Começo esse artigo com a seguinte pergunta: Você sabe quem é Mikhail Timofeievich Kalachnikov? Se você homem ou mulher for alguém interessado(a) em História ou Geopolítica certamente sabe de quem se trata. Kalachnikov é o nome russo mais pronunciado nos cinco continentes. Trata-se de um inventor cuja criação apesar de mundialmente famosa por sua excelente qualidade e produzida aos milhões não lhe rendeu fortuna alguma. Kalachnikov nasceu em 1919 em plena guerra civil russa, sua mãe teve 18 filhos, dos quais apenas 8 sobreviveram. Em 1930 ocorre a “deskulakização” efetivada pelo regime Stalinista russo e “Micha” como era conhecido, aos 11 anos, por ser filho de kulaks (camponeses proprietários de grandes áreas de terras) é enviado junto com sua família para a Sibéria russa, onde seu pai vem mais tarde a falecer no trabalho exaustivo na área de clima severo que lhe foi destinada, tornando ainda maiores as dificuldades da família.
Kalachnikov ainda garoto encontra uma pistola alemã enferrujada e a desmonta para verificar a forma de funcionamento e busca fazê-la funcionar novamente, nesse momento o jovem Micha acaba de descobrir sua vocação e mais tarde alista-se para o exército soviético e serve na Segunda Guerra Mundial como mecânico de tanques de guerra e propõe melhoramentos no sistema de armas destes. Ferido em combate, escapa por pouco de uma volante alemã que dizima seus colegas os quais também estavam sendo transportados para o hospital de campanha. Torna-se conhecido de seus oficiais por seu talento na manutenção e melhoramento de armas, dessa forma, recebe autorização para dedicar-se à invenção de novas armas para a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. É enviado para uma fábrica nos arredores de Moscou e passa a receber um salário diferenciado que era dado aos cientistas e aos engenheiros que desenvolviam importantes projetos para o país, mesmo assim baixo se comparado aos padrões capitalistas, mas superior à média do povo russo, e, com direito a um apartamento de dois quartos próximo ao local de trabalho. Casa-se com uma funcionária da fábrica que à época era mãe solteira e que será sua companheira por toda a vida.
Micha participa de vários concursos para a modernização do armamento das tropas do Exército Vermelho, e, antes do sucesso, experimentou por diversas vezes o fracasso, pois havia a concorrência de vários projetistas russos geniais. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Governo Soviético abre um concurso para a confecção de um fuzil de assalto automático, que tivesse como características a leveza, a praticidade na manutenção e alta confiabilidade. Micha após estudar várias armas similares de outras nacionalidades, desenvolve uma arma com soluções inovadoras e cria aquela que foi e é considerada a arma de guerra “à prova de soldado”, pois é praticamente indestrutível, à prova de lama, de água, de areia, com número de peças reduzidas, de montagem simplificada e altamente confiável, ganhou o concurso e se tornou o fuzil de assalto mais confiável do mundo e também o mais produzido: o AK-47 (Automática Kalachnikov -1947).
Kalachnivov depois desenvolveu várias outras armas e inclusive um fuzil de assalto ainda melhor que o AK-47, embora este seja o mais famoso de seus inventos, pois muitos da primeira geração ainda hoje são utilizados, mesmo com mais de 50 anos.
Micha não ficou milionário, pois o que produzia pertencia à pátria russa, porém, se tornou o soviético (russo) mais condecorado da história e afirmou que criou suas armas para defender a liberdade do país, mas que sua invenção ganhou vida própria e não mais depende dele. Ficou indignado quando viu sua invenção nas mãos de Osama Bin Laden e outros terroristas, mas que entende que os terroristas também buscam uma arma confiável e por isso a escolheram. O AK-47 juntamente com a televisão, o antibiótico e o sutiã foram considerados por uma pesquisa francesa como objetos de destaque do século XX.
Para quem quiser saber mais sobre este brilhante camarada e os “bastidores” de sua invenção da Ex-URSS à Rússia atual fica a dica.
KALACHNIKOV, M. & JOLY, E. RAJADAS DA HISTÓRIA. O Fuzil AK-47 da Rússia de Stálin até hoje. 2003, Jorge Zahar Editor.
