelos filósofos gregos “uma conquista possível e equivalente à própria felicidade humana”. Quem não queria, não é mesmo? Para encerrar, nada melhor que citar o gênio da psicanálise Freud quando disse “somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro”, assim, caro(a) leitor(a) mantenha sempre em sua “farmácia caseira” doses de resiliência e de ataraxia, pois, desejo que nunca precises, mas, se precisares, que a superação seja rápida e o(a) torne um alguém mais forte.
Sugestão de boa leitura:
MARINOFF, L. Mais Platão e menos Prozac: A Filosofia aplicada ao cotidiano. 2002, Editora Record.
__________. Pergunte a Platão. Terapia para quem não precisa de terapia ou como a Filosofia pode mudar sua vida. 2005, Editora Record.
sexta-feira, 6 de junho de 2014
Vai ter Copa, Saúde e Educação!
Inicio estas linhas com a lembrança à mente de uma frase do dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht que viveu no período de 1898 a 1956, mas, cuja vida ecoa nas palavras proferidas e imortalizadas chegando ao nosso tempo com uma sapiência estimulante e ao mesmo tempo demolidora, estimulante por que nos encaminha ao ato do pensar, atividade tão básica do ser humano e tão desprezada, visto que tão poucos a ela se dedicam e muitos que o fazem não saem da lâmina d´água num Oceano filosófico de profundidades abissais, e, o lado reverso a que me referi diz respeito a destruição de ideias tão em voga, mas, sem nenhuma racionalidade, portanto, instintivas. A frase de Brecht que me veio à memória é “que tempos são estes em que é necessário defender o óbvio”? Como sabemos a genialidade muitas vezes não se encontra nas verdadeiras respostas, mas, nas verdadeiras perguntas e a partir desta frase se poderiam fazer inúmeras elucubrações, no entanto, este artigo que ora inicio estava previsto na pauta para esta semana com um tema específico e que naturalmente vem ganhando cada vez mais tempo nos meios de comunicação, a Copa do Mundo que após 64 anos retorna aos gramados brasileiros.
Penso que numa democracia nada é mais natural e principalmente necessário do que a liberdade de expressão, a possibilidade de se fazer manifestações a favor ou contra qualquer coisa desde que respeitada a lei e a ordem, pois, apesar de apoiar manifestações e ver nelas o fermento da democracia sou radicalmente contra depredações de patrimônio público ou privado, pois, para dar um recado não há a necessidade de agir de forma vandálica e penso que devem ser detidas as pessoas que assim agirem. Estamos a poucos dias do início da Copa do Mundo e um grupo de manifestantes retardatários resolveu que irá utilizar o período da realização da Copa do Mundo para mostrar sua indignação afirmando que o dinheiro gasto na Copa deveria ser investido em Educação, Saúde, etc.. Penso que o momento certo para sair às ruas era aquele em que Lula então Presidente avisou através da imprensa nacional que iria colocar o nome do Brasil no processo de escolha da sede do então longínquo mundial, porém, naquele momento não houve protestos nas ruas, e, a desconfiança quanto à possibilidade de escolha do Brasil para sede era quase geral nas terras tupiniquins, mas, o Brasil foi escolhido e lembro-me que a mais poderosa rede de comunicações deste país mostrava o povo comemorando tal fato, aliás, tal empresa parece ter um comportamento bipolar uma vez que é talvez a empresa que mais vai lucrar com o mundial, mesmo assim, ao mesmo tempo parece pela atenção dada ao movimento “Não vai ter Copa” ser aquele atleta que todo técnico de futebol quer, o “coringa” que é assim chamado por jogar em várias posições, a Globo é assim, joga em qualquer posição, mas, não por amor à camisa e sim de acordo com os interesses que norteiam sua carreira e desta forma “profissional” não escolhe equipe, não raras vezes atua contra a nossa meta.
Há uma falácia com relação à Copa de que tais recursos dividiriam o “Mar Vermelho” que existe entre a Saúde e a Educação que o Brasil dispõe e a dos sonhos que nossos incansáveis “guerreiros do arco-íris” esperavam conseguir com o montante de recursos aplicados nas obras do Mundial, muitos totalmente desinformados pensam que o Governo Federal está gastando valores muito acima daqueles investidos em Educação e Saúde e pregam uma Educação e Saúde padrão FIFA, tais valores acrescidos ao orçamento de tais Ministérios certamente contribuiriam, mas, não teriam o impacto esperado pelos opositores ao mundial, pois, o investimento em Educação e Saúde desde 2010 segundo Carta Maior foi de R$ 850 bilhões e o investimento público total no mundial é de R$ 25 bilhões. Como os recursos já foram investidos e o mundial já está para começar agir contra a Copa é fazer gol contra e sabotar o país. Assim, sugiro que abandonem essa bobagem de Educação e Saúde Padrão FIFA, pois, não teríamos nenhuma condição de trabalho se o orçamento fosse tão drasticamente reduzido, lembrando que as obras de mobilidade urbana serão legado da Copa e os recursos dos Estádios são em grande parte empréstimos que serão devolvidos ao BNDES. Dessa forma, sugiro que torçam pelo Brasil, pois, o Brasil perdeu as Copas de 66, 74, 78 e 82 e mesmo assim a Ditadura Militar não caiu, e, FHC que viu o Brasil trazer o caneco de 2002 não conseguiu fazer o sucessor. Então dentro do campo ou fora dele que o Fair Play seja a regra. Boa Copa para todos e todas!
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